ESCOLA SUPERIOR DE TEOLOGIA PROGRAMA ... - Faculdades EST

primeiro lugar, e, em seguida, pelos presbíteros e diáconos. Todos homens
representando a cabeça.
Essa constatação nos permite avaliar que os códigos domésticos não são,
portanto, nem Palavras de Deus, inspiradas pelos homens citados acima, nem
mesmo uma continuação dos ensinamentos de Jesus. A análise do discurso do texto
de Efésios 5. 21-33 fornece argumentos suficientes para criticar afirmações de que
os livros bíblicos foram canonizados, 99 simplesmente tendo por base as relações
sociais da época em que foram registradas. Podemos concordar que a Bíblia contém
a Palavra de Deus, mas que infelizmente muitas palavras, que não são divinas, as
quais têm o peso da discriminação, da exclusão, da opressão, da injustiça que são
da natureza humana, acabaram passando como se fossem Palavra de Deus.
Se os discursos não são próprios do sujeito, mas sim apropriados pelo
sujeito numa dinâmica de poder cuja força pode ser dominadora ou libertadora, cabe
a nós, leitores, perceber qual discurso está sendo usado para dominar ou libertar.
Daí surge a crítica feminista do texto bíblico. E, no caso da carta em comento, cabe
a nós perceber que o sujeito, aqui, está numa correlação de forças com seus fiéis e
com outros movimentos considerados heréticos e divergentes de suas doutrinas. A
apropriação do discurso em voga na sociedade greco-romana serviu para legitimar a
doutrina eclesial cristã. Também permitiu a perpetuação de uma interpretação da
hierarquia patriarcal e androcêntrica do pensamento judeu, este galvanizado pela
tradição greco-romana.
99 FIORENZA, 2009, p. 229-238. Da palavra grega emprestada do semítico kanon, cano de junco ou
medida. No sentido geral, um cânon é um critério, lei ou regra, e o sentido mais específico é uma
lista, especialmente de escritos sagrados considerados normativos.
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