O jornalismo em O tempo eo vento
O jornalismo em O tempo eo vento
O jornalismo em O tempo eo vento
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Globo e inventava histórias para programas infantis de rádio. “Considero essa fase de minha<br />
carreira um período de exercícios <strong>em</strong> que me preparei, consciente ou inconscient<strong>em</strong>ente, para<br />
a obra com que comecei a sonhar depois de 1935 e que acabou sendo publicada a partir de<br />
1949 sob o título geral de O T<strong>em</strong>po e o Vento” (BORDINI, 1999, p. 166).<br />
Embora jamais tenha exercido o <strong>jornalismo</strong> <strong>em</strong> caráter profissional, o escritor<br />
dirigiu a Revista do Globo e foi o primeiro a presidir a Associação Rio-grandense de<br />
Imprensa. No Correio do Povo, depois de ter alguns de seus contos publicados, v<strong>em</strong> mais<br />
tarde a assumir a edição de uma “página f<strong>em</strong>inina”, de publicação s<strong>em</strong>anal. Segundo palavras<br />
do autor, a página A Mulher e o Lar trazia “crônicas e versos mundanos, receitas culinárias,<br />
modas, tudo s<strong>em</strong>pre com a prestimosa colaboração da tesoura e do pote de grude” (SOLO DE<br />
CLARINETA I, p. 254). Entretanto, essa atividade de jornalista e redator que o escritor<br />
des<strong>em</strong>penhou por pouco t<strong>em</strong>po não consistia uma tarefa das mais prazerosas. Para Carlos<br />
Reverbel, 14 que trabalhou com Erico Verissimo na Revista do Globo, para materializar o<br />
sonho de ser escritor o criador de O T<strong>em</strong>po e o Vento teve que “sujeitar-se a recorrer a outros<br />
meios de vida, por ele des<strong>em</strong>penhados a contragosto, mas s<strong>em</strong>pre de modo a resguardar e<br />
preservar a dignidade pessoal e a lisura funcional”. Aponta ainda Reverbel que “tenho como<br />
certo que Erico Verissimo só gostava de escrever ficção. Tudo que produziu, <strong>em</strong> outras áreas,<br />
não passaria da abertura do caminho que lhe permitiria dedicar-se a seus romances, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po<br />
e integral e s<strong>em</strong> precisar recorrer a outros meios de vida”.<br />
Essas experiências como jornalista e redator, aliadas às m<strong>em</strong>órias da infância,<br />
pod<strong>em</strong> explicar muitas das estratégias narrativas adotadas pelo autor de O T<strong>em</strong>po o Vento,<br />
principalmente <strong>em</strong> relação aos conflitos políticos e sociais que levam à Revolução de 1923.<br />
Mas não foram apenas essas vivências que o ajudaram a construir esse que é considerado o<br />
romance-chave que estabeleceu o modelo de romance histórico brasileiro. Nos apontamentos<br />
e esboços que deixou, o escritor d<strong>em</strong>onstra sua pr<strong>eo</strong>cupação <strong>em</strong> cercar-se de diversas fontes –<br />
não apenas jornalísticas – para desenvolver os t<strong>em</strong>as na narrativa. Para escrever O<br />
Arquipélago, terceira e última parte da trama que foi publicada nove anos após O Retrato, o<br />
autor busca material de apoio “sobre as crises da pecuária, conteúdo id<strong>eo</strong>lógico do assisismo,<br />
aspectos militares da campanha de 1923, rotina das estâncias, músicas modernas de 1922, um<br />
bom estudo sobre o castilhismo, borgismo e positivismo, a formação do Rio Grande no<br />
Século XIX à luz de Comte, o fenômeno maragato e republicano” (BORDINI, 1995, p. 143).<br />
Ainda <strong>em</strong> relação às fontes de consulta, Erico Verissimo deixou registrado nessas cadernetas<br />
14 Erico e o <strong>jornalismo</strong>. In: BORDINI, Maria da Glória (org.). Erico Verissimo: o escritor no t<strong>em</strong>po.<br />
Homenag<strong>em</strong> aos 85 anos de nascimento. Porto Alegre: Sulina, 1990, p. 24.<br />
18