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A debilidade mental como solução estabilizadora de uma psicose

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ciência faz com que nossa <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong> cresça. Nós não<br />

sabíamos lidar com a natureza e sabemos menos ainda o que<br />

fazer com os novos objetos que a civilização produz e que nos<br />

atrapalham. Essa <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong> produz nossa errância,<br />

<strong>de</strong>sarvora nosso gozo, é motivo <strong>de</strong> tristeza e <strong>de</strong> raiva, ela é<br />

causa dos sintomas, produz <strong>de</strong>vastação. Verifica-se isso todos<br />

os dias na atualida<strong>de</strong>. Ela é a atualida<strong>de</strong>. Uma psicanálise não<br />

triunfa sobre a <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong>, mas po<strong>de</strong> fazer com que se<br />

saiba melhor- um pouco melhor- lidar com o real que não tem<br />

sentido. Seria preciso que o real nos fizesse menos mal. É o<br />

que sempre se <strong>de</strong>sejou. Essa é a dor que se tem sempre<br />

anestesiado. É <strong>de</strong>sse real que nos protegemos. Para a<br />

psicanálise, trata-se <strong>de</strong> tomar <strong>uma</strong> outra via: a <strong>de</strong> se tornar<br />

mais real, <strong>de</strong> tornar a si mesmo mais real. Saber se guiar no<br />

puro real. É o que o ensinamento <strong>de</strong> Lacan nos permite<br />

entrever hoje. Com Lacan, não após (p. 90).<br />

A última referência <strong>de</strong> Lacan é a carta <strong>de</strong> dis<strong>solução</strong> <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1980. Nesta,<br />

Lacan fala <strong>de</strong> sua vantagem em relação ao débil dizendo “sei o que faço - e acrescento aí o<br />

que isto comporta <strong>de</strong> inconsciente”. O débil é justamente aquele que faz com certeza, aquilo<br />

que não sabe, e o faz com a astúcia <strong>de</strong> quem sabe. Todos estão sujeitos à <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> quando<br />

crê saber exatamente o que está fazendo, operando com a certeza absoluta. A perspectiva<br />

apresentada por Bruno (1986) aponta para o fato <strong>de</strong> que o débil provido da astúcia <strong>de</strong> quem<br />

sabe não precisa questionar qualquer sentido. A vantagem <strong>de</strong> Lacan sobre os débeis estava em<br />

acrescentar aí, “o que isso comporta <strong>de</strong> inconsciente”. Lacan acrescenta à certeza o que ele<br />

comporta <strong>de</strong> divisão, <strong>de</strong> conflito.<br />

No artigo intitulado “A <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong> na estrutura” Miranda e Alberti (2002)<br />

partem do princípio <strong>de</strong> que a <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> po<strong>de</strong> ser encontrada em qualquer estrutura e levantam<br />

a hipótese <strong>de</strong> que a <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong> é <strong>uma</strong> tentativa do sujeito em evitar as <strong>de</strong>terminações<br />

estruturais. A <strong><strong>de</strong>bilida<strong>de</strong></strong> <strong>mental</strong> funcionaria <strong>como</strong> <strong>uma</strong> máscara para a estrutura. A criança<br />

débil se ofereceria à mãe <strong>como</strong> um sujeito não <strong>de</strong>sejante velando a castração materna,<br />

ocultando a falta no Outro.

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