ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA ... - Faculdades EST
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É possível que desde o início da cristianização se tenha permitido essa<br />
estrutura cultural na sociedade ocidental. Provavelmente, a igreja, hegemônica em<br />
alguns lugares, tenha influenciado fortemente alguns aspectos importantes na vida<br />
humana, aspectos e valores da cultura, dos símbolos, dos modelos de<br />
masculinidade e de feminilidade, e os tenham estabelecidos como provenientes do<br />
sagrado. Sabe-se que símbolos tidos por sagrados legitimam costumes,<br />
comportamentos e valores sociais. No catecismo, a criança aprende que há dois<br />
modelos de mulher: Eva e Maria. Segundo Haidi Jarschel:<br />
54<br />
Maria é apresentada como mulher assexuada na vestimenta, no olhar, na<br />
postura corporal que não apresenta erotismo, não apresenta vida pulsando.<br />
Os ícones dela a apresentam como uma mulher totalmente de cabeça<br />
baixa, a roupa dela cobre todo o corpo. Você não vê corpo, você só vê<br />
rosto. E neste rosto estampado você vê uma mulher que não está vibrando<br />
com a pulsação da vida. Esta é a Maria que é apresentada pela religião<br />
cristã patriarcal. E a Eva é sedutora, desobediente, transgride a norma do<br />
Deus patriarcal. É Eva quem toma iniciativa (isto é compreendido através do<br />
mito da conversa sobre a maçã). Este modelo é penalizado, é associado<br />
como mal. Todo discurso religioso cristão associa Eva ao pecado. 117<br />
A figura de Eva é figura que se rebela contra esta inferiorização das<br />
mulheres. A figura de Maria é a figura daquela que se submete, daquela que<br />
obedece. Para os homens, a questão do modelo é bem mais simples do que para as<br />
mulheres, pois a catequese ensina que Deus cria o homem à sua imagem. Apesar<br />
de se reconhecerem como pecadores, lhes traz conforto saber que foram criados à<br />
imagem e semelhança de Deus. 118 Enquanto que para as mulheres há dois modelos<br />
conflitantes, Eva e Maria, para os homens há dois modelos de homem que podem<br />
ser complementares: Deus criador e provedor, e Jesus salvador, figuras masculinas<br />
ligadas à criação e à salvação. Os dois modelos antagônicos de mulher fazem com<br />
que as mulheres vivam sempre num conflito interior. A mulher sente culpa de ter<br />
prazer, de ser tocada porque se afasta do modelo de Maria. A mulher precisa negar<br />
seu ser mulher para chegar ao modelo de ser mãe. Por isso, deve negar ser Eva,<br />
para se tornar Maria.<br />
Segundo a tradição dos vários cristianismos, as mulheres não são<br />
suficientemente dotadas de razão para serem mediadoras do sagrado. Isto as<br />
coloca num grau de inferioridade. Na ideologia dominante do cristianismo, o corpo<br />
117 Pastora luterana, mestre em Ciências da Religião, entrevistada no vídeo em questão.<br />
118 Narradora do vídeo Religião e Violência contra a mulher.