Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Nelson Saldanha<br />
coisas históricas sem perceber que o ser humano se acha no próprio centro<br />
<strong>de</strong>stes falares.<br />
Além da i<strong>de</strong>ia um tanto infantil que conceitua o historicismo como uma<br />
visão que alu<strong>de</strong> às coisas como se formassem uma “série” histórica, teve vez<br />
também (e agora pior) a sua noção como um conhecimento <strong>de</strong>stinado a prever<br />
a história. Alguns dos ocupantes <strong>de</strong>sta posição i<strong>de</strong>ntificaram o historicismo<br />
com o marxismo. Aliás, um filósofo sério como Nicolai Hartmann,<br />
falando do relativismo, ao qual rechaça secamente, diz com a maior pureza<br />
que ele é, “na Alemanha”, conhecido como historicismo. Karl Popper, cujos<br />
livros foram em certo tempo muito lidos (ou ao menos citados) no Brasil,<br />
i<strong>de</strong>ntificou-o com o marxismo, consi<strong>de</strong>rado em seu aspecto <strong>de</strong> “previsor” da<br />
história. Nada po<strong>de</strong>ria ser mais falso.<br />
ȅȅ<br />
Para adiantar a exposição, <strong>de</strong>ixamos dito que um dos pontos (se não “o”<br />
ponto) <strong>de</strong> partida do historicismo é a referência ao fato <strong>de</strong> que o homem é um<br />
ser histórico. Não cabe, advertimos, a impertinência cientificista <strong>de</strong> perguntar<br />
se a palavra “fato”, na frase anterior, se acha ajustada ao sentido que tem<br />
na linguagem científica (ou no “discurso”, como acudiriam alguns): a visão<br />
do homem e do humano como algo histórico é <strong>de</strong> fato (eis o termo novamente)<br />
uma constatação empírica, mas somente um pensar filosoficamente crítico<br />
po<strong>de</strong>rá encontrar, em tal constatação, alguma conexão com uma qualificação<br />
do humano. Sabe-se também, e isto vai como concessão ao óbvio, que só em<br />
<strong>de</strong>terminados contextos (épocas tardias, Oci<strong>de</strong>nte em crise) aquela visão se<br />
converte em um dado filosófico fundamental.<br />
ȅȅ<br />
O historicismo (conforme já escrevemos) nem sempre se apresenta perante<br />
os hábitos e os mo<strong>de</strong>los didáticos dominantes como “uma filosofia”. Para o<br />
critério escolástico, <strong>de</strong> qualquer escolástica, toda filosofia tem <strong>de</strong> se apresentar<br />
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