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O jornalismo em O tempo eo vento

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Vento. A saga da família Cambará – castilhista e latifundiária – se transforma num épico <strong>em</strong><br />

que seus integrantes se apresentam como heróis, acostumados ao combate e que alcançam a<br />

glória <strong>em</strong> 1930.<br />

134<br />

Ao abrir a narrativa do romance com a guerra da “degola” na Revolução<br />

Federalista, recuando para o momento de implantação do modelo positivista na sociedade pré-<br />

república e avançando no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> direção aos sucessivos conflitos de natureza política,<br />

Erico Verissimo legitima de certa forma os gestos de Licurgo Cambará, que prefere ver os<br />

seus familiares mortos a pedir uma trégua, e fortalece os sentimentos de corag<strong>em</strong> e heroísmo<br />

deste personag<strong>em</strong>. Essa herança de altivez de Licurgo (herdada, por sua vez, do Capitão<br />

Rodrigo) é passada para Rodrigo Cambará e seu irmão Toríbio.<br />

N<strong>em</strong> a morte de Rodrigo Cambará ou a desintegração da família consegu<strong>em</strong> anular<br />

essa imag<strong>em</strong> gloriosa dos personagens e a exaltação de seus destinos. No período da formação<br />

político-id<strong>eo</strong>lógica republicana no Rio Grande, como retratado na trilogia, constata-se que o<br />

escritor se apropria de um “modelo” social reproduzido na imprensa, b<strong>em</strong> como nos livros de<br />

História e <strong>em</strong> suas próprias experiências e observações. S<strong>em</strong> que ele consiga, portanto, fugir<br />

de um discurso repetido e assumido como verdade pela historicidade.<br />

quando este diz que:<br />

Neste ponto mais uma vez é necessário recorrer a Walter Benjamin (1989, p. 106),<br />

Se fosse intenção da imprensa fazer com que o leitor incorporasse à própria<br />

experiência as informações que lhe fornece, não alcançaria seu objetivo. Seu<br />

propósito, no entanto, é o oposto, e ela o atinge. Consiste <strong>em</strong> isolar os<br />

acontecimentos do âmbito onde pudess<strong>em</strong> afetar a experiência do leitor. Os<br />

princípios da informação jornalística (novidade, concisão, inteligibilidade e,<br />

sobretudo, falta de conexão entre uma notícia e outra) contribu<strong>em</strong> para esse<br />

resultado, do mesmo modo que a paginação e o estilo lingüístico.<br />

Seria difícil, portanto, imaginar que o escritor enquanto leitor de jornais não teria<br />

também sido influenciado por estes princípios que reg<strong>em</strong> o discurso jornalístico fragmentado.<br />

Percebe-se a preferência do autor pelas informações jornalísticas que apresentam o mundo do<br />

presente (notícias e artigos sobre as guerras e revoluções) e o mundo do futuro (novidades<br />

tecnológicas, progresso e o movimento urbano), as quais levam os personagens a assumir, de<br />

uma forma ou de outra, a doutrina id<strong>eo</strong>lógica do grupo social e político dominante. Como<br />

numa paródia, os símbolos representativos deste grupo são integrados à narrativa e divid<strong>em</strong>-se<br />

continuamente <strong>em</strong> novas possibilidades de interpretação, mas s<strong>em</strong>pre converg<strong>em</strong> para a

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