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O jornalismo em O tempo eo vento

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apresentar-se de modo fixo, mas volta e meia confundindo e probl<strong>em</strong>atizando os<br />

pólos opostos numa tensão ambígua e, por isso mesmo, crítica.<br />

Esse confronto entre campo e cidade, dentro de um processo de modernização das<br />

organizações sociais na República Velha, é acompanhado pelos jornais no romance. Como<br />

documentos que afer<strong>em</strong> veracidade à estória e à História narradas, além de reforçar<strong>em</strong> as<br />

posições id<strong>eo</strong>lógicas dos personagens, os jornais Correio do Povo, Correio da Manhã, A<br />

Federação, Diário de Notícias, Diário do Interior, Última Hora e Correio do Sul, mais a<br />

revista francesa L’Illustration e os fictícios A Voz da Serra, O Arauto, O D<strong>em</strong>ocrata e O<br />

Libertador, funcionam também como uma espécie de ponte para os habitantes de Santa Fé,<br />

que viv<strong>em</strong> no campo e sent<strong>em</strong> os efeitos do processo de modernização nas grandes capitais.<br />

Através deles, os personagens interag<strong>em</strong> e passam a fazer parte das modificações sociais e<br />

históricas que estão <strong>em</strong> curso no Brasil e no Rio Grande do Sul. Neste período que a pesquisa<br />

abrange, o Brasil passa do regime monárquico para o republicano, os habitantes enfrentam<br />

duas guerras civis, os efeitos de uma guerra mundial e fortes crises na política e na economia,<br />

além de participar<strong>em</strong> do início de uma revolução silenciosa – industrial e capitalista – na<br />

forma de êxodo <strong>em</strong> direção aos grandes centros urbanos, processo este que afeta diretamente<br />

os moradores do campo.<br />

Os leitores dos jornais representados <strong>em</strong> O T<strong>em</strong>po e o Vento têm interesses<br />

divergentes, como escreveu Maria da Glória Bordini (1995, p. 226). Pelas páginas do jornal<br />

os homens se informam das notícias políticas e as mulheres, nos folhetins, aprend<strong>em</strong> o<br />

vocabulário da prosa romântica para aplicá-lo à conduta social. Dessa forma, a leitura como<br />

hábito <strong>em</strong> Santa Fé é s<strong>em</strong>pre utilitária e não está relacionada ao simples prazer de ler. Para<br />

Maria da Glória, essa postura reflete a mentalidade pragmática do gaúcho guerreiro, “para<br />

qu<strong>em</strong> as idéias só se justificam na prática, seja ela a do cotidiano ou a da política”. A exceção<br />

a essa divisão de comportamentos, indicada por Bordini, ocorre, no entanto, quando os<br />

homens sa<strong>em</strong> para participar das revoluções e as esposas e filhas ficam <strong>em</strong> casa, tomando<br />

conhecimento pelos jornais sobre o andamento dos conflitos. Quando isso acontece, elas<br />

voltam o seu interesse para o aspecto informativo dos periódicos. O trecho a seguir<br />

ex<strong>em</strong>plifica essa situação comum no romance:<br />

Os jornais <strong>em</strong> geral chegavam ao Sobrado às duas da tarde, trazidos por Dante<br />

Camerino, que ia buscá-los na estação. Processava-se então ali na sala de jantar todo<br />

um cerimonial. Maria Valéria sentava-se na sua cadeira, traçava o xale, acavalava os<br />

óculos no nariz, abria o Correio do Sul, lendo primeiro o editorial e depois as<br />

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