ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA ... - Faculdades EST
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mulheres, ajuda a manter relações de dominação e aceitação da violência<br />
contra as mulheres no âmbito doméstico ou não, tanto na expressão física,<br />
sexual, psicológica como na violência simbólica. 114<br />
No drama encenado no documentário, Glória passa a frequentar mais a<br />
Igreja na procura de uma resposta para seu sofrimento. Porém, tudo o que ela<br />
acredita a faz se sentir mais culpada e sozinha. Este conflito ideológico por que<br />
passam tantas mulheres acaba por ocasionar crises na busca por solução.<br />
Começam a se questionar: será que a cruz que carrego é a mesma que Cristo<br />
carregou? Será o sofrimento a carga pesada que eu tenha que carregar para me<br />
tornar mais cristã? Glória – assim como tantas mulheres na vida real – procura o<br />
padre ou pastor, porém, muitas vezes, os conselhos são colocados num horizonte<br />
de perseverança no qual as mulheres precisam suportar seus maridos violentos, ter<br />
paciência e orar muito para que Deus toque em seus corações. A separação não é<br />
cogitada, pois “ninguém separa o que Deus uniu”. Nisso, as vítimas, seguidoras de<br />
uma religião cristã, reproduzem a leitura sacrificial cristã, ou seja, seu sofrimento é<br />
identificado com Jesus, a vítima sacrificial.<br />
Singh explicita que:<br />
[...] alguns aspectos da teologia tradicional condicionam a mulher a uma<br />
vida de sofrimento, sacrifício e servidão. Isto levou a uma compreensão do<br />
sofrimento como uma bênção enviada por Deus para a edificação pessoal e<br />
expiação dos pecados de outros. 115<br />
Também Martínez ressalta que:<br />
No Novo Testamento, a obediência até a morte de Cristo (Fl.2:8). A teologia<br />
do sacrifício proposta nessa leitura estaria incitando as mulheres vítimas de<br />
violência a imitarem o exemplo de obediência de Cristo que se imolou na<br />
cruz. 116<br />
Assim como Glória, muitas mulheres em seu próprio sofrimento aproximam-<br />
se de Jesus, renunciando à possibilidade de resistir ativamente ao sofrimento.<br />
Porém, ao seguir os comandos do companheiro, sem questioná-los, o que leva à<br />
negação de si própria, a mulher está encorajando o agressor/companheiro a<br />
continuar fazendo uso de violência e reforça as estruturas que continuam criando<br />
novas vítimas.<br />
114 MARTÍNEZ, 2004, p. 113.<br />
115 SINGH, 2005, p. 41.<br />
116 MARTÍNEZ, 2004, p. 108.