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ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA ... - Faculdades EST

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Joana dizia que: “Não tinha liberdade para ir onde eu quisesse, eu tinha que<br />

dar satisfação de tudo, ficava trancada dentro de casa”. Ela vivia sob vigilância, o<br />

lugar onde estava, o cerceamento do ir e vir eram aspectos observados, sempre<br />

geradores potenciais de discussão, violência e controle. O casal repete assim a<br />

relação de poder e saber analisada por Bergesch na obra foucaultiana:<br />

57<br />

De um lado o homem/autor da violência observava seus movimentos,<br />

enquanto a mulher/vítima, de outro lado, possuía consciência dos<br />

movimentos geradores potenciais da violência; por isso, procurava também<br />

se adaptar, permanecendo o máximo possível em casa, obediente às<br />

condições impostas pelo ex-companheiro. 126<br />

Nesta relação de poder/saber, a mulher também está envolvida como<br />

detentora de um “suposto” saber para dominar a relação. No drama encenado,<br />

Glória utilizava do conhecimento que possuía para tentar melhorar a relação e<br />

“acalmar” o companheiro. Pensava que se fizesse tudo que uma “boa dona de casa”<br />

faz, o marido a trataria melhor.<br />

Na análise foucaultiana sobre o micro-poder, o corpo é o lugar de inscrição<br />

histórica do poder. E, nesta relação, o objeto do poder é, sobretudo, o órgão sexual,<br />

a genitália. E quando há violência, o poder é de dominação. Por isso, a sexualidade<br />

está intrinsecamente embutida na manifestação do poder.<br />

No livro História da sexualidade, 127 Foucault analisa a construção histórica<br />

da imagem de um corpo cuja essência é o sexo. E esta sexualidade é definida pelo<br />

conceito binário 128 do que é feminino e masculino. Ele informa que na Idade Média,<br />

o corpo do trabalhador, dos homens e das mulheres, e de suas sexualidades, este<br />

controle era controlado de forma violenta pelo Estado e pela Igreja. Na Idade Média,<br />

milhares de mulheres foram queimadas vivas por serem consideradas feiticeiras. Era<br />

o período de “caça às bruxas”, e as bruxas eram reconhecidas pelos inquisidores,<br />

por serem mulheres orgásticas e donas de sua sexualidade.<br />

Diante da construção histórica das representações sociais do binarismo<br />

sexuado (feminino e masculino), percebemos que estas diferenciações estão longe<br />

126 BERGESH, 2006, p.31.<br />

127 FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.<br />

128 FIORENZA, 2009, p. 229-238. O pensamento binário é um modo de pensar a realidade em termos<br />

de “ou um, ou outro” ou uma visão que divide conceitos em duas categorias que se excluem<br />

mutuamente (homem/mulher, branco/preto, razão/emoção), em vez de procurar sobreposições e<br />

elementos comuns.

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