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CADERNOS DE PESQUISA E EXTENSÃO DESAFIOS CRÍTICOS ...

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No decurso dessas mudanças, a reprodução na perspectiva lukacsiana é uma<br />

categoria do ser relativa às esferas orgânica e social. Isto acontece porque, originalmente, ela<br />

está associada à própria reprodução biológica. Outro ponto importante é que, o trabalho é<br />

considerado a “base ontológica do ser social, em sua justa posição na síntese da totalidade<br />

social, na relação recíproca daqueles complexos de cujas ações e reações esta emerge e tem<br />

força”, pois o trabalho “tem um significado fundante para a especificidade do ser social, do<br />

qual funda todas as determinações”. Além disso, “todo o fenômeno social pressupõe, direta ou<br />

indiretamente, às vezes muito indiretamente, o trabalho, com todas as suas consequências<br />

ontológicas” (LUKÁCS 1981, p.135).<br />

Essa caracterização do trabalho como momento central da gênese ontológica do<br />

ser social e, portanto, uma posição teleológica que pertence exclusivamente ao homem, foi<br />

apontado por Marx (1988, p. 142-43) ao enfatizar que,<br />

uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha<br />

mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o<br />

que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o<br />

favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho<br />

obtém-se um resultado que já no início deste existiu na cabeça do trabalhador, e,<br />

portanto, idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria<br />

natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que<br />

determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem que<br />

subordinar a sua vontade. E essa subordinação não é um ato isolado. Além do<br />

esforço dos órgãos que trabalham, é exigida a vontade orientada a um fim, que se<br />

manifesta como atenção durante todo o tempo de trabalho, e isso tanto mais quanto<br />

menos esse trabalho, pelo próprio conteúdo e pela espécie e modo de sua execução,<br />

atrai o trabalhador, portanto, quanto menos ele o aproveita como jogo de suas<br />

próprias forças físicas e espirituais.<br />

Para Lukács, é nesse momento em que Marx indica o trabalho como categoria<br />

ontológica central, como modelo de toda práxis social, ressaltando que todo trabalho é uma<br />

atividade que se destina a um fim previamente idealizado. E nesse momento específico,<br />

somente o homem é capaz de conscientemente determinar os meios e os objetos necessários<br />

para que seu trabalho se realize, reafirmando que na gênese de toda ação humana existe<br />

sempre a orientação para um fim específico, e a partir dessa determinação primeira são<br />

definidos ou selecionados os meios para efetivar a ação pretendida.<br />

Lukács (1981, p.49) reflete sobre a dupla função que a busca dos meios representa<br />

durante o processo de trabalho, por um lado evidenciando “aquilo que governa os objetos em<br />

questão independentemente de toda consciência”; e do outro lado, descobrindo “neles aquelas<br />

novas conexões, aquelas novas possíveis funções que, quando postas em movimento, tornam<br />

efetivável o fim teologicamente posto”. No processo de trabalho, a objetividade é<br />

reorganizada sob novas formas e relações, transformando-se em objetivações. Neste sentido,<br />

por meio do trabalho o homem tem a possibilidade de agregar novas propriedades a estes<br />

objetos e, dessa forma, conferir a eles novas funções, novos modos de atuar. No entanto,<br />

Lukács (1981, p.27) nos diz que,<br />

isto só pode acontecer no interior do caráter ontológico insuprimível das leis da<br />

natureza, a única mudança das categorias naturais só pode consistir no fato de que<br />

estas – em sentido ontológico – tornam-se postas; o seu caráter de ser-postas é a<br />

mediação da sua subordinação à determinante posição teleológica, mediante a qual,<br />

ao mesmo tempo em que se realiza um entrelaçamento, posto, de causalidade e<br />

teleologia, se tem um objeto, um processo, etc., unitariamente homogêneo. Natureza<br />

e trabalho, meio e fim, chegam desse modo, a algo que é em si homogêneo: o<br />

processo de trabalho e, por fim, o produto do trabalho.<br />

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