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Filósofos Brasileiros - Curso Independente de Filosofia

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O povo e a socieda<strong>de</strong> quase não participaram do acontecimento provocado pelo<br />

her<strong>de</strong>iro do trono <strong>de</strong> Portugal e seus perspicazes conselheiros. Assim é que a in<strong>de</strong>pendência<br />

do Brasil não produziu nenhuma transformação radical das instituições. O Império<br />

continuou as tradições coloniais sem qualquer mudança importante, livrando <strong>de</strong>sse<br />

modo o Brasil das convulsões políticas que agitaram terrivelmente as repúblicas latinoamericanas<br />

durante o século XIX.<br />

As i<strong>de</strong>ias enciclopedistas, como é sabido, foram <strong>de</strong>finitivamente vencidas pelo<br />

gran<strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> reação que se iniciou na Europa, no começo do século XIX, e que<br />

abrangeu não só a política mas também a religião e a filosofia.<br />

No terreno político a reação provocou essa onda <strong>de</strong> absolutismos que na América<br />

do Sul teve posteriores manifestações nas tiranias <strong>de</strong> Solano Lopez, Rosas, Melgarejo<br />

e outros ditadores que governaram em meados do século passado.<br />

No campo religioso a reação se encarnou em Chateaubriand, Bonald, De Maistre,<br />

Lammenais, que tiveram imensa ascendência, <strong>de</strong>struindo em toda parte as vagas<br />

concepções religiosas que foram seguidas no século XVIII e proclamando a mais rigorosa<br />

ortodoxia católica. Sob sua influência o pensamento <strong>de</strong> uma parte das elites brasileiras,<br />

que tinha sido atraído pelo enciclopedismo, facilmente retornou aos mol<strong>de</strong>s tradicionais.<br />

O movimento não foi tão absoluto, no tocante à filosofia propriamente dita, porque<br />

o pensamento do século XIX não pô<strong>de</strong> renunciar completamente à filosofia sensualista<br />

que havia começado a difundir-se a partir do final do século XVIII. Entretanto como<br />

a filosofia <strong>de</strong> Condillac, por um lado conduzia ao materialismo e, por outro levava<br />

ao espiritualismo, o movimento reacionário na filosofia <strong>de</strong>terminou o apogeu <strong>de</strong>ssa última<br />

tendência, na filosofia eclética <strong>de</strong> Cousin.<br />

O ecletismo propagou-se no Brasil e, com o mesmo vigor, em toda América Latina.<br />

Pertenciam ao ecletismo os primeiros filósofos brasileiros <strong>de</strong> real significação,<br />

sendo o padre Francisco Mont’Alverne o mais ilustre <strong>de</strong> todos.<br />

A glória dos oradores muitas vezes é tão frágil quanto a dos tenores. A eloqüência,<br />

o milagre que o discurso realiza, usando muitas vezes <strong>de</strong> recursos teatrais, passa a<br />

ser lembrado apenas pelos que participaram do auditório. Sem a magia da voz extinguese<br />

a emoção. Nem a reprodução textual das palavras, nem a repetição das i<strong>de</strong>ias po<strong>de</strong>m<br />

reproduzir os prodígios da emoção que, uma vez extinta, será apenas lembrada pelos<br />

que a pu<strong>de</strong>ram sentir e <strong>de</strong>la se recordam.<br />

Mont’Alverne <strong>de</strong>ixou dois volumes <strong>de</strong> obras oratórias. Os críticos brasileiros são<br />

unânimes em consi<strong>de</strong>rar fatigante a leitura dos seus longos períodos sonoros encerrados<br />

neles.<br />

Entretanto Ramiz Galvão conta que "o povo, em massa corria para ouvi-lo, como<br />

a um enviado do céu", e que entre os que o aplaudiam estava sempre o que <strong>de</strong> mais<br />

representativo existia, do ponto <strong>de</strong> vista cultural, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Por sua vez Gonçalves<br />

<strong>de</strong> Magalhães, em sua sintética biografia <strong>de</strong> Mont’Alverne, relata: "Assisti aos<br />

seus mais belos triunfos oratórios; senti essa comoção elétrica que se propagava por<br />

todo o auditório pasmado pela sua voz portentosa". Mais adiante acrescenta: "A voz<br />

tempestuosa <strong>de</strong> Mont’Alverne ressoa ainda nos meus ouvidos porque fazia vibrar todas<br />

as cordas do coração". Como todos os oradores do seu tempo, Mont’Alverne era grandiloqüente<br />

e apresentava suas i<strong>de</strong>ias com imagens brilhantes, muitas vezes exageradas.<br />

Para aumentar o efeito dos seus discursos, ele os <strong>de</strong>clamava teatralmente. No púlpito o<br />

seu rosto <strong>de</strong>scarnado e pálido, sua gran<strong>de</strong> estatura, seus olhos escuros on<strong>de</strong> ardiam<br />

chamas <strong>de</strong> entusiasmo e a firmeza da fé, os movimentos amplos e solenes dos braços, a<br />

voz vigorosa e <strong>de</strong> timbre áspero impressionavam vivamente.<br />

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