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Obra Completa

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*N.° 167 COIMBRA—Quinta feira, 24 de setembro de 1896 2? ANNO<br />

Monumentos nacionaes<br />

EM PENDRIA M M G ^ R Z Í & F :<br />

Goradas as negociações para o<br />

emprestimo dos 9:000 contos no<br />

extrangeiro, resolveu o governo realizá-lo<br />

no país. Ém circulares dirigidas<br />

aos directores de estabelecimentos<br />

bancarios, annuncia-se que<br />

se recebem propostas até 1 d'outubro<br />

para a emissão das cem mil<br />

obrigações dos tabacos. Para que<br />

as propostas sejam acceitas, não se<br />

exige que os proponentes se responsabilisem<br />

pela totalidade do emprestimo;<br />

basta que tomem firmes<br />

3:000 contos de réis.<br />

Necessita o governo dos 9:000<br />

contos; mas,- quando lhe não seja<br />

possível obtê-los, 3:000 também<br />

servem. Satisfará assim alguns compromissos,<br />

cuja solução é inadiavel,<br />

tornando possível a sua permanência<br />

no poder por mais alguns mêses.<br />

Conseguido isto, pouco importa<br />

que o credito público soffra mais um<br />

formidável abalo pela confirmação<br />

de que não ha quem empreste dinheiro<br />

ao governo, até sobre obrigações<br />

que têm garantia especial.<br />

Nunca o actual governo, durante a<br />

sua já longa dicladura, attendcu a<br />

taes futilidades, e tudo denuncia<br />

que elle pretende dar mostras de<br />

espirito forte, morrendo impenitente.<br />

Proseguindo a esteira dos que o<br />

precederam no criminoso esbanjamento<br />

e immoral desperdício dos<br />

rendimentos do país, os ministros<br />

favoritos do rei, para obterem recursos,<br />

acabam de inaugurar um<br />

systema novo. As circulares, que a<br />

besbilhotice da imprensa tornou públicas,<br />

são assim como cartas d'um<br />

pobre envergonhado. O governo precisa<br />

de dinheiro, 9:000 contos faziam-lhe<br />

muilo geito; mas talvez<br />

que o emprestimo d'essa quantia<br />

cause transtorno aos amigos portuguéses<br />

a quem recorre, porque os<br />

reis da finança no extrangeiro lhe<br />

voltaram as costas. Não ousa por<br />

isso pedir tanto. Dêem-lhe alguma<br />

coisa, o que podér ser, que elle lá<br />

se arranjará.<br />

Como não*é muito exigente, algum<br />

amigo satisfará o seu pedido.<br />

O governo receberá os 3:000<br />

contos, tendo assim um allivio momentâneo<br />

nas atlribulações porque<br />

está passando.<br />

O país é que, além do novo encargo<br />

a que v O desmentido da Tarde ao que<br />

o Século affirmou, é tnais uma pro-<br />

rapazio, que não deixou<br />

único vidro!<br />

intacto um<br />

negociações que para esse fim enva da sua seriedade e do conceito<br />

O orgão e outras peças de talha valiosa<br />

já foram transferidas para a prócetou,<br />

que vem pedir aos banquei- que fórma do público. As negocia- 4 EGREJA DA VARZEA EH ALENQUER<br />

xima egreja de Triana. Entramos na<br />

ros portuguéses a totalidade ou uma ções para o emprestimo no extran-<br />

Um dos monumentos mais preciosos sacristia... um'horror! Em algumas<br />

parte d'esse emprestimo, não tendo geiro não déram resultado.<br />

do país está em risco imminente de gavetas dos sólidos arcazes de casta-<br />

duvida em recorrer a um expedien- Disse o Século e nós repetimo-lo, se converter,miro montão, de minas. nho montes de paramentos de seda e<br />

te que revela o seu descredito. affirmando que isso é uma vergonha Na capella-mór da egreja de Nossa Se- damasco, semi pôdre, cheios de traça,<br />

para o país cujo descrédito, devido nhora da Varzea jaz sepultado Damião um formigueiro no meio de velhos mis-<br />

x<br />

de Goes, o illustre chronista do reinasaes e de fragmentos de antigas ima-<br />

á politica monarchica, acaba de ser<br />

do de el-rei D. Manoel.<br />

gens de madeira. Havia mêses, talvez<br />

Ha quem affirme que não deve confirmado pelo proprio governo, Mais algumas semanas de desleixo,<br />

annos que nieguem perturbára com<br />

a imprensa tornar públicos taes fa- e intendemos que cumprimos assim e, entrado o inverno, veremos oscil-<br />

mão curiosa a acção destruidora dos<br />

ctos, porque não é o governo mas o nosso dever.<br />

lar e ruir as quatro paredes esburaca-<br />

vermes.<br />

das, que já vergam sob o peso dos te- Pobre Damião de Goes! Foi esta a<br />

a nação que se desacredita. Se o<br />

lhados desmantellados.<br />

egreja que tu encheste de dádivas va-<br />

extrangeiro recusou o emprestimo, Fala-se em que vae ser nomeada Mais algumas semanas e a historia liosas, de quadros preciosos, de finas<br />

dizem, não foi ao governo, mas ao uma nova fornada de pares. Sendo contemporânea terá de inscrever uma esculpturas, de tecidos raros, de pri-<br />

país. Occulte-se, portanto, o facto, certo, como affirmam pessoas que nova vergonha nacional nos seus anmores de ourivesaria! Neila concen-<br />

que é uma vergonha para todos<br />

suppomos bem informadas, que naes.traste<br />

o teu affecto; alli procuraste o<br />

o actual governo tem os seus dias As ruinas ficarão, pois, a cobrir tam-<br />

ultimo repouso, depois de haveres de-<br />

nós.<br />

contados, não devendo arrastar a bém lastimosamente os venerandos resdicado<br />

ao rei e á patria cincoenta an-<br />

Não pensamos assim.<br />

sua miserável existencia além do tos de um dos filhos mais illustres de<br />

nos de serviços incomparáveis, pagos<br />

O país, se alguma responsabili- fim do corrente anno, a nova forna- Portugal, no proprio anno em que a<br />

com um processo inquisitorial, iniquo,<br />

da, a dar-.se, será um meio original nação convidava portuguéses e extran-<br />

monstruoso, aos 72 annos de edade!<br />

dade tem no descredito que dire-<br />

de fazer testamento.<br />

geiros a celebrarem o anniversario do<br />

Neila depositaste finalmente os restos<br />

ctamente fere o governo, é por ter O rei irá conceder a um governo descobrimento do caminho maritimo<br />

da consorte, D. Joanna de Hargen, da<br />

tolerado, numa criminosa indiffe- moribundo elementos para fazer para a índia!<br />

illustre casa dos condes de Hargenberg,<br />

de Horne e de Monforte.<br />

rença, os desvarios e esbanjamen- opposição no parlamento! O que O grande historiador que traçou matos<br />

d'uma monarchia perdida, que<br />

não nos causará surprêsa nem a gistralmente o quadro das gloriosas Do lado do Evangelho, fronteiro á<br />

minima commoção.<br />

emprêsas do Oriente, que folheou os lapide latina, a que nos referimos, vê-<br />

parece apostada a arrastá-lo na sua Assumplos são ess'es que, dire- annaes da índia na Torre do Tombo, se o escudo da preclara senhora, ao<br />

quéda. Necessaria, como é, para ctamente, só podem interessar á como guarda-mór e chronista do rei- lado das armas dos Goes, dentro de<br />

que o credito público se restabele- politica monarchica. Nós simplesno, com insana paciência, superior cri- um retábulo do estylo da Renascença<br />

ça, uma radical transformação nas<br />

mente alludimos a elles para que tério e incorruptível penna, não terá primorosamente esculpido em már-<br />

'se,veja a que estado chegou o actual encontrado na patria uma mão protemore. instituições politicas, á imprensa regimen politico.<br />

ctora e caridosa, que lhe salve a mo- Na egreja ainda ha outros objectos:<br />

independente, a todos aquelles que<br />

desta sepultura 1<br />

quadros, azulejos, obra de talha, fra-<br />

para essa transformação podem<br />

Vae em dezenove annos que estivegmentos de esculpturas com datas e<br />

A viagem do czar; uma aventura mos pela primeira vez em Alemquer. inscripções, que merecem ser recolhi-<br />

cooperar efficazmente, corre o rigo-<br />

Não era então ainda a villa industrial, dos num pequeno muzeu local. Felizroso<br />

dever de elucidar o país sobre O czar, que é amador enlhusiasta<br />

activa e próspera que hoje satida o mente, a memória do illustre chronista<br />

de bicycletas, teve ultimamente uma<br />

a miserável situação em que se en-<br />

visitante com o rumor das suas fabri- ainda é respeitada por um pequeno<br />

curiosa aventura.<br />

contra.cas,<br />

azenhas e lagares. Parecia viver grupo de patriotas de Alemquer. Cona-<br />

Ao dar um passeio em bicycleta<br />

ainda um pouco das recordações glotituiu-se alli em outubro do anno findo<br />

Não nos illudamos.<br />

pelos arredores do castello de Bernsriosas<br />

da sua historia, a que está in- uma commissão que promove a res-<br />

Não é occultando as vergonhas torf, como passasse adeante dos<br />

dissoluvelmente ligado o nome do seu tauração da egreja da Varzea.<br />

companheiros, os príncipes Valde-<br />

por que um governo de ineptos e<br />

filho mais illustre.<br />

Figuram nella os cavalheiros mais<br />

mar e Christiano, perdeu-se em um<br />

de imbecis faz passar o país, qun bosque, onde encontrou um des- O nosso primeiro caminho foi â egre- distinctos da localidade, e com prazer<br />

este readquirirá o seu crédito no conhecido ao qual perguntou em ja da Varzea, onde prestamos homena- vêmos a digna classe ecclesiastica<br />

extrangeiro e que se melhorarão as dinamarquês que caminho devia gem â sepultura de Damião de Goes, excellentemente representada, assim<br />

seguir.<br />

Se bem que pobre e já um tanto ntla como alguns dos actuaes representah-<br />

condições da administração pública<br />

de adornos, o seu estado de consertes da illustre familia Goes.<br />

Grande foi o espanto do czar ao<br />

e a situação do thesouro. Pelo convação<br />

não era o actual, de completo e Não conhecemos os projectos de<br />

ouvir o desconhecido responder-lhe<br />

cruel abandono. Ainda alli havia cul- restauração do sr. Victor Bastos, protrario,<br />

é de toda a conveniência que em russo. Interrogado, Nicolau II<br />

to, vigilancia e alguma limpèsa. fessor da eschola industrial de Alem-<br />

o país saiba o precipício onde a soube que o desconhecido não era<br />

mais que um agente de policia russo, A lapide commemorativa, com insquer,<br />

se não por algumas noticias do<br />

monarchia o lançou, para que pro-<br />

encarregado de velar pela segurança cripção latina, havia perdido já um<br />

periodico local Damião de Goes, que<br />

cure sair d'elle, se ainda o podér pessoal do imperador.<br />

um adorno precioso, a cabeça do il-<br />

tem advogado a causa, que patrocina-<br />

conseguir.<br />

lustre eseriptor, esculpida em vulto no<br />

mos, com uma dedicação e interesse<br />

Diz-se que o czar não ficou satis-<br />

frontão que remata o lettreiro.<br />

excepcionaes.<br />

O governo não pôde contrahir no feito com a vigilancia de que é<br />

Descoberta essa reliquia da Arte, por Parece-nos, salvo melhor juizo, que<br />

objecto. Apesar d'isso, essa vigi-<br />

extrangeiro um emprestimo de 9000<br />

nós, com algum custo, a um canto da o mais urgente é obter-se um pequeuo<br />

lancia continuar-se-ha na Inglaterra<br />

contos. Assim o noticiou o Século,<br />

egreja, conseguimos que passadas al- subsidio, suíBciente para concertar os<br />

e também em França.<br />

gumas semanas fosse reposta no seu telhados, as vidraças e as portas, isto<br />

o orgão melhor informado da im<br />

logar, no que nos ajudou efficazmente é, fazer obras de conservação urgen-<br />

prensa governamental, e desneces Ítíformam algums jornaes que o presidente da Associação dos Archi tíssimas. Isto é fácil, e não admitte<br />

sario era que elle o dissésse desde ainda não receberam as pensões de tectos e Arcbeologos Portuguèges, o dilatação.<br />

que se sabia que o governo tinha sangue a que têm direito, as famí- nosso fallecido amigo J. P. Narciso da A reconstrucção do templo ou a sua<br />

lias dos militares mortos em Timor Silva.<br />

transformação, conservando-se apenas<br />

recorrido aos banqueiros portugué-<br />

no massacre de 7 de setembro de Dêmos então conta da descoberta e a capella-mór do illustre chronista como<br />

ses,<br />

1895, exceptuando a viuva do ca- da Visita á histórica egreja na Actua- núcleo do futuro edificio, é problema<br />

Dada a situação da praça de pitão Camara.<br />

lidade de 2 e 3 de outubro de 1879 que precisa ser examinado com todo o<br />

Lisboa e do Porto, no regimen de O nosso prezado collega A Voz (Folhetins: A Cabeça de Damião de Goes). cuidado, sob o ponto de vista da arte<br />

Publica, com menta:<br />

circulação fiduciaria em que nos<br />

Voltamos lá em devota romagem ha<br />

e das tradições históricas, não fallando<br />

iTodavia, ha dinheiro para todas alguns mêses. Que triste contraste I<br />

na questão dos meios. Estamos con-<br />

encontramos, seria considerar o go- as bambochatas, e os princezas, reis Telhados desmantellados, abertos por<br />

vencidos que uma quinta parte da<br />

verno ainda muito mais inepto do e rainhas, imperadores e imperatri- mil partes á Invasão das aguas; o tecto<br />

quantia orçada para essa transformação<br />

que o suppomos crêr que pretendezes de todas as Europias, estão já apainelado de castanho, desconjuncta-<br />

bastaria para conservar com critério e<br />

ae ficar sujeito, passa ria realizar o emprestimo no país<br />

convidados para o grande congresdo, vergando sob o peso de telhas<br />

com toda a segurança o venerando<br />

so das lestas coroadas em Lisboa, quebradas, cal e pedras soltas J pare-<br />

monumento, que tem uma physionomia<br />

pelo gravíssimo vexame de nâo ha- antes de tentar levá-lo a effeito no por occasião do centenário da índia. des fendidas, janellas sem grades, de-<br />

própria, consagrada por três séculos.<br />

yer quem lhe empreste no extran- extrangeiro,<br />

Registe-se e passe-se adeante,» nunciando as vidraças o tiroteio do<br />

Joaquim de Vasconcello*,

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