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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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conhecimento — dizia — não nos vem <strong>de</strong> nenhum esforço especulativo. Nos vem <strong>de</strong><br />

ser, <strong>de</strong> ser o que somos".<br />

Essa teoria do conhecimento estava baseada numa concepção metafísica própria.<br />

Jackson <strong>de</strong> Figueiredo chamava-se a si mesmo <strong>de</strong> neokantiano. E seu neokantismo consistia<br />

em aceitar a divisão da realida<strong>de</strong> em "númeno e fenômenos", porém dava a esses<br />

conceitos características que o filiavam mais que à filosofia <strong>de</strong> Kant ao panteísmo <strong>de</strong><br />

emanação que professavam os discípulos <strong>de</strong> Plotino.<br />

O "númeno" para Jackson <strong>de</strong> Figueiredo era "Deus, em si mesmo, impossível <strong>de</strong><br />

ser conhecido, mas <strong>de</strong>ixando-se pressentir".<br />

Os "fenômenos" — isto é, a natureza, o mundo orgânico e inorgânico, o mundo<br />

da consciência e do humano — eram <strong>de</strong>rivações do "númeno". Os fenômenos eram parte<br />

do divino que haviam <strong>de</strong>caído, que se tinham <strong>de</strong>gradado e que aspiravam a voltar<br />

para Deus.<br />

Jackson <strong>de</strong> Figueiredo não aduzia qualquer prova em favor <strong>de</strong>ssas concepções,<br />

mas, sem dúvida, chegou a elas influenciado pela Bíblia. Jackson <strong>de</strong> Figueiredo se interessava<br />

muito pelo dogma da queda do homem, do pecado original, que, segundo a Bíblia,<br />

reduziu a humanida<strong>de</strong> à miséria privando-a da perfeição que Deus lhe <strong>de</strong>u ao criála.<br />

Essa concepção da queda foi transferida por ele à metafísica e, assim, o mundo apresentava-se-lhe<br />

<strong>de</strong> um lado como uma realida<strong>de</strong> perfeita, Deus, e <strong>de</strong> outro, como um conjunto<br />

<strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>gradadas e imperfeitas que, <strong>de</strong>sprendidas daquela, aspiravam a<br />

retornar ao seu primitivo estado e que avançavam nesse sentido.<br />

Por isso, Jackson <strong>de</strong> Figueiredo, nessa fase do seu pensamento, aceitava o evolucionismo.<br />

Porém não um evolucionismo naturalista, sem finalida<strong>de</strong> superior, mas como<br />

um processo universal dirigido para a "absorção do espírito imperfeito e da matéria,<br />

pelo espírito divino, pela coisa em si".<br />

Em conseqüência, os fenômenos, isto é, as coisas da natureza e o homem, estavam<br />

em constante agitação, incapazes <strong>de</strong> equilíbrio, aspirando a sair da imperfeição. Por<br />

isso, acreditava que a essência das coisas e da vida era a dor. No seu pessimismo, chegava<br />

a dizer o seguinte: "Talvez o universo seja uma dor eterna e infinita, da qual somos<br />

parcelas mais ou menos conscientes".<br />

A dor era para Jackson <strong>de</strong> Figueiredo a manifestação do divino que existe <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> nós, que aspira a reintegrar-se a Deus e que não po<strong>de</strong> fazê-lo. A dor era para ele o<br />

que havia <strong>de</strong> mais puro no homem, porque constituía o caminho da libertação <strong>de</strong> sua<br />

miséria.<br />

Por isto dizia: "A maior filosofia seria para mim um tratado da dor, livre, <strong>de</strong><br />

formulazinhas científicas, aquele em que o filósofo <strong>de</strong>monstrasse a mais dolorosa experiência,<br />

mostrasse a consciência ignorada do <strong>de</strong>lírio, a consciência ignorada do moribundo,<br />

a consciência ignorada do <strong>de</strong>golado, a consciência ignorada do terror, isto ao<br />

mesmo tempo que o que se sabe dos lados mais comuns <strong>de</strong>sta tragédia em que nos <strong>de</strong>batemos".<br />

O conhecimento da realida<strong>de</strong> divina que existe em nós e da qual a dor é uma<br />

manifestação, constituía para Jackson <strong>de</strong> Figueiredo a origem da fé. A fé não era por<br />

isso produto <strong>de</strong> um raciocínio nem <strong>de</strong> especulação alguma. Era uma afirmação da totalida<strong>de</strong><br />

do nosso ser. Acreditamos porque existimos. "A fé — dizia Jackson <strong>de</strong> Figueiredo<br />

— é individual, longínqua e quieta nas profun<strong>de</strong>zas do ser". A fé é a base <strong>de</strong> todo conhecimento.<br />

Sem ela não po<strong>de</strong>ríamos compreen<strong>de</strong>r nada. "A alma tem como modo <strong>de</strong><br />

viver a fé".<br />

Os racionalistas, portanto, estavam enganados ao imaginar que a razão produzia<br />

em nós o conhecimento. A razão não fazia senão explicar e aplicar na ação aquilo que a<br />

fé nos tinha dado já como antece<strong>de</strong>nte. "A razão construiu sobre os alicerces da fé".<br />

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