O jornalismo em O tempo eo vento
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narrativas propriamente ditas, ele apenas sugere os e<strong>vento</strong>s também <strong>em</strong> desord<strong>em</strong>,<br />
pois as relações <strong>em</strong>ocionais de cada personag<strong>em</strong>-suporte destes irão vinculá-los<br />
naturalmente.<br />
Nos anos de 1920, conforme apresentado no Capítulo 2, a circulação de jornais<br />
começava a aumentar pelo interior do Estado. Cada vez mais, portanto, as publicações<br />
impressas ganhavam importância do ponto de vista da doutrinação id<strong>eo</strong>lógica, do<br />
convencimento pela repetição de uma mesma retórica identificada com os grupos dominantes.<br />
Num estudo de Ligia Chiappini, 196 ela percebe nos discursos de escritores e críticos da<br />
corrente regionalista gaúcha – os mesmos que escreviam nos jornais – a tentativa de “fazer<br />
ressurgir o mito do gaúcho-herói, <strong>em</strong> proveito da propaganda partidária.” Em O T<strong>em</strong>po e o<br />
Vento, Erico Verissimo também não escapa a uma glamourização da figura do gaúcho. A<br />
partir do momento <strong>em</strong> que são as notícias dos jornais que conduz<strong>em</strong> os movimentos das<br />
revoluções e seus fatores antecedentes, criando seus heróis e diminuindo outros, o autor<br />
reafirma muitas vezes alguns valores mitológicos do gaúcho que passaram a ser vistos como<br />
verdade histórica. Ex<strong>em</strong>plo disso é a mitificação <strong>em</strong> torno dos personagens Capitão Rodrigo e<br />
Ana Terra, que, com ajuda do cin<strong>em</strong>a, passaram ao imaginário popular como sinônimos de<br />
uma legitimidade do sujeito gaúcho.<br />
A ótica jornalística, nos episódios pesquisados do romance, <strong>em</strong> geral não está com<br />
os agentes do conflito, mas sim com os espectadores, que assist<strong>em</strong> a tudo no conforto da casa.<br />
Rodrigo t<strong>em</strong> sua chance de pegar <strong>em</strong> armas e mostrar que herdou a hombridade do avô na<br />
Revolução de 1923. No entanto, a coluna revolucionária – na verdade liderada pelo pai – se<br />
desloca s<strong>em</strong> parar de um lugar a outro, fugindo dos combates porque não t<strong>em</strong> armas parra<br />
enfrentar o inimigo. 197 Pouco depois, Rodrigo acompanha os rumos da revolta pelas páginas<br />
dos jornais e, num misto de orgulho e inveja, tenta imaginar por onde andará o irmão Toríbio,<br />
que segue a coluna revolucionária de Luís Carlos Prestes. Cada informação que chega do<br />
irmão, por mais r<strong>em</strong>ota que seja, está s<strong>em</strong>pre recheada de aventuras e fatos fantasiosos.<br />
Toríbio encarna neste momento o mito do gaúcho herói que sai do Rio Grande do Sul para<br />
conquistar o Brasil, uma alegoria perfeita do gaúcho “idealizado” pela historiografia e pela<br />
196 CHIAPPINI, Ligia. Regionalismo e Modernismo (O “Caso” Gaúcho). São Paulo: Ática, 1978, p. 172.<br />
197 O Arquipélago I. Op. cit., p. 275. O A Voz da Serra publica: “A famigerada Coluna Revolucionária de Santa<br />
Fé, comandada pelo conhecido mazorqueiro Licurgo Cambará, com seus bandidos armados de lanças de pau,<br />
armas descalibradas, espadas enferrujadas, anda correndo pelos campos do interior do nosso município,<br />
carneando gado alheio, roubando estâncias e casas de comércio, desrespeitando mulheres e espancando velhos<br />
indefesos. Os bandoleiros assisistas recusam combate e fog<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre à aproximação da vanguarda da coluna<br />
republicana do bravo Cel. Laco Madruga, baluarte do borgismo na Região Serrana. Quanto t<strong>em</strong>po durará<br />
ainda esta comédia?”