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missão; o sr. Bispo Conde propoz<br />
que, como satisfação devida, se despedisse<br />
o empregado...<br />
O sr. director das obras publicas<br />
allegou que esse empregado recebia<br />
uma pequena gratificação pela obra,<br />
que era pobre...<br />
O sr. Bispo-Conde offereceu-se<br />
para pagar a remuneração do seu<br />
bolso,..<br />
O sr. director disse que era muito<br />
bem; mas que não linha quem o<br />
substituísse...<br />
E o sr. Gonçalves não tornou a<br />
entrar na Sé Velha.<br />
O sr. Bispo-Conde mandou então<br />
lagear a Sé Velha.<br />
E o sr. director das obras publicas<br />
pôz-se a lagear a Sé Velha e a<br />
reconstruir um muro exterior, obra<br />
modesta e, talvez, dentro da sua capacidade<br />
artística.<br />
O empregado do sr. director das<br />
obras publicas, tendo melhor collocação<br />
noutra parle, pediu a transferencia<br />
...<br />
E o sr. director das obras publicas<br />
não consentiu, por poder parecer<br />
uma satisfação dada a Antonio<br />
Augusto Gonçalves 1...<br />
O que se eslá fazendo na Sé Velha<br />
é uma vergonha para esta cidade.<br />
Mesmo que a restauração fique<br />
boa, mesmo que a actividade e o<br />
zelo do empregado do sr. director,<br />
cujo nome não dizemos exactamente<br />
por lhe respeitarmos a actividade,<br />
o interesse pela obra, e a honestidade,<br />
mesmo que elle por acaso<br />
acertasse, nem mesmo assim o facto<br />
deixaria de ser vergonhoso; porque<br />
indicava da parle de quem o<br />
consentia falta de competencia, porque<br />
se não pôde encarregar a restauração<br />
artística d'um monumento<br />
do valor da Sé Velha a quem não<br />
tenha dado provas publicas de muito<br />
amor pela arte, de muito respeito e<br />
de muita erudição.<br />
Entregar a um fiscal dos caminhos<br />
de ferro uma restauração de<br />
caracter artistico é máo, e não deve<br />
surprehender-se ninguém, se entre<br />
os motivos decorativos, figurar até o<br />
amor pela profissão...<br />
VV. ex." riem-se ? Então leiam<br />
isto que escreveu Ramalho Ortigão.<br />
Na Madre de Deus, onde aliás o<br />
primitivo portal da rainha D. Leonor<br />
foi discretamente reconsliluido<br />
na moderna fachada do edifício, temos<br />
o infortúnio de ir encontrar no<br />
consecutivo restauro de uma fabrica<br />
do tempo de D. João III novos<br />
capiteis de columnas, nos quaes em<br />
vez da ornamentação vegetal do<br />
nosso século XVI se vê reinar nos<br />
enlablamentos a figuração absolutamente<br />
imprevista e inopinada, de<br />
uma locomotiva de caminho de ferro,<br />
arrastando fumegante o respectivo<br />
comboyo, tudo lavrado mui<br />
laboriosamente em pedra e demandando<br />
um túnel.<br />
Imaginem vv. ex.<br />
na Sé Velha.<br />
RESISTENCIA — Quinta feira, 10 de setembro de 1896<br />
um caso assim<br />
Por esta historia me lembra ago<br />
ra que eu linha promettido a vv<br />
ex. as conlar-lhe a historia d'um<br />
Bispo.<br />
E não ia eu faltando á minha pa<br />
lavra? 1...<br />
Este senhor director faz-me per<br />
der a cabeça...<br />
Ahi vae a historia.<br />
Era uma vez um bispo chamado<br />
D. Francisco de Lemos. Um dia, ao<br />
passar, olhou a torre da Sé Velha e<br />
pareceu-ltie um monte de pedra<br />
cal sem arte nem figura.<br />
Foi-se á torre e apeou-a e ficou<br />
muito contente; porque a pedra deu<br />
para todas as obras que foi neces<br />
sario fazer.<br />
Contou o caso ao Marquez de<br />
Pombal que achou bem e aproveitou a<br />
occasião para fazer estylo e chamar<br />
á torre Padrasto sombrio e infimo<br />
uma linda phrase que até parece do<br />
senhor... director.<br />
O sr. director das obras publicas<br />
tem o mesmo ponto de visla.<br />
E necessário entulho? Vae-se ao<br />
claustro, é um instante emquanto<br />
se arranja.. .<br />
E verdade que depois se pode<br />
insidiosamenle dizer que os outros<br />
mentem quando lhe chamam nomes<br />
feios; mas o que o sr. director<br />
das obras publicas não pode negar<br />
que da Sé Velha saíram pedras<br />
lavradas para os canos d'esgolo.<br />
Para os canos d'esgoto!<br />
E não pode negar porque no ln<br />
stituto lá está uma com o lei lo do<br />
cano já aberto 1<br />
Verdade é que o sr. director pode<br />
dizer que fui eu que o abri.<br />
A afFirmação seria bastante original!.<br />
..<br />
Não ha de também fallar o apoio<br />
d'um ministro a s. ex. a<br />
Ha de também ter o seu Pom<br />
lai, um Pombal modesto, como a<br />
sua envergadura de reformador, um<br />
Pombal pequeno... um Pombalinho...<br />
T.C.<br />
Na Hespanha<br />
A junta central da reunião repu-<br />
)licana, que hoje representa indiscutivelmente<br />
todos os republicanos<br />
lespanhoes, lêm effeiluado mais<br />
duas reuniões, além da que já noticiámos.<br />
Das deliberações tomadas<br />
nessas reuniões, sabe-se que o partido<br />
republicano está resolvido a<br />
recorrer a meios extremos para<br />
operar nas instituições politicas do<br />
país uma transformação que evite<br />
a sua completa ruina.<br />
E o que affirmam os jornaes re-<br />
publicanos. El País exprime-se asassim:<br />
«Nâo nos tínhamos enganado. A<br />
união republicana não perderá o tempo<br />
em actos estereis, que consomem força<br />
e prestigio; quando checar o momento<br />
opportuno não hesitará em pedir ao<br />
povo republicano e á opinião nacional<br />
o seu concurso, dando a união repu*<br />
blicana, antes de todos, o exemplo do<br />
sacrifício pessoal e da maior abnegação.<br />
Assim responde a união republicana<br />
aos que perdem o tempo a prop-ilar<br />
boatos agourentos sobre a sua força.»<br />
E alludindo á segunda sessão<br />
d'essa junta, diz ainda a mesma folha:<br />
«A junta central, ao contrario do que<br />
se affirma, não lançará nenhum manifesto<br />
ao país, nem fará outra manifestação<br />
legal senão a deliberada na<br />
primeira sessão: o comicio de Madrid.<br />
De resto, nem mais nada dentro da<br />
lei.<br />
A opinião republicana péde com<br />
urgência factos, faclos.. .<br />
E factos, factos, pedirá a junta cerj-'<br />
trai da união republicana á opinião e<br />
ao povo.<br />
E os que tenham de saber mais,<br />
sabel-o-hão a seu tempo».<br />
A allitude do partido republicano<br />
está causando graves apprehensões<br />
ao governo, que já recorre a medi-<br />
das extraordinarias.<br />
Em Barcelona continua a suspensão<br />
das garantias constitucionaes,<br />
affirmando-se nos centros officiaes<br />
que ella subsistirá emquanto<br />
se não organizar naqnella cidade<br />
um novo corpo de policia judicial<br />
Ha quem pense até que a suspensão<br />
de garantias será applicada a outras<br />
localidades, em que se lem dado<br />
alteração da ordem publica.<br />
Está averiguado que o partido<br />
"epublicano nenhumas responsabi<br />
lidades lem nesses factos que bem<br />
revelam os desejos do povo hespanhol.<br />
O partido republicano, porém, que<br />
os não provocou, não pode deixar<br />
de atlender a elles para traçar<br />
norma do seu procedimento. A Hespanha<br />
revolta-se contra uma monar<br />
chia que a arruinou e o partido re<br />
publicano trahiría a sua missão se<br />
a desemparasse neste momento.<br />
Que o não fará, bem claramente<br />
o evidenceiam as resoluções tomadas<br />
pela sua junta central. Manifes<br />
tação legal, só a do comicio de<br />
Madrid.<br />
Não é necessário dizer mais.<br />
AS OBRAS DOS JERONYMOS<br />
O concurso para a conclusão do<br />
edifício dos Jeronymos e construcção<br />
do additamento projectado foi<br />
um escandalo, que tem dado logar<br />
a peripecias cómicas e reclamações<br />
tão justas como inefficazes.<br />
Um concurso de architectura<br />
-e produza. A imprevidência e a dissipação<br />
do Estado nas edificações que<br />
elle dirige, são o mais afUictivo phe<br />
nomeno de Imbecilidade na administração<br />
artística dos dinheiros publico»<br />
E-ua cataslrophe, de todas a mais estúpida,<br />
não é sómente uma desdita publica,<br />
é urna vergonha nacional, que<br />
já não inspira laslima, inspira troça.<br />
Basta-nos relancear os olhos ás contas<br />
do thesouro, para reconhecer com<br />
espantosa evidencia que rias obras publicas,<br />
em Portugal, se tem consumido<br />
neste ultimo quarteirão do nosso século,<br />
um capital medonhamente superior<br />
ao que D. João V dispendeu ern<br />
todas as phantasias architectonicas do<br />
têem-se accumulado desastrosamente<br />
erros tão grandes, tão repetidos e tão<br />
dispendiosos, que o que sensatamente<br />
ha que fazer ao presente é supprimir<br />
quanto antes esse disparatado sumidouro<br />
de dinheiro e de gosto, concluindo<br />
as obras pendentes no mais breve<br />
tempo e com a menor despêsa possível.»<br />
Dizendo em seguida que o único<br />
projecto acceitavel para a reconstrucção<br />
dos Jeronymos era o do sr.<br />
confiado ao veredictum d'um jury de<br />
Ventura Terra, conclue:<br />
militares deu em resultado esse estrondoso<br />
fiasco, que levanta protes- «Em tal logar, e em tal edificio, tudo<br />
o que não seja a realização humilde e<br />
tos vigorosos.<br />
resignada do modesto projecto a que<br />
E' a casla dos incompetentes con- me refiro, será mais um documento<br />
escandaloso para se continuar a aflirsliluidos<br />
em agremiação de amparo<br />
mar que a architectura oflicial do nosso<br />
muluo, colonia de solemnes para- tempo é a consagração publici da inésitas<br />
que occupam as mais proemipcia da geração a que pertencemos.<br />
Por ultimo, supponho ainda que o<br />
nentes posições da gerencia pu- governo não tem direito de gastar um<br />
blica !<br />
único ceitil em obras nacionaes ou<br />
em adiantamentos, de qualquer impor-<br />
Na reconstrucção dos Jeronymos, tancia que sejam, para a celebração do<br />
já celebre pelos desvarios reles Centenario da índia, emquanto de ao<br />
da mais phenomenal.imbecilidade, pé da Torre de B^lem não remover o<br />
gazometro que ainda lá está, repre-<br />
ajunta mais este tilulo de inépcia sentando a mais descarada affronta de<br />
para demonstrar quanto são incor- canalhismo que jámais se fez ao pundonor<br />
histórico e á dignidade artística de<br />
rigíveis e cabeçudos os processos um povo»<br />
da administração portuguêsa!<br />
Em seguida damos alguns pe-<br />
La Tribuna, jornal de Roma, diz<br />
ríodos d'uma carta que o sr. Ra-<br />
ser possivel que o rei Humberto<br />
malho Ortigão publicou sobre esta abdique da coròa de Italia em seu<br />
queslão palpitante.<br />
filho Victor Manuel, príncipe de<br />
Nápoles, depois do seu casamento<br />
«A primeira, a meu vêr, das condi- com a princesa Helena de Monteções<br />
de uma construcção nacional, no<br />
estado economico em que ao presente negro. A este boalo não será extra-<br />
se acha o governo do nosso país, é a nho o revez que o exercito italiano<br />
da modicidade de preço. Uma edifica- soffreu na Africa e o tractado de<br />
ção de luxo num país individadn e po- paz que pretende celebrar-se com<br />
!>re, é, desde logo, artisticamente vi-<br />
Menelik.<br />
ciada e falsa, porque ínvolve um ridículo<br />
erro administrativo, e toda a as- Humberto julgar-se-ha despresneira<br />
é da sua natureza inesthetica, tigiado desde que o seu nome figura<br />
qualquer que seja a orbita em que ella num tratado ao lado d'um imperador<br />
semi-barbaro. E o caso não é<br />
para menos.<br />
Se se déra abdicação, é provável<br />
que a polilica externa da Italia soffra<br />
uma grande alteração. A Italia separar-se-ha<br />
da tríplice alliança, que<br />
Ião funesta lhe tem sido.<br />
O sr. ministro do reino dispensou<br />
do exame de desenho um alumno<br />
que vem matricular-se na faculdade<br />
de Direito. O motivo da<br />
dispensa é fallar a esse alumno o<br />
seu reinado, com a diflerença de que braço direito.<br />
O artigo do fundo o nosso tempo não produziu ainda a<br />
minima coisa que se possa comparar<br />
Transcrevemos do nosso preza-<br />
em arte, a qualquer dos monumentaes<br />
díssimo collega A Marselheza o noedifícios<br />
que nos deixou o século pas- O nosso prezadíssimo amigo e<br />
tável artigo A revolução pacifica do sado.<br />
prestimoso correligionário sr. dr.<br />
sr. Dias Ferreira.<br />
Os nossos modernos carrilhões de José Bruno pediu em casamento a<br />
Mafra, que são numeiosissimos, não ex,<br />
tangem para o povo os seus doces<br />
Largas conferencias tem havido minuetes, como aquelle com que tao<br />
entre o sr. Hintze Ribeiro e os mem- despreiníadamente nos dotou um rei<br />
iros da junta de credito publico absoluto e despotico. Repicam agora<br />
Sobre os motivos que as deteimi- unicamente em surdina, cantiga de<br />
natureza bem diversa, para encanto<br />
nam correm diversas versões. E' exclusivo dos priveligiados que no re-<br />
)ara aplanar attrictos que se levangimen liberal substituíram com grantaram<br />
entre o presidente e os vogaes íissima vantagem — para elles — os<br />
da junta, dizem uns; é para obter :apitães-móres, os fidalgos, os com-<br />
um adeanlamenlo para a compra rnendadores, os corregedores, os almotacés<br />
e os escripvões da puridade.<br />
dos navios de guerra, opinam ou-<br />
Refiro meão parasitismo dos traficantes<br />
ros ; trala-se da reforma da secre- políticos, dos beleguins eleitoraes, e<br />
aría, segredam os jornaes assala- dos agiotas.<br />
riados pelo governo. E, afinal, o Não vejo que tal desdem de econo-<br />
verdadeiro motivo tarde se apurará. mia nos domínios da arte oflicial spja<br />
uma norma invariavel de todas as ad-<br />
Cerlo é, porém, que tantas conministrações do mundo. Em Paris, por<br />
vencias, tão repelidos conselhos exemplo, onde se vae agora construir<br />
de ministros, mostram que o barco um annexo ao museu do Luxembourg,<br />
ministerial está em perigo.<br />
impõe-se ao coristructor a máxima parcirnonia<br />
de despêsa, prohibe se-lhe o<br />
emprego de todo o materialque nâo seja<br />
Foi agraciado com o grau de madeira e o tijolo, e prescreve-se<br />
que a fachada da nova construcção<br />
official da ordem de S. Thiago o sr.<br />
eja unicamente ornamentada de fo-<br />
Charles Lepierre, distincto profeslhagens e de flôres vivas. Ao mesmo<br />
sor de chymica na Eschola Indus- tempo rejeitam-se ao distincto engetrial<br />
Brotero.<br />
nheiro Devic os seus successivos projectos<br />
de um edificio para a futura Exposição<br />
Universal, pela razão de que<br />
Satu para S. Gião, Cêa, o sr. Manuel as suas lindas construcções lêem o in-<br />
Joaquim Massa, secretário geral do conveniente—único—de serem caras.<br />
governo civil.<br />
Nas obras do annexo dos Jeronymos<br />
ma sr. a D. Maria de Lencastre,<br />
interessantíssima filha do sr. conselheiro<br />
D. Luiz de Menezes e Lencastre<br />
e nela dos fallecidos viscondes<br />
de Maiorca.<br />
Saiu honlem para Espinho com sua<br />
ex. ma familia o nosso prezado amigo<br />
e conceituado clinico d'esta cidade,<br />
sr. dr. José Antonio de Sousa Nazareth.<br />
OS ASSASSINOS DE STAMBULOF<br />
O julgamento dos presumidos assassinos<br />
do estadista búlgaro Stambulof,<br />
cujo processo dura ha mais d'um anno,<br />
deve realizar-se em outubro proximo,<br />
em Sofia.<br />
O principal accusado é Georgief, que<br />
foi secretario do major Panitza, tendo<br />
por co-réus Tufeklchief, cujo irmão foi<br />
mariyrizado na Tcherna Djamia, e Atzof,<br />
o cocheiro que conduzia Stambulof no<br />
momento do assassínio.<br />
Os outros accusados, Halju, Stafref<br />
e Zwelkof, fugiram.<br />
No processo figuram mais de cem<br />
testemunhas, e entre estas Petkof, o<br />
amigo intimo de Stambulof, Grekof,<br />
chefe actual dos stambulovistas, e talvez<br />
também Natchevitch, quo passa<br />
por ter sido o mais perigoso inimigQ<br />
de Stambulof.