Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Luiza Nóbrega<br />
E, na que se segue, trágico e lírico fun<strong>de</strong>m-se na água do pranto:<br />
Assim contava; e, c’um medonho choro,<br />
Súbito d’ante os olhos se apartou.<br />
Desfez-se a nuvem negra, e c’um sonoro<br />
Bramido muito longe o mar soou.<br />
(V, 60)<br />
Como se vê, o curso da água é um fio semântico <strong>de</strong> cariz trágico-lírico<br />
embutido no fio épico da narrativa. O que se observa seguindo-se o curso da<br />
água a <strong>de</strong>scer pelo canto:<br />
Desta gente refresco algum tomámos<br />
E do rio fresca água;<br />
(V, 69)<br />
Aqui <strong>de</strong> limos, cascas e <strong>de</strong> ostrinhos,<br />
Nojosa criação das águas fundas,<br />
Alimpamos as naus, que dos caminhos<br />
Longos do mar vem sórdidas e imundas.<br />
(V, 79)<br />
Enfim que, nesta incógnita espessura<br />
Deixamos para sempre os companheiros<br />
.................................................................<br />
Quão fácil é ao corpo a sepultura!<br />
Quaisquer ondas do mar, quaisquer outeiros<br />
Estranhos, assim mesmo como aos nossos,<br />
Receberão <strong>de</strong> todo o ilustre os ossos.<br />
(V, 83)<br />
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