Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Marcos Pasche<br />
<strong>de</strong>senvolver-se em híbrido progresso? Tal é o caso <strong>de</strong> Adriano Espínola, poeta<br />
poliglota numa Babel particular, itinerante <strong>de</strong> diversos espaços e tempos.<br />
Num emblemático verso <strong>de</strong> Táxi (1986), o passageiro lírico revela nas<br />
caixas altas <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>lírio: “TUDO COMEÇA SUBITAMENTE ONDE<br />
ESTOU”. Dessa forma, cabe observar, inicialmente, como a geografia geral<br />
do poeta contamina a sua arte, e vice-versa.<br />
A poesia <strong>de</strong> Adriano Espínola chegou ao mundo em Fortaleza, capital do<br />
Ceará, cida<strong>de</strong> que oscila entre a condição <strong>de</strong> província do Brasil e metrópole<br />
do Nor<strong>de</strong>ste. Mas a estreia do poeta não evoca para si a intimida<strong>de</strong> com coqueiros<br />
nem o <strong>de</strong>slumbramento em face dos arranha-céus. Fala, favela (1981)<br />
é um livro que, sem reservas, traz o mais admirável gesto que se po<strong>de</strong> esperar<br />
<strong>de</strong> um jovem literato (durante o período <strong>de</strong> escrita, contava o autor 27 anos<br />
<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>): o grito infenso às distorções que se banalizam no mundo racional<br />
dos homens maduros, conforme se ouve em “Território (I)”:<br />
Minha cida<strong>de</strong> é meu país,<br />
meu povo, meu poema,<br />
que escrevo por on<strong>de</strong> piso.<br />
Fortaleza é minha pátria.<br />
Aqui fun<strong>de</strong>i a república<br />
<strong>de</strong> meus versos numa calçada.<br />
Meu canto eu forjei<br />
com o aço da dor geral:<br />
espada no meio da praça.<br />
Minha lei? Quem tocar<br />
nesta cida<strong>de</strong> passará<br />
pelo gume <strong>de</strong> minhas palavras.<br />
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