Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Geraldo Holanda Cavalcanti<br />
Mais do que isso, porém, o Nabuco que parte para a capital da maior<br />
<strong>de</strong>mocracia republicana do momento já é outro, muito diferente do que ali<br />
havia estado 30 anos antes. Em 1906, em sua primeira viagem ao Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
que aceitara a missão anterior em Londres, diz num discurso na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Direito <strong>de</strong> São Paulo, no dia 14 <strong>de</strong> setembro:<br />
“É a primeira vez que falo em público perante um auditório brasileiro<br />
no caráter <strong>de</strong> embaixador da República, <strong>de</strong> seu representante, ligado à sua<br />
sorte, <strong>de</strong>sejando que ela vença sempre todas as dificulda<strong>de</strong>s, que ela <strong>de</strong>sminta<br />
todas as minhas previsões do passado e torne impossível novas revoluções<br />
que pu<strong>de</strong>ssem interromper (...) a incontestável finalida<strong>de</strong> da forma<br />
republicana no continente americano”. 19<br />
E então, lapidarmente, como só ele sabia ser, afirma:<br />
“Eu não a<strong>de</strong>ri à República, porque ninguém tem o direito <strong>de</strong> dizer que<br />
a<strong>de</strong>re às leis e às instituições <strong>de</strong> seu país. (...) Fiz o meu ato <strong>de</strong> fé nos novos<br />
<strong>de</strong>stinos do país, meu ato <strong>de</strong> esperança em que os melhores elementos <strong>de</strong><br />
governo, as maiores aptidões, os caracteres mais puros, vão exercendo cada<br />
vez maior ascen<strong>de</strong>nte na marcha das instituições, meu ato, posso dizer, <strong>de</strong><br />
amor àquele i<strong>de</strong>al americano, i<strong>de</strong>al republicano, que não é somente i<strong>de</strong>al<br />
americano, mas também o <strong>de</strong> todo greco- latino, que o conservou sempre<br />
no altar <strong>de</strong> Péricles como a sua religião política”. 20<br />
Nabuco, Theodore Roosevelt, e logo Elihu Root. Estava formado o trio<br />
perfeito para uma promissora gestão da primeira embaixada do Brasil nos<br />
Estados Unidos. Os laços <strong>de</strong> simpatia entre Nabuco e Roosevelt se revelaram<br />
<strong>de</strong> imediato quando Roosevelt abandonou o discurso escrito para<br />
receber as cre<strong>de</strong>nciais do embaixador brasileiro e a ele se dirigiu <strong>de</strong> improviso<br />
afirmando a confiança que tinha nas boas relações futuras entre os dois<br />
19<br />
Carolina Nabuco, ed. 1929, p. 332.<br />
20<br />
Carolina Nabuco, ed. 1929, p. 333.<br />
80