Cultura, Esporte e Lazer - Assembleia Legislativa do Estado de São ...
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<strong>de</strong>bates - a socieda<strong>de</strong> se manifesta – <strong>Cultura</strong>, <strong>Esporte</strong> e <strong>Lazer</strong><br />
Bahia, ela tem 100 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Perguntei: Mãe Cantu, mas como é essa<br />
história? Ela falou: Primeiro a gente nasce e tem dificulda<strong>de</strong> para caminhar, então<br />
você vai se arrastan<strong>do</strong>. É difícil mas você apren<strong>de</strong> a se arrastar. Depois apren<strong>de</strong> a<br />
engatinhar; é difícil mas apren<strong>de</strong> a engatinhar. Depois apren<strong>de</strong> a andar, <strong>de</strong>pois a<br />
correr. Quero ficar com essa sabe<strong>do</strong>ria. Estamos num processo que estamos<br />
apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a nos arrastar, a engatinhar, a andar e a correr. Como é que se faz<br />
isso? Fazen<strong>do</strong>. Alguém tem o segre<strong>do</strong>? Não. Alguém traz a verda<strong>de</strong> no bolso da<br />
calça? Não. Vamos errar muito? Vamos. Mas qual é o problema <strong>de</strong> errarmos tanto?<br />
É que o Brasil provavelmente é o único país em que o Movimento Negro está<br />
sozinho na construção <strong>de</strong> conceitos. Provavelmente é o único. Nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />
tinha <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> os ju<strong>de</strong>us, tinha os que também eram discrimina<strong>do</strong>s, os irlan<strong>de</strong>ses,<br />
na Inglaterra tem essas populações também. No Brasil não! A história <strong>de</strong> construção<br />
<strong>de</strong> conceito sobre a questão racial e da luta política racial tem si<strong>do</strong> isoladamente<br />
travada pelos negros. Tem um ou outro que é solidário, mas fundamentalmente é<br />
pelos negros. Cada passo que se dá tem alguém atrás tentan<strong>do</strong> puxar a sua<br />
escada. Para nós é mais difícil, para nós tem si<strong>do</strong> muito mais complica<strong>do</strong>. Escrevese<br />
um livro fazen<strong>do</strong> afirmação da negritu<strong>de</strong>, vem <strong>de</strong>z livros negan<strong>do</strong> o que se<br />
escreveu, tentan<strong>do</strong> te <strong>de</strong>squalificar. Para nós, então, tem si<strong>do</strong> mais difícil. Acho que<br />
o caminho é fazermos, é tentarmos, potencializan<strong>do</strong> quem está fazen<strong>do</strong>.<br />
Por último, agra<strong>de</strong>ço a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter participa<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste evento.<br />
Sempre trabalho com a seguinte idéia, que acho fundamental: eu era pequeno,<br />
meu pai estava preso, pois ele ficou muito tempo preso numa prisão <strong>de</strong> segurança<br />
máxima em Taubaté. Quan<strong>do</strong> eu saía na rua, eu andava com roupa clara para fazer<br />
educação física, na época eu ainda não freqüentava a umbanda, tinha um menino<br />
que sempre cantava assim: “Nego fe<strong>do</strong>rento, bate a bunda no cimento, pra ganhar<br />
mil e quinhentos”, e isso to<strong>do</strong>s o dias. Aquilo me encheu o saco. Conversei com o<br />
meu pai, um homem extraordinário, assim como a minha mãe, ele me perguntou:<br />
“Qual é o tamanho <strong>de</strong>le?” Falei: “Ele é gran<strong>de</strong>”. “Você po<strong>de</strong> dar uma pedrada nele?”<br />
Falei que achava que não. “Você po<strong>de</strong> dar uma paulada?” Falei que achava que<br />
Pensan<strong>do</strong> <strong>São</strong> Paulo FÓRUM SÃO PAULO - SÉCULO 21<br />
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