A debilidade mental como solução estabilizadora de uma psicose
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ativida<strong>de</strong> intelectual limitada. Por outro lado, na compulsão neurótica a pensar, há <strong>uma</strong><br />
resistência do pensamento intelectual ao recalcamento. De acordo com Freud, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento intelectual é suficientemente forte para resistir à ação do recalque. As<br />
ativida<strong>de</strong>s sexuais recalcadas emergem do inconsciente sob a forma <strong>de</strong> <strong>uma</strong> preocupação<br />
pesquisadora compulsiva. Já o terceiro <strong>de</strong>stino constitui para Freud a possibilida<strong>de</strong> mais<br />
favorável à ativida<strong>de</strong> intelectual e o mais <strong>de</strong>sejável pela cultura. Neste caso a libido escapa ao<br />
<strong>de</strong>stino do recalque, é sublimada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a origem, em curiosida<strong>de</strong>, em avi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> saber. A<br />
sublimação <strong>de</strong>ssexualiza o alvo da pulsão, criando um espaço <strong>de</strong>ssexualizado, livre, on<strong>de</strong> a<br />
ativida<strong>de</strong> intelectual possa se exercer.<br />
Lançadas as bases para se pensar a relação entre o saber e a sexualida<strong>de</strong>, vários autores<br />
contemporâneos retomarão essa teorização <strong>de</strong> Freud para falar tanto da inibição intelectual<br />
quanto da <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong>.<br />
Na década <strong>de</strong> 1960 Maud Mannoni a partir <strong>de</strong> sua prática clínica e da teorização<br />
lacaniana do <strong>de</strong>sejo, passa a atenuar a veracida<strong>de</strong> do laudo psicológico da <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong> e<br />
questionar a correlação entre <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong> e déficit intelectual. Mannoni propõe que se<br />
busquem na história <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo dos pais os elementos que constituem a história subjetiva da<br />
criança. No início <strong>de</strong> seu trabalho o procedimento <strong>de</strong> Mannoni consistia em, primeiramente,<br />
traçar um diagnóstico da inteligência, por meio <strong>de</strong> testes. Com base na comparação dos<br />
resultados a criança era encaminhada ou não para tratamento psicoterápico, em função <strong>de</strong><br />
resultados homogêneos (<strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> verda<strong>de</strong>ira) ou heterogêneos (falsa <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong>). Somente<br />
para estes últimos o tratamento psicoterápico era indicado (Mannoni, 1964).<br />
Françoise Dolto, na mesma época dá início ao tratamento analítico <strong>de</strong> <strong>uma</strong> criança<br />
consi<strong>de</strong>rada débil verda<strong>de</strong>ira. A análise <strong>de</strong>ssa criança coloca em questão seu déficit cognitivo,<br />
pois há <strong>uma</strong> melhora substancial em diversos aspectos, inclusive na vida escolar. Contudo, em<br />
resposta ao progresso da criança a mãe adoece. Dolto levanta então a hipótese <strong>de</strong> que a<br />
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