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A debilidade mental como solução estabilizadora de uma psicose

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cada caso. No caso clínico aqui exposto, trabalhamos com a hipótese <strong>de</strong> que a <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> da<br />

paciente a preserva dos efeitos da estrutura psicótica. Quando do início do tratamento <strong>de</strong><br />

Raquel, momento em que não era possível estabelecer o diagnóstico <strong>de</strong> estrutura, a <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong><br />

se apresentava <strong>como</strong> um sintoma a ser tratado. No entanto, com o <strong>de</strong>correr dos atendimentos e<br />

o aparecimento <strong>de</strong> fenômenos que explicitavam a <strong>psicose</strong> e posteriormente, a partir da<br />

construção do caso, foi possível observar que o sintoma aparecia <strong>como</strong> o próprio tratamento<br />

daquilo que a invadia. A <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong>, portanto, <strong>como</strong> sugere Alberti e Miranda (2009), aparece<br />

mascarando a estrutura, embotando seus efeitos e, no caso <strong>de</strong>ssa paciente, para além <strong>de</strong>ssa<br />

máscara, a <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> se constituiu <strong>como</strong> o próprio tratamento <strong>de</strong> seus sintomas.<br />

Apresentando-se <strong>como</strong> sujeito não <strong>de</strong>sejante, essa paciente para falar <strong>de</strong> si mesma,<br />

retoma os ditos <strong>de</strong> outros, repete as falas da mãe, as regras da igreja. Apresenta <strong>uma</strong> fala em<br />

que as palavras não remetem a nenhum significado novo, não conferindo maleabilida<strong>de</strong> à<br />

significação. Utiliza <strong>uma</strong> linguagem rica em adágios populares e versículos bíblicos e um<br />

discurso constituído <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias convencionais. Diante do silêncio da analista, ela faz o papel do<br />

que se espera <strong>de</strong> um interlocutor: conforta a si mesma, sugere condutas ou concorda consigo<br />

mesma. Nada do que foge à regra po<strong>de</strong> ser suportado.<br />

Todos esses dados nos sugerem que essa paciente tem <strong>uma</strong> dificulda<strong>de</strong> estrutural em<br />

lidar com a falta, o furo no Outro. E a forma que ela encontra é posicionando-se<br />

subjetivamente <strong>como</strong> sujeito que trabalha para manter o Outro não furado, reificando-o,<br />

tornando-o previsível. Vemos isso claramente na sua a<strong>de</strong>rência à norma. A norma funciona<br />

<strong>como</strong> <strong>uma</strong> garantia <strong>de</strong> que ao Outro nada faltaria. Se atendo aos significantes, ela <strong>de</strong>sconhece<br />

a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidos engendrados pela metáfora. A metonímia se dá comandada por<br />

<strong>uma</strong> repetição alienada no dizer do Outro, representado pelo social ou pela figura dos pais ou<br />

ainda, pela religião.<br />

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