ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA ... - Faculdades EST
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[...] o interesse maior da ênfase ao casamento poderia ser o de exercer<br />
algum controle sobre a autonomia que a vida asceta conferia às mulheres.<br />
Nos primeiros séculos cristãos, inclusive já a partir do primeiro século,<br />
mulheres integravam ordens celibatárias de virgens e viúvas. As mulheres<br />
celibatárias abraçavam um ascetismo que lhes permitia criar para si<br />
mesmas vidas livres de padrões de comportamento socialmente esperados.<br />
Comparando a posição das mulheres nas comunidades paulinas e nas<br />
cartas pastorais, percebe-se que as mulheres foram gradualmente<br />
afastadas dos serviços de liderança das comunidades cristãs. 63<br />
Koester também concorda com esta análise quando diz que:<br />
[...] a carta é uma teologia doutrinária da moral e ética cristã para combater<br />
o gnosticismo. Exemplo disto, são os catálogos elaboradamente<br />
interpretados de virtudes e vícios que eram extraídos da doutrina dos dois<br />
caminhos (4,17-5,20) e a lista de deveres domésticos que o autor tomou de<br />
Colossenses (Ef 5,22-6,9). 64<br />
Percebe-se que a interpretação dada aos códigos domésticos e os discursos<br />
que foram apropriados pela comunidade cristã, tiveram como contexto um mundo<br />
hierarquizado – no qual os varões estão no topo (seres superiores) e as mulheres na<br />
base (seres inferiores). Lamentavelmente esta interpretação foi se reproduzindo,<br />
sobretudo, pelos grupos que defendiam o sistema explorador. E algo parecido<br />
acontece hoje nos debates sobre a “questão da mulher”, com o manuseio e a<br />
manipulação do código por parte dos que procuram amparar uma estrutura patriarcal<br />
já cambaleante.<br />
Muitas pesquisas acadêmicas contribuíram para manter interpretações<br />
sexistas dos textos bíblicos. Porém, o trabalho de teólogas/os e biblistas feministas<br />
na análise de textos bíblicos nos fornece subsídios para romper com interpretações<br />
tradicionais. Fiorenza assevera que “[...] a corrente teoria e pesquisa acadêmicas<br />
são deficientes porque deixam de considerar as vidas e contribuições das mulheres<br />
e constroem uma humanidade e uma história humana enquanto ‘de varões’”. 65<br />
Reimer elenca algumas características que tornam opressoras as<br />
epistemologias encontradas nos textos bíblicos:<br />
[...] 1) são essencialistas: a essência humana corresponde à realidade<br />
anterior à “queda” de Adão e Eva. Ou seja, antes da “queda” tudo era<br />
perfeito, o ser humano não tinha “pecado”. E isto é proclamado nas<br />
63 STRÖHER, 1998, p. 165.<br />
64 KO<strong>EST</strong>ER, Helmut. Introdução ao Novo Testamento, v.2: história e literatura do cristianismo<br />
primitivo. São Paulo: Paulus, 2005. p. 290.<br />
65 FIORENZA, 1992, p. 12.