CADERNOS DE PESQUISA E EXTENSÃO DESAFIOS CRÍTICOS ...
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ela está associada à própria reprodução biológica. Entretanto, a reprodução social é<br />
essencialmente diferente da reprodução biológica, posto que se caracteriza pela incessante<br />
produção de coisas novas.<br />
O processo de reprodução social tem por base o trabalho, que se configura como<br />
um momento central na gênese ontológica do ser social, uma posição teleológica que pertence<br />
exclusivamente ao homem e que é realizado em resposta a suas necessidades.<br />
Por ser uma atividade fundante, o trabalho funda todas as outras posições, ou seja,<br />
ele é uma posição teleológica primária que gera a partir dele uma cadeia de complexos<br />
denominados de posições teleológicas secundárias. Um aspecto que precisa ser levado em<br />
consideração é que estas posições ao acompanharem o desenvolvimento das forças produtivas<br />
estabelecem novos comportamentos sociais, que incidem sobre a totalidade social, colocando<br />
o homem diante de situações nas quais necessita propor alternativas que servirão como<br />
elementos de continuidade da sua reprodução e da sociedade.<br />
Estreitamente ligada a esta questão Lukács destaca o complexo da educação,<br />
estabelecendo a distinção entre a educação dos animais como processo espontâneo para<br />
assegurar sua reprodução natural e a educação dos homens como parte do processo de<br />
reprodução social. Assim, o filósofo húngaro nos alerta para o fato de que a diferença que<br />
marca o comportamento das espécies animais e do homem é o trabalho, e com ele uma<br />
consciência que já não é mais um epifenômeno como nos animais. Uma vez que com o<br />
trabalho se dá o “salto ontológico” para uma nova esfera do ser – o ser social.<br />
2 A REPRODUÇÃO DO HOMEM NA SOCIEDA<strong>DE</strong><br />
O ser social, na concepção do filósofo húngaro George Lukács (1981, p.177), é um<br />
complexo de complexos de caráter histórico e dinâmico que,<br />
só existe na sua ininterrupta reprodução, a sua substância enquanto ser está sempre<br />
em transformação e consiste precisamente nisto: a mudança incessante no curso da<br />
reprodução produz continuamente os traços substanciais específicos do ser social,<br />
numa escala quantitativa e qualitativa cada vez mais ampla.<br />
Isto é, o ser social é composto de inúmeros complexos inter-relacionados entre si,<br />
em contínuo movimento, no qual os momentos sociais se sobrepõem aos momentos naturais.<br />
Embora evolua continuamente na medida em que os momentos sociais se sobrepõem aos<br />
naturais, o caráter natural do homem não pode ser inteiramente abolido, mas este se afasta da<br />
simples naturalidade e se torna mais e mais social em decorrência do seu desenvolvimento<br />
como um todo.<br />
A reprodução social é um processo que compreende dois momentos<br />
indissociáveis, a individuação e a sociabilidade, com uma dinâmica própria de<br />
desenvolvimento não encontrada anteriormente na natureza. A distinção entre o homem e<br />
outros seres naturais com relação ao processo reprodutivo começa a ser feita quando Lukács<br />
(1981, p.135) afirma que,<br />
enquanto na vida orgânica as tendências para preservar a si e a espécie são<br />
reproduções em sentido estrito, específico, ou seja, são reproduções daquele<br />
processo vital que perfaz a existência biológica de um ser vivo, enquanto, portanto,<br />
neste caso só mudanças radicais do ambiente provocam, via de regra, uma<br />
transposição radical destes processos, no ser social a reprodução implica, por<br />
princípio, mudanças internas e externas.<br />
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