ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA ... - Faculdades EST
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Para clarificar os micro-poderes, Foucault faz um estudo da resistência. 122<br />
Ele diz que toda a relação de poder traz consigo uma relação de resistência. Como<br />
não existe um lugar único de poder, também não existe um lugar único de<br />
resistência, mas sim pontos de resistência. Os pontos de resistência que se<br />
encontram nas relações hodiernas, de acordo com o filósofo, são “a oposição ao<br />
poder dos homens sobre as mulheres, dos pais sobre os filhos, da psiquiatria sobre<br />
os doentes mentais, da medicina sobre a população, da administração sobre a<br />
maneira como as pessoas vivem”. E as oposições são vistas como lutas<br />
transversais, pois acontecem em vários países independentemente do sistema<br />
econômico ou político.<br />
A violência conjugal, de acordo com o filósofo, é compreendida como um<br />
meio de exercer poder sobre o corpo de outra pessoa. “Uma relação de violência<br />
age sobre o corpo ou sobre objetos; ela força, ela dobra, ela quebra o círculo, ela<br />
destrói, ou ela fecha a porta para todas as possibilidades”. 123 No entanto, segundo o<br />
filósofo, a dinâmica do poder não acontece quando uma das partes não é livre, pois<br />
esta, então, seria uma relação de dominação de uma pessoa sobre outra. O<br />
relacionamento de poder, “[...] não é em si mesmo uma renúncia de liberdade [...]; o<br />
relacionamento de poder pode ser o resultado de um consentimento prévio ou<br />
permanente, mas ele não é por natureza a manifestação de um consenso”. 124<br />
A violência entre casais é, sem sombra de dúvida, uma relação de micro-<br />
poder, preenchendo as características apontadas por Foucault. É uma relação<br />
transversal, pois acontece em vários países, independentemente do sistema político<br />
e econômico; extrapola o domínio sobre o corpo, a saúde e, até, a própria vida; as<br />
pessoas envolvidas na relação de violência, na maioria dos casos, não conseguem<br />
se distanciar da situação de violência para buscar soluções no presente com vistas<br />
ao futuro: é necessário que o ciclo da violência 125 aconteça inúmeras vezes para que<br />
ele seja rompido, pois a pessoa que sofre violência tem consciência de estar num<br />
relacionamento violento, mas não consegue enxergar uma saída para sair dele.<br />
122<br />
FOUCAULT, Michel, O sujeito e o poder. In: DREYFUN, Hubert L; HABINOW Paul. Michel<br />
Foucault: uma trajetória filosofica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro:<br />
Forense Universitária, 2010. p. 276.<br />
123<br />
FOUCAULT, 2010, p. 287.<br />
124<br />
FOUCAULT, 2010, p. 289.<br />
125<br />
Ver ciclo da violência já definido anteriormente.<br />
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