Prosa - Academia Brasileira de Letras
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No reino da água o rei do vinho: o triunfo <strong>de</strong> Baco n’Os lu s í a da s<br />
contextuais e intertextuais concernentes à dissidência i<strong>de</strong>ológica que atua<br />
como fator <strong>de</strong>terminante na gênese e no propósito do poema; 6. a presença<br />
e ação da água, <strong>de</strong>cisiva na constituição do sentido daquele que se auto<strong>de</strong>fine<br />
como “canto molhado”; 7. a camada trágico-lírica subjacente à superfície épica,<br />
cujas irrupções no fio diegético são responsáveis pelas estranhezas que a<br />
tradição crítica tantas vezes minimizou, quando não chamou incongruências;<br />
8. a convergência <strong>de</strong> todas estas linhas temáticas na <strong>de</strong>finição d’Os Lusíadas<br />
como um poema híbrido: épico na superfície e trágico-lírico na profundida<strong>de</strong>;<br />
9. o caráter dionisíaco <strong>de</strong>ste sentido mais profundo e as implicações do<br />
triunfo dionisíaco n’Os Lusíadas.<br />
Nestes capítulos, aprofundando a leitura com uma análise da trama semântica<br />
do texto, apresentei aos círculos camonianos as principais <strong>de</strong>scobertas que fiz sobre<br />
Os Lusíadas, pelas quais se questiona a leitura tradicional do poema, esclarecendo-se<br />
certos pontos obscuros que aos olhos da tradição crítica pareciam incongruentes.<br />
Assim proce<strong>de</strong>ndo, propus uma leitura mais avançada, mais abrangente<br />
e mais profunda, em que se resolve a tão inquirida unida<strong>de</strong> d’Os Lusíadas, não ao<br />
nível <strong>de</strong> sua narrativa, e sim <strong>de</strong> sua trama poética. Os fios constitutivos <strong>de</strong>sta trama<br />
foram matéria das observações minuciosas <strong>de</strong>senvol vidas nos citados estudos.<br />
Das incidências metafóricas ao complexo míti co-me tafórico; das plurivalências<br />
frasais e figuras <strong>de</strong> ambiguida<strong>de</strong> à combinatória múltipla <strong>de</strong> sintagmas-semas que<br />
se alinham em eixos, os quais, por sua vez, formam campos semânticos; do estudo<br />
da metáfora “<strong>de</strong>sejada parte Oriental” ao das múltiplas funções <strong>de</strong>sempenhadas<br />
por Baco no poema; da observação do fluxo aquoso que irriga o poema, impregnando-o,<br />
às incidências em que um coro <strong>de</strong> vozes dissi<strong>de</strong>ntes contradita o canto<br />
laudatório; tudo convergiu para um <strong>de</strong>svelamento d’Os Lusíadas, abrindo-nos uma<br />
compreensão <strong>de</strong> tal modo <strong>de</strong>safiadora e surpreen<strong>de</strong>nte que Silvina Rodrigues Lopes,<br />
em trecho do comentário ainda inédito, <strong>de</strong>stinado à publicação do meu livro<br />
no Brasil, afirmou:<br />
“É particularmente importante sublinhar como <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua tese, <strong>de</strong>fendida<br />
em 2001, Luiza Nóbrega fez da indagação da função <strong>de</strong> Baco no poema<br />
um elemento central para a compreensão do mesmo – ao abalar a função<br />
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