Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Lêdo Ivo<br />
<strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s”, que, no século XVIII, foi o mo<strong>de</strong>lo ibérico dos gran<strong>de</strong>s e<br />
numerosos léxicos <strong>de</strong> nossa portuguesa língua. É o termo gerado pela nossa<br />
civilização eletrônica, o vitorioso vocábulo invasor.<br />
Por que esse bem-amar, esse fiel e cada vez mais externo bem-querer? Na<br />
resposta, ou nas repostas que se abrem como um leque, impera a evidência<br />
<strong>de</strong> que o Aurélio é um dicionário <strong>de</strong>stinado ao usuário, seja ele o escritor que<br />
castiga o estilo como se este fosse um aluno relapso merecedor <strong>de</strong> uma boa<br />
palmatória, ou o leitor anônimo e confiante. É um dicionário para todos.<br />
E as centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> palavras que o habitam ostentam, quase sempre,<br />
o respaldo da explicação literária. Esse amparo acentua a relação existente entre<br />
a língua escrita e a língua oral – a língua dos doutos e a seminal e <strong>de</strong>ngosa<br />
língua do povo. Nesse Aurélio em que hoje se <strong>de</strong>bruça, ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> competentes<br />
e <strong>de</strong>votados pesquisadores e investigadores, a figura doce porém vigilante <strong>de</strong><br />
Marina Baird Ferreira, o apoio <strong>de</strong>bordante das abonações dá vida e vigor a<br />
textos literários nem sempre ungidos pela aura clássica. Ao lado da autorida<strong>de</strong><br />
dos mestres consagrados, formiguejam nomes humil<strong>de</strong>s ou esquecidos.<br />
Todas as vozes são vozes da língua.<br />
O nosso idioma é um tesouro que pertence a todos nós. Aurélio Buarque<br />
<strong>de</strong> Holanda Ferreira foi um guardião <strong>de</strong>sse tesouro, ao qual a passagem do<br />
tempo impõe o cuidado do acréscimo sucessivo, que o torna cada vez mais<br />
opulento.<br />
Nesta manhã <strong>de</strong> domingo, abro o meu Aurélio. Uma galáxia <strong>de</strong> palavras me<br />
ro<strong>de</strong>ia. Que frescor têm até as mais vetustas! É como se tivessem acabado <strong>de</strong><br />
nascer. São matinais como orvalho. E nessa matinalida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>m a sua esplêndida<br />
autorida<strong>de</strong> e envolvente mistério.<br />
88