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As restaurações artísticas<br />
< EM<br />
C O I M B R A<br />
x<br />
A Sé Velha. A restauração da Sé<br />
Velha é um facto único pelo interesse<br />
que despertou em todo o país.<br />
A volta d'ella andavam architectos,<br />
litteratos, e archeologos. 0 velho<br />
monumento era desenhado e<br />
descripto e pela primeira vez appareciam<br />
documentos d'um alto valor<br />
historico, procurados com muito trabalho<br />
e discutidos serenamente, honestamente.<br />
/<br />
RESISTENCIA — Quinta feira, 10 de setembro de 1896<br />
A. A. Gonçalves acha que o respeito<br />
pela Arte obriga o artista a<br />
dar aos velhos monumentos a sua<br />
feição antiga.<br />
D'um monumento deve retirar-se<br />
tudo o que não deixe vêr rapidamente<br />
as linhas geraes da construcção,<br />
tudo o que prejudique o effeito<br />
que o artista sonhou e que realizou.<br />
<strong>Obra</strong> de decoração posterior ao<br />
acabamento d'um edificio é obra<br />
condemnada..<br />
O respeito pela Arte impõe a todos<br />
o limparem os velhos monumentos<br />
de todas as obras que a piedade<br />
e o culto dos mortos fizeram le<br />
vantar, perturbando a harmonia da<br />
construcção primitiva.<br />
As paredes, que foram feitas para<br />
serem pintadas, não podem ser cobertas<br />
d'azulejos, embora o valor<br />
artístico dos azulejos seja grande.<br />
É este também o modo de vêr do<br />
sr. Antonio A. Gonçalves como o<br />
indicam os trabalhos encetados que<br />
nós seguíamos, applaudindo.<br />
Nunca se viu uma coisa assim.<br />
Os jornaes não fallavam senão do<br />
que se encontrava na Sé Velha.<br />
De fóra vinham artistas vêr e estudai,<br />
faziam-se desenhos, pintavam-se<br />
quadros.<br />
O sr. conego Prudencio revolvia<br />
os archivos da Sé e ía publicando<br />
documentos sobre documentos que<br />
iam elucidando as obras que durante<br />
séculos emprehenderam Bispos,<br />
decorando JCíj a do Senhor.<br />
A. Ribeiroatneu.iVasconcellos andava<br />
colliging® ! u scripções tumulares<br />
e publica Os seus trabalhos<br />
no Instituto.<br />
Um dia todo o alto funccionalis-<br />
CARTA DA FIGUEIRA<br />
Sein intuito de levantar contenda,<br />
mas com o fim único de não coarctar<br />
a liberdade de opiniões na questão<br />
sujeita, accedemos, gostosamente, ao<br />
pedido que um cavalheiro, actual<br />
mente a banhos na Figueira, nos faz,<br />
da publicação de alguns reparos que<br />
lhe suggeriu a leitura da carta que<br />
d'aquella praia nos enviou o nosso<br />
prezado correspondente Fernão Silvestre,<br />
e que foi publicada no numero<br />
passado da Resistencia.<br />
Figueira, 25 —VIII —96.<br />
... Sr. redactor: — Em inconti<br />
nencias de enlhusiasmo, altenlatorio<br />
das graves cogitações da sociedade<br />
Primeiro de Dezembro, o correspondente<br />
da Resistencia nesta cidade,<br />
rendido á descrição, procla-<br />
mordeduras do arrependimento, se<br />
hontem na praia, quando o disco<br />
coruscante do sol tombava no horisonte<br />
de purpura, ouvisse a indulgência<br />
generosa com que eram perdoados<br />
os exaggeros da sua culpa<br />
pela mais encantadora, a mais angelical<br />
e doce creatura que se tem<br />
abrigado sob este ceu de Portugal!<br />
E porque ha de desfazer-se a miragem<br />
dos seus enganos, deixo-o<br />
entregue ao remorso, sob o peso<br />
d'esta sentença de Chamfleury:<br />
«L'amour est un commerce orageux,<br />
qui finit toujours par une banqueroute.»<br />
Começou dirigindo a restauração<br />
ma vehemenle de fecundia !iitera-<br />
o sr. Estevão Parada, homem traria<br />
os explendores da formosura<br />
balhador e honesto, com vontade de<br />
hespanhola, que «imprimem a este<br />
fazer uma obra boa, sem errar.<br />
canto perdido no extremo Occiden-<br />
Conhecendo bem o nosso caratal<br />
da peninsula (Figueira da Foz)<br />
mo de Coimbra foi assistir á abercter,<br />
como um grande prático do<br />
um encanto irresistível.»<br />
O que primitivamente era simtura dos tumulos de dois bispos.<br />
serviço dobras publicas, emprehen-<br />
Nada teria que vêr com estas laples,<br />
não pôde decorar-se, embora A gloria para os emprehendedobarêdas d'um coração de isca alcadeu<br />
a restauração muito devagar, a decoração seja sumptuosa e de res da restauração era clamada por troada, subtrahido á vigilancia po-<br />
por fórma a que no velho monumen- alto valor artístico.<br />
todos; até a Coimbra Medica fallava liciai do fisco,—não sendo bombeito<br />
se não interrompesse o culto. A piedade que hoje não faz ca- mal, e eu ria-me...<br />
ro, nem accionista de emprêsas de<br />
thedraes, nao pode abrir capellas e<br />
seguro sobre vidas, —se esta pecha<br />
Um dia que elle foi para o Porto,<br />
de exotismo ibérico não ferisse os<br />
nichos nos templos antigos feitos De quê? De qualquer coisa, eu<br />
Antonio Augusto Gonçalves, dr. José<br />
melindres da independencia nacio-<br />
num grande amor darte, numa gran- rio-me muito facilmente..<br />
nal, tanto quanto a parcialidade do<br />
Nazareth, conego Prudencio Garcia, de adoração, numa crença funda.<br />
dictame offende o sentimento esthe-<br />
e eu entrámos na Sé Velha, corre-<br />
Dos templos românicos devem<br />
tico da justiça.<br />
mos e sondamos tudo, e de repente<br />
Pois com a entrada do sr. dire-<br />
banir-se as decorações golhicas j<br />
Fernão Silvestre na febre erótica<br />
surgiu a necessidade d'uma grande<br />
ctor das obras publicas, o sr. cone-<br />
como dos templos gothicos se devem<br />
de aventuras sensuaes tudo quanto<br />
obra, emprehendida serenamente e<br />
go Prudencio deixou de escrever, o vê são generalizações d'uma ima-<br />
retirar as obras da renascença.<br />
que levaria annos a terminar.<br />
sr. A. Ribeiro de Vasconcellos largem fixa.<br />
Para conservar essas obras, digou o Instituto e veiu para o Tribu- Sabe-sel. . .<br />
gnas de vêr-se, e que é necessário no Popular gritar contra a restau- E nessa estacada da Praça Nova<br />
O sr. Bispo-Conde visitando a Sé estudar, ha os museus, onde elração, o sr. dr. JoséNazarelhcançou- não surgem um Magriço e os onze<br />
Velha e vendo o que nós fizéramos, las são preciosamente conservadas,<br />
companheiros, que lancem pregão e<br />
se de aconselhar e calou-se, Anto-<br />
sorriu e disse na sua voz forte e escrevendo-se a sua biographia,<br />
repto, não em offensa ás damas hesnio<br />
Augusto Gonçalves abandonou<br />
boa:— «Andam cá tantos caçadopanholas,<br />
mas em pról das lusita-<br />
analysândo-as, marcando-lhe o va- a direcção artística da restauração,<br />
res! Caçaram muito?»<br />
nas, deprimidas pelas imprudências<br />
lor, as^ignalando-lhe o logar na evo- o sr. Bispo-Conde ficou... a ralhar. silvestres de Fernão I. . .<br />
E sorria, para os velhos tumulos lução artística de cada país.<br />
Pois quê! Silvestre rendendo á<br />
que o nosso cuidado puzera a des-<br />
belleza um culto desinteressado e<br />
coberto.<br />
O sr. director das obras publi-<br />
leal, não encontra na Figueira mu-<br />
Esta opinião é um pouco diffecas desconsiderára toda a gente que lheres formosíssimas, mais que as<br />
rente da minha.<br />
O sr. Estevão Parada riu-se do<br />
se afastou das obras de restaura- patrícias dei Cid?!. . .<br />
Eu acho que o respeito da Arte<br />
que nós fizéramos, e continuou a resção,<br />
Páris de chapéu de palha, en-<br />
impõe a conservação em qualquer<br />
leiado nas ciladas, que em certa<br />
tauração com mais ardor, com mais<br />
monumento de qualquer obra de<br />
noite de luar, ao rumor longinquo e<br />
amor.<br />
A todos, menos a mim. O sr. di-<br />
caracter artístico, embora posterior<br />
melancholico das ondas, amor arrector<br />
tralou-me sempre com toda mou brandamente, ha de entregar o<br />
á edificação do edificio.<br />
Foi então que o sr. director das<br />
a consideração. Levou-me um dia pômo ás filhas de Caslella, sem que<br />
A obra gothica feita para deco-<br />
obras publicas fez retirar de Coim-<br />
a Santa Cruz a vêr as obras, man- vozes de protesto exijam a revisão<br />
rar uma parede romanica, o nicho<br />
bra o sr. Estevão Parada.<br />
dou que na direcção das obras pu- da sentença!?. . .<br />
renascença aberto num templo go-<br />
0 motivo era velho...<br />
blicas me mostrassem todos os pla- Ha palavras suaves, que têm a<br />
thico são, quando obras d'arte, coi-<br />
repercussão dos aggravos. E este é<br />
nos de restauração, ~convidou-me<br />
sas respeitáveis, indicam problemas<br />
o caso.<br />
Mas que se importam vv. ex."<br />
para fazer parte d'uma commissão... Pôde Fernão com o seu tempe-<br />
postos e resolvidos.<br />
com mexericos das obras publicas ?<br />
ramento aventuroso, de flôramarella<br />
E esta a nossa opinião, todavia...<br />
Deixemos o assumpto ás nossas<br />
E por isso que estes^artigos são ao peito, continuar a consumir-se<br />
serventes.<br />
obra da ma»''feia ingratidão. nas salas do Casino, segredando e<br />
Todavia a corrente moderna que<br />
rindo, despertando reparos de des-<br />
I O' . T. C. peito e ciúmes mordazes, e quiçá<br />
Só, o sr. director das obras pu- vem atraz dos trabalhos dos gran-<br />
merecidos (?)..,. O que não póde<br />
blicas começou a hostilizar Antonio des críticos inglêses é a da opinião<br />
Sempre ó muito modesto!<br />
A. Gonçalves.<br />
de A. A. Gonçalves.<br />
Erro que apparecesse — era William Morris apresenta como Diz o nosso prezado collega O<br />
d'elle, dizia baixinho o sr. director; um grande sonho do futuro retirar Paiz:<br />
coisa censurada, nunca se discutia, da cathedral de Westminster, o «O sr. Campos Henriques, que ba<br />
pouco declarou á commissão do cen-<br />
o sr. director limilava-se a sorrir e grande pantheon inglês, lodos os<br />
tenário da índia que o governo não<br />
a dizer: eu não sei nada, elle é quem monumentos funerários levantados podia fazer a Avenida do Aterro aos<br />
manda.<br />
á memoria dos grandes reis, dos Jeronymos, mandou construir em Guimarães<br />
a Avenida Campos Henriques,<br />
E o sr. Antonio Augusto Gon- grandes heroes, dos grandes pen- que custa mais do que a quantia que<br />
çalves ia ficando com as responsasadores, dos grandes poetas e dos aquelle melhoramento indispensável á<br />
cidade de Lisboa custaria!»<br />
bilidades dos erros do sr. director grandes artistas.<br />
das obras publicas que, quando ap-<br />
Ê que á avenida de Lisboa, por<br />
parecia coisa que a opinião publica<br />
certo, não poriam a alcunha que<br />
VV. ex." comprehendem esta<br />
pozeram á de Guimarães.<br />
louvasse, tomava generosamente a enormidade? Um inglês a pedir pelo<br />
paternidade da opinião.<br />
respeito da Arte que se retirem do<br />
pantheon os tumulos das glorias da<br />
Foi exonerado o sub-delpgado<br />
desta comarca, sr. Abílio Duarte<br />
Examinemos, porém, o plano e as patria porque não deixam vêr em<br />
Dias d'Andrade, e nomeado para<br />
idéas que sobre a restauração ex- toda a sua purêza o sonho d*um ar- esse logar o sr. José Maria de Ma*<br />
pendia A, A. Gonçalves,<br />
tista antigo!<br />
galhães Pimentel Cochofel<br />
!<br />
Providencias!<br />
Na terça feira deu-se na linha<br />
de Cintra, em Chellas, um lamentável<br />
desastre, sendo horrivelmente<br />
mutilado pelo comboio e morrendo<br />
instantaneamente, um rapaz de 19<br />
annos, que foi apanhado pela m"achina<br />
do tramway, n.° 277; quarenta<br />
horas antes era esmagada<br />
também pelo comboio, na linha de<br />
Cascaes, em frente do Aterro, uma<br />
pobre mulher.<br />
A repetição d'estes factos revela<br />
claramente quanto eslá sendo descurado<br />
o serviço de fiscalização das<br />
linhas. Bom será que o governo<br />
tome as devidas providencias, se os<br />
syndicatos e divertimentos para isso<br />
lhe deixem tempo.<br />
A expedição á Lunda<br />
Foi ordenado pelo ministério da<br />
marinha que se procedesse criminalmente<br />
contra o major Henrique<br />
de Carvalho e contra todos os commerciantes<br />
que cooperaram com elle<br />
nos grandes escândalos da expedição<br />
á Lunda. A syndicancia que se<br />
fez em Lisboa e Angola descobriu<br />
os mais extraordinários furtos. Não<br />
nos surprehende que elles se déssem;<br />
o que nos surprehende é que<br />
a syndicancia os revelasse e que o<br />
governo mande proceder contra os<br />
seus auctores. Este procedimento é<br />
completamente excepcional.<br />
Acerca d'esle assumpto conta um<br />
jornal de Lisboa que o estandarte<br />
para a pxpedição, que se disse ter<br />
sido bordado e offerecido por uma<br />
commissão de damas, apparece comprado<br />
por 170$000 réis, e que numa<br />
casa commercial de Lisboa se fizeram<br />
os seguintes fornecimentos:<br />
1 piano melodico e accessorios,<br />
415$000 réis; 4 caixas de perfumarias,<br />
62$000; 2 relogios de parede,<br />
79$>000; 7 peças de tecidos<br />
para reposteiros e accessorios, réis<br />
6501000; 4 rewolvers, 373$000;<br />
é esquecer o que deve á patria até 4 espingardas e accessorios, 750$;<br />
a iniquidade de desdenhar em pu- 8:000 cartuchos, 745$000; 4 carblico<br />
as suas conterrâneas, num tucheiras, 68$000; 843 melros de<br />
certamen gratuito, onde a imparcia- setim, 843$000; i chronometro de<br />
lidade não achou logar.<br />
algibeira, 415$000; 36 colheres,<br />
O chronista Fernão Silvestre é 48$000; 3 caixas de gôrros de lã,<br />
bem menos integro, que o seu an- 405$000; uma bicycleta, 192$000;<br />
tecessor Fernão Lopes!<br />
6 peças de bretanha, 305$000; 2<br />
E recordarei a Fernão, — por- canôas de desarmar, 396$000; 6<br />
que sempre a energia das impres- campainhas electricas, 43$000; fasões<br />
novas desperta exemplos vezendas diversas, 249$000; semenlhos,—<br />
que por desígnios menos tes diversas, i27$000.<br />
audaciosos e palavras de menor temeridade,<br />
alguns mancebos mal Accrescenta o mesmo jornal que<br />
contidos morderam o pó em campo só á firma Bensaude, Bacellar e<br />
aberto, diante do estoque vingador Freitas ficou o governo devedor de<br />
da cavalheirosa Maupinl... 54:000^000 réis, sendo 32 contos<br />
Outros tempos, em que a flôr da de carregadores.<br />
gentileza era cultivada com esme- E tão inauditas roubalheiras não<br />
ro!...<br />
constituem um caso esporádico; ca-<br />
Agora saiba Fernão Silvestre que sos d'estes todos os dias se estão<br />
a estas horas sentiria as primeiras dando,<br />
W.