águanaboca POR TERESA MELLO FOTOS EDUARDO KRÜGER Dendê e pimenta na medida certa O baianíssimo Tempero da Dadá é a principal atração gastronômica da Casa Cor Brasília A 15ª Casa Cor Brasília é um sucesso. Num único domingo, 1.749 visitantes percorreram os 44 ambientes projetados por 72 profissionais, em 1.800 m 2 de área construída e outros 6.500 de área verde às margens do Lago Paranoá, no Setor de Clubes Norte. O espaço gastronômico traz pela segunda vez uma figura conhecida: Aldaci dos Santos, ou melhor, Dadá, que trouxe de Salvador oito ajudantes para executar sua culinária sofisticada, leve, com pouquíssimo dendê e pimenta. O restaurante Tempero da Dadá, projetado por Bárbara Paiva, tem 50 cadeiras tipo medalhão, espelhos e lustre preto de cristal. Nos 90 m 2 ecoa o riso farto da chef baiana, zanzando entre a cozinha e o salão, com atendimento reforçado pelo Senac, que para lá mandou quatro professores e 6
15 alunos dos cursos de garçom e de barman. “É uma espécie de prática supervisionada”, define o maitre, professor Aragão, que recomenda logo o polvo a vinagrete como entrada. Os pratos chegam à mesa no horário da Bahia, sem pressa, e servem duas pessoas: moqueca de camarão (R$ 79), peixe na folha de bananeira com cubos de abacaxi (página ao lado - R$ 98,70), bobó de camarão (R$ 99,80). Quem não tolera frutos do mar pode experimentar o filé ou o frango com banana frita (ambos a R$ 89,90). No Café Via, criado por Carlos Weidle e Juliane Moi, o destaque é o café gourmet Santés, produzido em São Desidério, oeste da Bahia, e destinado às máquinas de espresso. “Depois de Brasília, vamos lançar em São Paulo e Curitiba”, diz o representante, Pavel Cardoso. Para acompanhar os grãos especiais, moídos e servidos quentes ou gelados, como o coquetel com groselha e suco de laranja (foto abaixo), o cardápio da cafeteria tem sanduíches e quiches, além de tortas feitas por Karim Schneider, com fatias entre R$ 6 e R$ 12. A Santa Pizza completa a área de alimentação e apresenta a pizza com pasta de bacalhau. ELA NÃO CHOROU QUANDO NASCEU. Veio ao mundo com a cara boa e com ela seguiu pela vida. Mesmo quando a situação apertava. Trabalhou muito como empregada doméstica e cozinheira. Começou menininha, lavando panelas de barro. Hoje, aos 45 anos, duas filhas e três restaurantes, a empresária e chef Dadá é paparicada pelas madames, já cozinhou em Londres e Nova York e ainda sustenta o tradicional sorriso, agora iluminado pelos anéis de metal do aparelho ortodôntico. A primeira experiência na cozinha foi um bife à milanesa: “Eu falava bife na mesa”, conta ela, às gargalhadas. Dadá gosta de cantar enquanto trabalha e não admite ninguém azedo, mal-humorado, por perto. Só perde a fome quando está com raiva e não Cadeiras tipo medalhão e lustre de cristal preto no restaurante Tempero da Dadá come cebola de jeito nenhum. Para ela, feijão com farinha é exemplo de mistura perfeita. Aos cinco anos, foi seduzida pela culinária e hoje compara: “Cozinha é igual a sexo. Cozinhar é você estar amando o tomate, amando o coentro, o azeite de oliva, o dendê, tudo o que você coloca na comida”. Nascida em Sítio do Conde, divisa com Sergipe, foi criada sem pai. A mãe, Dona Júlia, ia trabalhar na roça levando Renato, bebê de colo, enquanto Dadá vendia sardinha frita ao molho de vinagrete, na porta do mercado. “Meu sonho era ter uma boneca com cabelo”, lembra. O jeito foi fazer uma com espiga de milho verde. E ela perambulava feliz, espiando a brincadeira das outras crianças pelas janelas. Acabava sendo chamada para brincar, ficava por ali e, para agradecer, lavava panelas. Depois voltava para o barraco, feito de palha de coqueiro, onde comiam efó, prato africano feito com uma folha conhecida como língua de vaca. “Às vezes minha mãe conseguia pescar alguma coisa, a gente ralava o coco, ferventava as folhas, colocava alho, coentro, tomate, amendoim, o que a gente tinha no quintal, e fazia aquela moqueca, negona, com leite de coco e dendê. É comida de santo também”, explica Dadá, filha de Oxum. Mocinha, ela continuou trabalhando Banheira de hidromassagem com minicascata ilumidada por fibra ótica como doméstica, já em Salvador, onde também vendia bolos e mingaus nos pontos de ônibus. “Meu sonho era trabalhar numa pensão”, conta. Vieram os pratos feitos, o trabalho em restaurantes, a parceria com o cozinheiro Paulo, futuro marido. Nessa época, ela já havia perdido o irmão, vítima de atropelamento, e a mãe, falecida no hospital da Irmã Dulce. Tal como na Casa Cor, a inauguração do primeiro restaurante foi debaixo de muita água, na favela do Alto das Pombas. O casal conseguiu seis mesas de uma cervejaria e comprou fiado uma dúzia de pratos e talheres. Hoje, ela comanda três restaurantes na Bahia: no Alto das Pombas, no Pelourinho e na Costa do Sauípe. “Eu queria crescer. Dadá é uma pessoa muito humilde, mas Dadá é requintada”, define-se, circulando à vontade pelo ambiente luxuoso criado em Brasília: “Acho que na próxima encarnação vou incorporar a Dadá perua”. Além da gastronomia, a Casa Cor Brasília 2006 está cheia de novidades: banheiros com chuveiros quadrados, fabricados em metal latão cromado e funcionando em alta pressão; vaso sanitário slow close, cuja tampa desce lenta e silenciosamente graças a um amortecedor; e banheira de hidromassagem com minicascata, iluminada por fibra ótica. A galeria de arte mostra xícaras assinadas por Athos Bulcão e nichos criados pela arquiteta Silvana Andrade para valorizar ainda mais um quadro ou uma escultura. Casa Cor Brasília Até 15 de novembro. Setor de Clubes Norte, perto do Minas Brasília. De terça a domingo, das 12h às 22h. Ingressos: R$ 20 (inteira) 7