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A debilidade mental como solução estabilizadora de uma psicose

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portanto muito será solicitado da criança. Mas à<br />

medida que ela respon<strong>de</strong> à <strong>de</strong>manda materna, eis que o <strong>de</strong>sejo<br />

se esvai. A construção da fantasia o substituirá, para lançar<br />

novamente a mãe no caminho que conduz n<strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong><br />

miragem, à conquista <strong>de</strong> um objeto perdido. O filho tornar-se-<br />

á, à sua revelia, o suporte <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> coisa <strong>de</strong> essencial nela,<br />

don<strong>de</strong> um mal entendido funda<strong>mental</strong> entre mãe e filho<br />

(Mannoni, 1988, p. 42).<br />

A <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong> instalar-se-ia, portanto, por um processo inconsciente, marcado<br />

pela relação do sujeito feminino com a falta <strong>de</strong> objeto. Essa relação dificulta o acesso do<br />

sujeito débil à verda<strong>de</strong> da castração, obstruindo a função <strong>de</strong> causa do <strong>de</strong>sejo que aparece sob a<br />

forma <strong>de</strong> <strong>uma</strong> inércia quanto ao <strong>de</strong>sejo.<br />

Mais ao final <strong>de</strong> seu livro, após analisar <strong>de</strong>zenove casos <strong>de</strong> crianças retardadas com<br />

claro comprometimento orgânico, Mannoni evi<strong>de</strong>ncia <strong>como</strong> o débil portador <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong><br />

<strong>de</strong>ficiência ocupa o mesmo lugar que o débil saudável quanto ao funcionamento biológico, no<br />

<strong>de</strong>sejo dos pais. Ou seja, a <strong>de</strong>speito dos diferentes níveis <strong>de</strong> QI e da presença ou não <strong>de</strong><br />

comprometimento orgânico é possível observar <strong>uma</strong> constância da postura subjetiva que as<br />

crianças débeis têm em relação ao Outro. Crianças, não débeis, apesar <strong>de</strong> suas marcadas<br />

<strong>de</strong>ficiências neurológicas, estabelecem outro tipo <strong>de</strong> relação com o Outro, não marcada pelo<br />

apagamento do <strong>de</strong>sejo. O que Mannoni faz questão <strong>de</strong> acentuar é que a classificação e a<br />

etiologia tão diversificada dos retardamentos não <strong>de</strong>vem impedir que se veja o ponto comum<br />

entre eles. Ponto sobre o qual “ a psicanálise po<strong>de</strong> ter certo efeito: em todas essas famílias, há<br />

um <strong>de</strong>sgosto <strong>de</strong> viver, <strong>uma</strong> história perturbadora que é paralela ao retardamento, ou que o<br />

agrava.” (p.95).<br />

À pergunta <strong>de</strong> Mannoni “por que razão há débeis „estúpidos e débeis „inteligentes‟?”<br />

fica a resposta dada por ela mesma: o que caracteriza o sujeito débil é a posição que ele ocupa<br />

em relação ao Outro, posição que revela um imperativo <strong>de</strong> submissão do sujeito ao Outro. Ou

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