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O jornalismo em O tempo eo vento

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omance de Erico Verissimo. Entretanto, a presença da imprensa não se resume às questões<br />

id<strong>eo</strong>lógicas do ponto de vista político. A leitura que os personagens faz<strong>em</strong> dessas informações<br />

introduzidas na narrativa colocam <strong>em</strong> lados opostos os el<strong>em</strong>entos pró e contra os aspectos de<br />

uma sociedade <strong>em</strong> transformação.<br />

A representação do campo e da cidade na obra do escritor Erico Verissimo já<br />

resultou <strong>em</strong> diversas pesquisas e valiosos estudos para a formação da fortuna crítica do<br />

autor. 28 No entanto, muitos dos trabalhos publicados sob essa perspectiva estão relacionados<br />

aos primeiros livros do autor, os chamados “romances urbanos”, começando por Clarissa<br />

(1933) até O Resto é Silêncio (1943). O interesse dos pesquisadores por esses romances pode<br />

estar no fato de que as narrativas são ambientadas <strong>em</strong> Porto Alegre e fornec<strong>em</strong> muito mais<br />

subsídios para uma pesquisa que objetiva relacionar literatura e cidade moderna. É nesse<br />

período que se estende dos anos 1920 à primeira metade dos anos 1940 que se concentram, na<br />

capital gaúcha, as principais mudanças típicas de uma cidade pequena a caminho de se tornar<br />

uma metrópole. 29<br />

Mas essa representação também se manifesta, mesmo que com t<strong>em</strong>áticas<br />

diferentes – por vezes menos evidentes –, nos livros da segunda fase produtiva de Erico<br />

Verissimo. A presença de el<strong>em</strong>entos “modernos” da cidade <strong>em</strong> contraponto ao “atraso” do<br />

campo, assim como a questão da regionalidade sulina na obra do escritor, também aparec<strong>em</strong><br />

de forma marcante <strong>em</strong> O T<strong>em</strong>po e o Vento, conforme aponta Ligia Chiappini no ensaio<br />

Campo e Cidade no Retrato. 30 Para Ligia, nesse romance existe um diálogo permanente entre<br />

o Rio Grande do Sul rural e patriarcal com o Rio Grande do Sul urbano e burguês. Uma<br />

relação conflitante que surge através de forças contrárias exercidas pelos personagens no<br />

universo da narrativa ficcional.<br />

O confronto cidade e campo, novo e velho, civilização e barbárie, cultura e<br />

natureza, atraso e progresso percorre o livro todo e se expressa seja na descrição do<br />

espaço, seja no comportamento e caracterização dos personagens, expandindo-se da<br />

primeira oposição entre o Angico e Santa Fé, a casa da estância e o Sobrado, para<br />

Santa Fé e Porto Alegre, Porto Alegre e Rio de Janeiro, Rio de Janeiro e Paris, s<strong>em</strong><br />

28 Entre os principais, pode-se destacar GUIMARÃES, Josué (org.). A Porto Alegre de Erico. Porto Alegre:<br />

Globo, 1984; e BORDINI, Maria da Glória. Porto Alegre na literatura de Erico. In: FLORES, Hilda Agnes<br />

Hübner (org.). Porto Alegre: história e cultura. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1987.<br />

29 CRUZ, Cláudio. Literatura e cidade moderna: Porto Alegre 1935.Porto Alegre: EDIPUCRS/IEL, 1994, p. 20.<br />

Segundo o autor, a representação dessas transformações na literatura sulina, <strong>em</strong> especial na forma romanesca,<br />

t<strong>em</strong> 1935 como ano-chave. Nesse ano são publicados os livros Caminhos Cruzados, de Erico Verissimo, Os<br />

Ratos, de Dyonélio Machado, e A ronda dos anjos sensuais, de Reynaldo Moura.<br />

30 Campo e Cidade no Retrato. In. PESAVENTO, Sandra Jatahy et al. Erico Verissimo: o romance da história.<br />

Op. cit., p. 112.<br />

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