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O jornalismo em O tempo eo vento

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Santa Fé e volta a exercitar a escrita jornalística. “Seus artigos apareciam no Correio do<br />

Povo” (O ARQUIPÉLAGO II, p. 513), diz o narrador, que mais uma vez desqualifica os reais<br />

conhecimentos culturais do personag<strong>em</strong>. Como nesse fragmento:<br />

Lia muitos livros, <strong>em</strong> geral de maneira incompleta, mas apesar disso discutia -os<br />

com os amigos, como se tivesse penetrado neles profundamente. Apanhava no ar<br />

coisas que outros diziam e depois, com imaginação e audácia, dava-lhes novas<br />

roupagens e usava-as como suas na primeira oportunidade.<br />

O compl<strong>em</strong>ento dessa avaliação de caráter de Rodrigo Cambará enquanto<br />

intelectual – médico, político, jornalista e comerciante – é feito por Roque Bandeira, que faz<br />

uma interessante e definitiva leitura do perfil social do amigo:<br />

Roque Bandeira, que observava o amigo com olho terno mas lúcido, costumava<br />

dizer <strong>em</strong> segredo a Stein que Rodrigo possuía a melhor ‘cultura de oitiva’ de que ele<br />

tinha notícia. De resto, não seria esse um hábito b<strong>em</strong> brasileiro? O que havia entre<br />

nossos escritores, artistas e políticos – afirmava – não era propriamente cultura, mas<br />

um tênue verniz de ilustração. O brasileiro jamais tinha corag<strong>em</strong> de dizer ‘não sei’.<br />

Em caso de dúvida, respondia com um ‘depende’, que não só o livraria da<br />

necessidade de confessar a própria ignorância como também olhe dava t<strong>em</strong>po para<br />

achar uma saída. (O ARQUIPÉLAGO II, p. 513)<br />

Em 1930, Rodrigo Cambará e Amintas Camacho estão do mesmo lado. A união<br />

dos inimigos, que se enfrentavam pelas páginas dos jornais e até fisicamente desde 1910,<br />

acontece por ocasião do assassinato de João Pessoa, que acende mais uma vez a fogueira da<br />

revolução no Rio Grande do Sul. Neste momento da história, republicanos e libertadores<br />

defend<strong>em</strong> a mesma causa, a deposição de Washington Luis e o golpe que leva Getúlio Vargas<br />

ao mais alto posto da nação. A situação não parece nada agradável a Rodrigo, que se irrita<br />

com a pose de intelectual de Camacho e mais tarde, sozinho, pensa <strong>em</strong> como “os inimigos de<br />

ont<strong>em</strong> estavam de braços dados, lenços brancos, verdes e vermelhos amarrados num nó de<br />

amizade” (O ARQUIPÉLAGO III, p. 638).<br />

Apesar de ultrapassar o período que delimita esta pesquisa, vale registrar o<br />

pensamento da personag<strong>em</strong> Silvia, a nora de Rodrigo Cambará. Em seu diário ela recorda de<br />

um fato ocorrido <strong>em</strong> 1932 e que fora publicado no A Voz da Serra. O relato se mostra<br />

importante porque é o único <strong>em</strong> todo o romance que faz uma análise, mesmo que parcial, das<br />

desenho das ilustrações dos contos e das anedotas. Mas como aquelas publicações eram diferentes, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

de L’Illustration! Faltava às revistas do país do Rev. Dobson um certo cachet, um certo peso, uma certa graça<br />

que não dependiam da qualidade do papel n<strong>em</strong> da riqueza de cores das gravuras, mas de algo mais profundo,<br />

algo que v<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>po, da experiência, da tradição, <strong>em</strong> suma: da cultura.”<br />

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