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A debilidade mental como solução estabilizadora de uma psicose

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Em seu livro “Os atrasados não existem. Uma psicanálise <strong>de</strong> crianças com fracasso<br />

escolar” Anny Cordié (1996), assim <strong>como</strong> Maud Mannoni faz <strong>uma</strong> crítica aos diagnósticos <strong>de</strong><br />

<strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong>, realizados nas escolas que tomam <strong>como</strong> base os testes <strong>de</strong> inteligência<br />

dizendo que tais testes <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram tanto o universo social e familiar quanto a subjetivida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> cada criança. Segundo a autora o termo <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong> é utilizado em escolas <strong>como</strong><br />

<strong>uma</strong> etiqueta pejorativa que, tanto na mente dos pais <strong>como</strong> na dos professores subenten<strong>de</strong> a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> distúrbio inato da inteligência. Ela critica também o conceito <strong>de</strong> <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> advindo<br />

da psiquiatria que rotula as crianças com fracasso escolar <strong>como</strong> débeis leves. Sabemos que a<br />

base para esse diagnóstico é a hipótese <strong>de</strong> um problema inato, orgânico, no entanto, nas<br />

crianças com esse diagnóstico, quando submetidas a exames médicos, não são encontradas<br />

anomalias, nem lesional, nem genética.<br />

Para construir sua argumentação <strong>de</strong> que os atrasados não existem, Anny Cordié refere-<br />

se ao termo advindo tanto da psiquiatria, on<strong>de</strong> a <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> tem um substrato orgânico, quanto<br />

da psicometria, on<strong>de</strong> o termo é <strong>de</strong>finido pelo teste <strong>de</strong> QI, que também postula um substrato<br />

orgânico para a inteligência. Ao tratar, a partir <strong>de</strong> sua escuta clínica, o fracasso escolar <strong>como</strong><br />

sintoma, a autora faz a crítica ao termo <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> tal <strong>como</strong> entendido no meio médico e<br />

psicológico. A psicanálise <strong>como</strong> já visto anteriormente dá outro valor e sentido à <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong><br />

<strong>mental</strong>: a posição subjetiva do sujeito, em relação ao saber.<br />

Segundo a autora, o fracasso escolar é <strong>uma</strong> patologia recente que só pô<strong>de</strong> surgir com a<br />

instauração da escolarida<strong>de</strong> obrigatória no fim do século XIX. Atualmente o fracasso escolar<br />

toma lugar consi<strong>de</strong>rável nas preocupações <strong>de</strong> nossos contemporâneos em conseqüência <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> mudança radical da socieda<strong>de</strong>. Para Anny Cordié o fracasso escolar <strong>de</strong>ve ser encarado<br />

<strong>como</strong> sintoma <strong>de</strong> <strong>uma</strong> nova época. Uma época em que o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico e a<br />

transformação do mundo do trabalho dão origem a <strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong> cada vez mais exigente em<br />

relação aos estudos- é exigido dos trabalhadores um nível <strong>de</strong> competência cada vez mais<br />

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