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O jornalismo em O tempo eo vento

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fechados. Em O T<strong>em</strong>po e o Vento essa postura da imprensa é captada pelo autor e<br />

representada enquanto “arma” eficaz de divulgação e convencimento de idéias. Nas palavras<br />

dos personagens:<br />

Rodrigo encarou o pai:<br />

– Por essa e por outras é que precisamos ter o nosso jornal.<br />

Depois dum instante de reflexão, Licurgo deu uma resposta evasiva:<br />

– Me contaram que os federalistas vão fundar um jornal <strong>em</strong> Cruz Alta pra fazer<br />

propaganda da candidatura do Dr. Rui Barbosa...<br />

– Como este mundo dá voltas! – riu Toríbio. – O senhor vai votar no candidato<br />

dos maragatos, hein, papai? (O RETRATO I, p. 85)<br />

No entanto, o papel de A Voz da Serra <strong>em</strong> O T<strong>em</strong>po e o Vento não se resume a ser<br />

exclusivamente uma bandeira da causa republicana. Em vários momentos do romance o<br />

narrador utiliza o jornal para reproduzir acontecimentos históricos pinçados da realidade ou<br />

para descrever e situar a sociedade santa-fezense no cenário rio-grandense e brasileiro. Essa<br />

função do jornal como um espelho social de Santa Fé aparece com força <strong>em</strong> “Chantecler”,<br />

quando o narrador diz que “o cronista social d’A Voz da Serra usava todos os anos da mesma<br />

chapa para descrever os réveillons de 31 de dez<strong>em</strong>bro” (p. 130-132). A partir desta<br />

introdução, segue uma descrição detalhada do baile de gala do Clube Comercial, com<br />

informações sobre a fundação do clube e seus principais freqüentadores. Neste fragmento o<br />

narrador aproveita-se do conteúdo do artigo, que começava com “nos seus salões iluminados<br />

feericamente reuniu-se o que nossa cidade t<strong>em</strong> de mais fino e representativo”, para descrever<br />

como era constituída a elite social de Santa Fé, dividida entre os fazendeiros do patriarcado<br />

rural e os comerciantes mais fortes da cidade. Sabe-se a partir deste trecho como os<br />

representantes dessa elite se comportavam <strong>em</strong> relação à política, como valorizavam o<br />

patrimônio moral e a tradição, como educavam seus filhos e como era a sua relação com as<br />

letras e o capital.<br />

Em todo o trecho narrado, o autor tenta estabelecer um contraponto entre a retórica<br />

do texto jornalístico, publicado <strong>em</strong> A Voz da Serra naquela crônica de final de ano, e a<br />

“realidade” da sociedade de Santa Fé. O cronista costumava falar da nata da sociedade que<br />

fazia parte do Clube, das deslumbrantes jóias que as damas abrilhantavam no réveillon e<br />

enumerava algumas das “famílias tradicionais da nossa comuna”. O narrador, por sua vez,<br />

l<strong>em</strong>bra que a diretoria havia “afrouxado um pouco o crivo por onde ordinariamente fazia<br />

passar os que se candidatavam ao seu quadro social” e que as mulheres pobres do lugar não<br />

tinham dinheiro para comprar tais adereços. Classifica, ainda, as faixas <strong>em</strong> que se dividiam as<br />

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