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Obra Completa

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Litteratura e Arte<br />

BALLADA<br />

D'um bosque verde de loureiros sáe<br />

Ella, toda em marfim e oiro.<br />

De marfim o corpo, d'oiro os seus cabellos.<br />

Baixos os olhos, numa nuvem d'oiro<br />

anda a boiar o seu olhar azul, como se<br />

se desfizessem a borboletear as suas<br />

pestanas loiras.<br />

Vae campos fóra, e a ponta dos seus<br />

cabellos levanta-se leve a ondear no ar,<br />

como vestido leve d'uma bailadeira agitado<br />

por dançar suave.<br />

Riem as fontes, passam os rios a murmurar<br />

baixinho.<br />

Até o vento pára ao Ella chegar e se<br />

põe a andar com ella, devagar.<br />

Ao ladod'Elle, sem o vêr, passa Ella,<br />

e Elle que ia a debruçar-se para beber,<br />

vae-se atraz d'Ella a andar a mêdo.<br />

RESISTENCIA — Quinta feira, 10 de setembro de 1896<br />

Ainda vive a papoila que hontem<br />

te vigiou o somno. . .<br />

ELLE. Dormir! Dormir, dormi<br />

ria eu no manto dos seus cabellos<br />

loiros.<br />

Gobrem-na toda, como as seáras<br />

o Campo. Não ha papoila mais vermelha<br />

que o alto do seu sein.<br />

O ceu é muito doirado e a sua figu<br />

ra loira quasi desapparece comida da<br />

luz d'oiro do ceu.<br />

De repente apaga-se o ceu e de re<br />

pente se faz a escuridão.<br />

Só se vê ainda um momento o seu<br />

vulto, que afinal se desfaz como um<br />

perfume leve.<br />

Carta de Lisboa<br />

Libboa, 28 de agosto de 1896<br />

Chegou hontem das Caldas o sr.<br />

D. Carlos e esse simples facto foi<br />

motivo para que os jornaes monarchicos<br />

se desfizessem em commenlarios<br />

gloriosos ao soberano.<br />

Tal houve que julgou a volta das<br />

Caldas mais gloriosa que a volta<br />

d'uma guerra em que o Bragança<br />

triumphasse.<br />

Nos artigos escriptos a tal respeito<br />

tiola-se todavia a banalidade<br />

A proposito do caso tenho ouvido<br />

algumas informações curiosas. Todavia<br />

nada se saberá, creio eu, emquanto<br />

não fôr pronunciada a sentença<br />

do tribunal arbitral de Berne<br />

sobre a indemnização que teremos<br />

de pagar por termos rescindido o<br />

contraclo do caminho de ferro em<br />

Lourenço Marques com Mac-Murdo<br />

Em todo o caso ahi vão algumas<br />

histórias que lenho ouvido:<br />

1.* Diz-se que a indemnização<br />

nunca será inferior a 400 contos.<br />

Não tendo nós dinheiro para isso,<br />

affirma-se que Rothschild, generoso,<br />

Com tantas claras luzes quebrava-se<br />

o nariz esbarrando a cada<br />

passo com as esquinas.<br />

Francamente, se a esses pobres<br />

homens que laes coisas escrevem,<br />

fosse possível imaginar-lhcs talento,<br />

era caso para dizer que sabiam ser<br />

ironicos alé á crueldade.<br />

Assim, são simplesmente parvos.<br />

x<br />

A FONTE. Aonde vaes? Anda cá,<br />

vem matar a sêde.<br />

ELLE. Quando Ella sorri, abremse<br />

no rosto umas cóvas pequeninas,<br />

como as que faz na terra a agua<br />

das fontes a sair aos borbotões, a<br />

rir.<br />

E as covinhas da sua cara parecem<br />

trasbordar de beijos.<br />

Oh 1 Não poder eu bebera fres<br />

cura d'aquelles beijos.<br />

OS RIOS. Onde vaes sem olhar?<br />

Vê a tua imagem. Quando tu passas<br />

começamos nós a andar mais<br />

devagar para tu te vêres melhor, e, se<br />

o VENTO vem a correr para brincar<br />

comnosco, logo nós nos pomos<br />

a murmurar, e o Vento pára, e tu<br />

vês-te melhor na agua socegada.<br />

Olha os salgueiros, como elles se<br />

miram na agua...<br />

Vieram a correi 1 O centenário da índia parece<br />

definitivamente liquidado.<br />

E pena.<br />

Sempre queria vêr como nos<br />

offerecerá 18:000 contos ao governo<br />

da chapa e o cançasso de quem se<br />

diriam a todos nós onde está a<br />

português para pagar a indemniza-<br />

ELLE. Não vejo nada! Onde es vae cansando de dizer asneiras. De<br />

índia portuguêsa.<br />

ção e para obras no porto de Lou-<br />

tou eu ?...<br />

resto, o rei não lê esses jornaes e o<br />

renço Marques, com a condição<br />

x<br />

povo muito menos. Do que resulta<br />

UMA BORBOLETA. Amasie, en-<br />

d'esta importante possessão ser<br />

o rei andar como um bom viveur<br />

Lisbôa diverle-se.<br />

cegueceste. Eu amei e vou mor-<br />

explorada por uma companhia —<br />

sem que nada o preoccupe e o povo<br />

Milhares de bebedeiras no senhor<br />

rer.. .<br />

parece troça — com uma direcção<br />

andar pensando como isto acabará.<br />

da Serra e na Atalaya.<br />

portuguêsa.<br />

O VENTO. Abre, abre a tua boc- Ha de acabar, é certo.<br />

D'ahi tiram os monarchicos a<br />

2.° Ha lambem uma versão que conclusão de que o país nada em<br />

ca, e deixa encher teu peito.<br />

x<br />

se refere á constituição de uma dinheiro.<br />

Eu trago o arôma de todas as flô-<br />

companhia com capitaes extrangeires,<br />

o perfume de todos os fructos, Boas informações dão-me a co-<br />

Todavia isto é mentira.<br />

ros para fazer as obras no porto<br />

a frescura das fontes e ribeiros. nhecer que o governo tanto se ap<br />

Mas como explicar tamanha festa,<br />

de Lourenço Marques, mediante<br />

Rasga, rasga os teus vestidos e proximou da Inglaterra que se<br />

com tanta falta de dinheiro.<br />

certas concessões.<br />

deixa beijar teu corpo a arder. afastou de mais das outras nações<br />

Muito simplesmente:<br />

Calcule-se o que será.<br />

O resultado é que a Allemanha<br />

O povo, como vê isto perdido,<br />

ELLE. Nunca mais, nunca mais<br />

Além d'estas duas informações,<br />

pretende apoderar-se da bahia dos<br />

trata de integrar os seus calotes no<br />

vêr a terra que me amou.<br />

que são as principaes, outras mui- Grande Cão Nacional.<br />

Tigres que nos pertence e a França<br />

Porque não nasci eu cego, portas<br />

são segredadas, não havendo a<br />

nos faz uma guerra financeira,<br />

X<br />

que havia eu de encontrá-la e sen-<br />

menor duvida de que alguma coisa<br />

temerosa.<br />

tir a sua imagem a queimar-me o<br />

se trama no extrangeiro a propo- Parece que vamos ter novos im-<br />

O governo, eslá claro, não se<br />

olhar como uma braza ?!. ..<br />

sito d'aquella colonia.<br />

postos. Mais um motivo para que<br />

importa com isso e cura unicamente<br />

os patriotas grilem pela Carta.<br />

UMA VOZ. Socega. Sabes quem de saber como ha de mentir todos<br />

x<br />

eu sou ?<br />

os dias ao publico por meio da sua<br />

João de Menezes.<br />

imprensa, que nunca attingiu, como<br />

Os patriotas que se desfaziam<br />

ELLE. Conheço a tua voz. hoje, um gráo de tanto cynismo e<br />

em contumelias perante a lealdade<br />

UMA VOZ. Não, não me conheces! tanta desfaçatez.<br />

inglêsa, a proposito da palhaçada<br />

da ilha da Trindade, andam um<br />

Ouviste uma voz assim um dia, quan-<br />

do campo e, ao<br />

x<br />

pouco encavacados com o bombardo<br />

ao teu lado passou a soluçar a Dôr<br />

deamento de Zanzibar.<br />

saltar na agua, pararam a vêr-se e que è minha irmã.<br />

De todas as terras do Alemlejo<br />

a alizar os seus cabellos verdes<br />

Na verdade é para amortecer o<br />

Eras muito feliz, nem voltaste a chegam noticias de que é terrível<br />

enlhusiasmodos mais dedicados de-<br />

Olha como estão contentes; pare- cabeça.<br />

a crise do trabalho e a fome incvi<br />

fensores de Soveral e seus amigos,<br />

cem uma vaga, como as que faz lá Sabes quem eu sou?...<br />

lavei.<br />

aquella brutalidade, que não esteve<br />

em baixo o mar, parecem uma onda<br />

O governo não tem dinheiro para<br />

verde que vae a partir-se, a desfa- ELLE. Posso lá saber...<br />

longe dedar-se comnosco em 11 de<br />

dar ás camaras municipaes de fórma janeiro, o que tão illuslres patriozer-se.<br />

..<br />

UMA VOZ. Lembraste do Sol?... que algumas, como a de Elvas, são tas esqueceram prudentemente.<br />

Mas não cairão, e vê-los-has sem-<br />

forçadas a vender as suas inscripre<br />

assim, os cabellos caídos, nunca ELLE. Se me lembro...<br />

E se querem que lhes diga a verpções,<br />

para sustentarem os traba-<br />

fartos de namorarem a sua imagem.<br />

dade, parece-me que aquelles ho<br />

UMA VOZ. Pois eu sou filho lhadores.<br />

memsinhos de Zanzibar, não se sub-<br />

Olha para nós, vem banhar teu d'Elle, d'esse senhor tão rico que anda<br />

x<br />

mettendo a ameaças e combatendo<br />

corpo, e nós faremos uma janga- todo o dia a encher o mundo d'oiro<br />

da de folhas e flôres em que irá<br />

Que futuro se eslá preparando como poderam, têm algum direito<br />

Minha Mãe era muito linda, e quan-<br />

a descer teu corpo até ao mar, aca-<br />

para Portugal é coisa que nem lodos a olhar com desdem para a cara<br />

do Elle a amou era tanta a sua alericiado<br />

por todos os salgueiros.<br />

sabem ou lêm a coragem de dizer. estanhada de certos que receberam<br />

gria que a chamaram — a Lua Todavia, affirmar que a ruina, a a bofetada e beijam agora a mão<br />

ELLE. Quem me déra afogar Cheia.. .<br />

deshonra e a miséria nos estão que lh'a deu.<br />

meu corpo nos seus braços delga- Um dia meu pae fugiu e minha cercando furiosamente não é mentir,<br />

dos como as plantas que ha debai- mãe pôz-se a correr atraz d'elle.<br />

x<br />

é fallar a verdade, que ainda assim<br />

xo dagua, tão finas... . E dão a O filho do Sol só anda de noite, não se sabe toda.<br />

De todos os pontos do Alemlejo<br />

morte á gente... .<br />

como os vagabundos, é pallido, como<br />

chegam noticias da miséria dos<br />

todos os vadios.<br />

x<br />

trabalhadores. Ha fome. As cama-<br />

AS FLORES. Olha, olha, somos As vezes, quando de noite minha<br />

nós.<br />

Isto vae mal, muito mal. ras municipaes pedem dinheiro ao<br />

Mãe me encontra, leva-me pela mão<br />

Porque passas, sem nos fallar, tu<br />

E, ou tratamos por uma vez de governo, afim de darem trabalho<br />

á procura de meu pae. E eu vou para<br />

que andavas sempre debruçado so-<br />

arcar de frente com as responsabi- aos miseráveis.<br />

a não magoar, a rir, mas bem sei<br />

bre a terra a sorver o nosso arôma?<br />

lidades ou então somos homens ao O governo diz que não lem, o<br />

que elle nos fugirá sempre.<br />

Somos nós I E temos para ti, só para<br />

mar como os monarchicos.<br />

que não impede os seus jornaes de<br />

Quando a viste desapparecer ce-<br />

ti, os mais suaves de todos os per-<br />

Tentemos o ultimo esforço, que affirmarem a prosperidade do país.<br />

gaste, vê-la-has sempre, serás semfumes.<br />

..<br />

este país eslá a afundar-se.<br />

O que succederá?<br />

pre feliz . . .<br />

Isto não são phrases. Nem sabem Não sei. Mas parece-me certo<br />

ELLE. Quando se abre a sua Amar é mau.<br />

os senhores como isto está desgra- que, se o povo pedir pão em voz<br />

bocca e branquejam os seus dentes, O filho do Sol chama-se Luar, só<br />

çado. ..<br />

alta, não ha de ser precisamente<br />

não ha canteiro de jasmins mais anda de noite, como os ladrões, foi<br />

com a Carta que lhe hão de malar<br />

perfumado que o hálito d'Ella. abandonado do pae, é um vadio....<br />

J. M. a fome.<br />

Que flôr será a dos seus lábios,<br />

x<br />

tão vermelhos, d'um perfume tão<br />

T. C. Lisboa, 1 de setembro de 1896.<br />

O sr. D. Carlos continua a ser<br />

suave ?. ..<br />

Não me cansarei muito a dizer- proclamado um monarcha de virtu-<br />

OS FRUCTOS. Pára. Todo o dia O sr. Charles Lepierre, babil hes que tem feito um verdadeiro des incomparáveis, porque vem das<br />

andou a amadurecer-nos o Sol. professor da Eschola Industrial Bro- successo de gargalhada a fuga dos Caldas, porque vae para Cintra e<br />

Nunca a nossa carne foi tão dôce tero, vae remetter ao governo um jrêsos do governo civil.<br />

porque anda de chapéu desabado.<br />

e tão perfumada...<br />

importante relatorio sobre as con- Um dos que fugiram, como sabem, Estes factos são motivo de largas<br />

Pára! Vaes a morrer de fome. clusões votadas no congresso chy- estava incommunicavel.<br />

apotheoses nos jornaes do governo,<br />

Pára! Mata a tua fome!... mico que ha pouco se realizou em Ha quem diga que este facto íavendo tal que, pelo facto de o<br />

ELLE. Os seus peitos são mais<br />

Paris e de que fez parte.<br />

depõe a favor da policia que mani- chefe do Estado ter accendido um<br />

esta assim — deixando fugir os charuto ao sair do combovo, escre-<br />

*/ redondos e eguaes que duas meta-<br />

jrêsos— a nenhuma utilidade em<br />

des do mesmo fructo.<br />

Não poder eu matar a fome d'este<br />

Foi nomeado professor auxiliar os conservar sob ferros desde que<br />

amôr. ..<br />

da Eschola Industrial Brotero o outros andam á solta.<br />

nosso amigo sr. dr. Francisco da<br />

OS TRIGOS. Onde vaes tão can- Costa Pessoa. Vae reger a cadeira<br />

çado?<br />

de physica, mechanica e desenho Continuam correndo boatos sobre<br />

Pára. São horas de dormir. de machinas.<br />

a venda de Lourenço Marques,<br />

7<br />

Acha-se era uso de banhos na praia<br />

de Espinho, com sua ex<br />

veu: «E logo ao descer da carruagem,<br />

S. M. deu a lodos uma alma<br />

nova illuminando os circumstantes<br />

com as claras luzes do seu espirito».<br />

Estas claras luzes de S. M. dão<br />

uma perfeita idêa do que seria Lis-<br />

)ôa, nas noites da gréve do gaz,<br />

ma familia, o<br />

sr. dr. Antonio Maria de Sousa Bastos,<br />

distincto advogado nesta cidade.<br />

Foi ante-hontem que a caixa economica<br />

1.° de Outubro do Bairro Alto<br />

distribuiu pelos seus associados as quotas<br />

com que cada um entrou durante<br />

o anno, além do producto de outras<br />

receitas eveutuaes.<br />

Fundada ba três annos pelos srs.<br />

José Coimbra, Antonio Viauna e José<br />

Maria de Figueiredo, têm, devido a zelosas<br />

e activas direcções, administrado<br />

os seus capitaes, augmentado de anno<br />

para anno o numero de socios.<br />

No anno que acaba de findar, teve<br />

esta caixa economica um movimento<br />

de 9520765 réis. .<br />

A direcção, composta dos srs. Anuibal<br />

Ramalhete, presidente, José Maria<br />

de Figueiredo, secretario, Antonio Marques,<br />

thesoureiro e José Maximiano,<br />

vogal, foi, por proposta de um dos socios<br />

fundadores, unanimemente reconduzida<br />

para o anno proximo.<br />

A mulher nos Estados-Unidos<br />

Os seguintes dados mostram o desinvolvimento<br />

espantoso que tem tornado<br />

o movimento feminino.<br />

É nos Eitados-Uuidos onde a mulher<br />

tem mais somma de direi os.<br />

Depois da proclamação do bitl em<br />

1870, todas as profissões lhe são accessiveis.<br />

Assim se comprehende que haja<br />

ali 15:000 mulheres exercendo variados<br />

cargos, desde a secretaria da presidencia<br />

da Republica, até aos empregos<br />

do ministério.<br />

Assim, no ministério dos correios e<br />

telegraphos ha 7:000, no do interior<br />

3:000, no da fazeuda 2:000, no da<br />

guerra 250, etc., etc., com ordenados<br />

que chegam a 1800000 réis.<br />

Quauto ao ensino, nos Estados-Unidos<br />

ha 191:000 mulheres que regem<br />

cathedras, escolas e outros estabelecimentos<br />

docentes, mostrando assim uma<br />

grande superioridade sobre os 104:000<br />

homens que exercem os mesmos cargos.<br />

De todas as nações da Europa a<br />

única que se pôde comparar com os<br />

Estados-Unidos é a Inglaterra, que tem<br />

empregadas nas suas linhas ferreas<br />

25:928 mulheres, e em telegraphos e<br />

correios 8:000.<br />

Depois d'isto vêm profissões particulares,<br />

nas quaes o sexo fraco desempenha<br />

um papel muito importante,

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