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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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gran<strong>de</strong>s transformações necessitavam. Como disse Miguel Lemos: "Preocupados sobre<br />

tudo com a reação política da ciência, saciaram no positivismo o ardor cívico que em<br />

vão procuravam satisfazer nas <strong>de</strong>clamações revolucionárias".<br />

A difusão da doutrina trouxe o rompimento, tal como já havia acontecido na<br />

França, dando origem a um verda<strong>de</strong>iro cisma. Os positivistas mais entusiastas, em sua<br />

quase totalida<strong>de</strong>, pertencentes à Escola Militar, <strong>de</strong>fendiam as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Comte em sua<br />

totalida<strong>de</strong>, isto é, tanto as suas teorias filosóficas quanto as suas concepções sobre a<br />

Religião da Humanida<strong>de</strong>. Contudo havia os que concordando com Littré consi<strong>de</strong>ravam<br />

a religião comtista como uma aberração que o verda<strong>de</strong>iro positivismo não <strong>de</strong>via aceitar.<br />

Miguel Lemos, inicialmente, era <strong>de</strong>sse último grupo. Num folheto que publicou<br />

em 1877, sob o título <strong>de</strong> "Pequenos Ensaios Positivistas" dizia que o comtismo puro era<br />

uma nova teologia, com um conjunto <strong>de</strong> crenças e com um cerimonial <strong>de</strong> culto e exortava<br />

à juventu<strong>de</strong> a seguir os ensinamentos <strong>de</strong> Littré, evitando "a fascinação angelical do<br />

rosto <strong>de</strong> Clotil<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vaux, a Santa Senhora da nova religião e as narrativas entusiastas<br />

<strong>de</strong> Robinet, o evangelista da Igreja <strong>de</strong> Comte".<br />

Miguel Lemos tinha um temperamento romântico. Em verda<strong>de</strong>, o que buscava<br />

no positivismo era um evangelho e acreditava encontrar em Littré seu profeta. Em 1879<br />

viajou à França e conheceu, pessoalmente Littré, sofrendo a maior <strong>de</strong>silusão. Tinha imaginado<br />

encontrar um apóstolo, um visionário que o abraçasse no fogo <strong>de</strong> uma crença<br />

e encontrou-se com um intelectual severo, indiferente a tudo que não fosse a verda<strong>de</strong>.<br />

"Littré, dizia Miguel Lemos, não era um chefe <strong>de</strong> escola, ar<strong>de</strong>nte, incansável em promover<br />

a regeneração universal pregada pelo mestre, mas um erudito árido, isolado no<br />

seu gabinete, sem nenhuma ação social." Assim, facilmente <strong>de</strong>u ouvidos a todas as acusações<br />

que os seguidores <strong>de</strong> Comte faziam circular contra Littré, em Paris, e converteuse<br />

ao comtismo ortodoxo.<br />

Desta forma explicava a própria conversão: "Há já muito tempo que eu sinto um<br />

vazio que o littreismo não conseguia terminar; às vezes a <strong>de</strong>sesperação estava a ponto<br />

<strong>de</strong> dilacerar-me o coração, quando contemplava esse abismo que continuava aberto entre<br />

a ciência e o sentimento."<br />

No culto à Humanida<strong>de</strong>, representada por Clotil<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vaux, encontrou o remédio<br />

para essas insatisfações do seu espírito.<br />

Lemos regressou ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, converteu também Teixeira Men<strong>de</strong>s, outro<br />

gran<strong>de</strong> apóstolo no comtismo brasileiro, e com ele fundou em 1881 a Igreja Positivista<br />

Brasileira, sendo <strong>de</strong>signado seu chefe.<br />

Sob a direção entusiasta e fervorosa <strong>de</strong> Miguel Lemos, o positivismo foi superando<br />

rapidamente seu caráter puramente filosófico para converter-se numa associação<br />

religiosa. O próprio Miguel Lemos <strong>de</strong>clarava em 1881: "A Socieda<strong>de</strong> Positivista não é<br />

uma socieda<strong>de</strong> literária ou uma aca<strong>de</strong>mia científica. Somos uma Igreja."<br />

Pouco <strong>de</strong>pois os positivistas começaram a intervir nas ativida<strong>de</strong>s políticas do país<br />

e, apesar <strong>de</strong> constituírem um pequeno grupo, sem raízes na gran<strong>de</strong> maioria da opinião<br />

pública, chegaram a ter influência dada sua vinculação com o partido militar que, em<br />

conflito com o Imperador, era então uma po<strong>de</strong>rosa força política.<br />

Quando o partido militar <strong>de</strong>stronou a Dom Pedro II e criou a República, em<br />

1889, os positivistas propuseram as soluções que julgavam importantes para a organização<br />

republicana do país, segundo os ensinamentos <strong>de</strong> Augusto Comte. Os principais<br />

pontos do programa que então apresentaram eram os seguintes: "Nossa Constituição<br />

<strong>de</strong>veria combinar o princípio da mais absoluta liberda<strong>de</strong> com o princípio <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>.<br />

Tal combinação seria assegurada da seguinte maneira: a) perpetuida<strong>de</strong> da função ditatorial,<br />

acumulando o po<strong>de</strong>r executivo, estando nele incluídos os po<strong>de</strong>res judiciário e legislativo<br />

e transmissão do po<strong>de</strong>r a um sucessor livremente escolhido pelo ditador, sob a<br />

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