Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Nabuco republicano<br />
“Eis como um observador inglês, que ficará ao lado <strong>de</strong> Tocqueville como<br />
um dos dois clássicos do século XIX sobre a <strong>de</strong>mocracia americana, James<br />
Bryce, retrata o povo americano. Não farei senão reunir os diferentes traços<br />
que ele apontou em vós. Segundo Bryce, sois um povo bem- humorado, benevolente,<br />
humorístico e otimista, educado, moralizado e <strong>de</strong> boa conduta;<br />
vossa média <strong>de</strong> temperança, <strong>de</strong> castida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> habitual integrida<strong>de</strong><br />
é um pouco mais alta que a <strong>de</strong> qualquer uma das gran<strong>de</strong>s nações<br />
europeias; sois um povo religioso; tudo ten<strong>de</strong> entre vós a tornar o indivíduo<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e seguro <strong>de</strong> si; sois um povo ativo, um povo comercial;<br />
sois impressionáveis, capazes <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>alismo que sobrepuja o do inglês<br />
ou do francês; sois um povo sem raízes, no sentido <strong>de</strong> que ninguém está<br />
preso ao solo; sois, no entanto, um povo sociável, sujeito a simpatias; sois<br />
um povo instável, mas não inconstante, sofrendo apenas rápidas mudanças<br />
<strong>de</strong> temperatura, aquecendo- se <strong>de</strong> repente e esfriando com a mesma rapi<strong>de</strong>z;<br />
sois um povo conservador, traço que a prosperida<strong>de</strong> vai acentuando. Em<br />
uma palavra, resumindo toda a sua obra, Bryce diz: ‘A América marca o nível<br />
máximo, não só do bem- estar material, mas da inteligência e felicida<strong>de</strong><br />
a que já atingiu a raça humana’”. 23<br />
E conclui:<br />
“Parece- me que figurar com tal retrato na galeria das nações, ainda que<br />
o retrato fosse por <strong>de</strong>mais lisonjeiro, o que não me parece ser, é em si uma<br />
contribuição para a civilização”.<br />
Era um verda<strong>de</strong>ira retratação <strong>de</strong> tudo quanto escrevera sobre a socieda<strong>de</strong><br />
americana em 1877. Nabuco não podia ir mais longe quando, em seu próprio<br />
país, perdia os amigos monarquistas ao reconhecer os benefícios que a<br />
república havia trazido para os costumes políticos no mundo. Tinha a clara<br />
noção do seu papel <strong>de</strong> aproximar não apenas o Brasil, mas toda a América<br />
23<br />
A parte da América..., pp. 544- 545.<br />
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