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ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA ... - Faculdades EST

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Transpondo este conceito para a assembleia cristã, percebemos o que é lido<br />

ou o que não é lido, o que se fala, e o que não se fala. Falar da questão da<br />

existência da violência da mulher na sociedade e na Bíblia é assunto ocultado nas<br />

assembleias cristãs. Selecionam-se discursos que causam menos polêmicas ou que<br />

venham a mudar a ordem da sociedade. Lêem-se o que se quer produzir: na Igreja,<br />

é recomendável à mulher o silêncio (1Tim 2.11). No púlpito fala o homem ou o<br />

pastor, em casa fala o marido.<br />

Outro sistema de exclusão é a vontade de “verdade”. Nela, o que importa é o<br />

conteúdo do que é dito. É a vontade de dizer o discurso “verdadeiro”. E Foucault<br />

pergunta: “Na vontade de dizer esse discurso ‘verdadeiro’, o que está em jogo,<br />

senão o desejo e o poder?” 93<br />

O desejo pela “verdade” indiscutível produz o fundamentalismo. O<br />

fundamentalismo biblicista acentua a inspiração verbal e a Bíblia enquanto a Palavra<br />

direta e infalível de Deus que cristãos(ãs) têm que aceitar sem fazer perguntas. Essa<br />

ênfase na infalibilidade quer convencer que sua interpretação bíblica está acima de<br />

qualquer outra interpretação. Com isso, escondem-se os interesses que operam nos<br />

textos e nas interpretações bíblicas. Interpretações que foram feitas ao longo da<br />

história sobre o texto bíblico, por grupos que querem manter o poder de dominação,<br />

são exemplos típicos deste sistema de exclusão. Este fundamentalismo é que<br />

naturalizou a cultura sexista e, por sua vez, a violência contra a mulher.<br />

Foucault demonstra que na produção do discurso também existem<br />

mecanismos internos, pois eles próprios exercem seu controle. São os sistemas de<br />

dominação. 94 Sãos eles os seguintes:<br />

(1) o comentário. É um procedimento que,<br />

93 FOUCAULT, 1996, p. 20.<br />

94 FOUCAULT, 1996, p. 21.<br />

95 FOUCAULT, 1996, p. 25.<br />

44<br />

por um lado, permite construir (e indefinidamente) novos discursos [...] mas,<br />

por outro lado, o comentário não tem outro papel, sejam quais forem as<br />

técnicas empregadas, senão o de dizer enfim o que estava articulado<br />

silenciosamente no texto primeiro. [...] O comentário conjura o acaso do<br />

discurso fazendo-lhe sua parte: permite-lhe dizer algo além do texto mesmo,<br />

mas com a condição de que o texto mesmo seja dito e de certo modo<br />

realizado. 95

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