Entrevista • Rubens Ricupero Ricupero: experiência de observar crises Divulgação 40 P I B
Há luz no fim do túnel Para o embaixador e ex-ministro da Fazenda, Barack Obama e a China – a verdadeira potência emergente – podem fazer a economia global reviver em dois anos. O Brasil terá boas fichas no mundo pós-crise, mas vamos sofrer em 2009 Espero que a crise não se transforme em depressão. O Japão caiu em uma e ficou dez anos sem crescer nely caixeta e armando mendes O embaixador Rubens O senhor, que acompanhou a vida Ricupero é um observador experimentado algum momento como este? inteira a economia internacional, viu de tormentas econômicas, desde as crises anos 70, quando servi nos Estados Nunca. Já vi momentos difíceis nos do petróleo dos anos 70, que ele viveu, como diplomata, nos Estados te ainda era o Richard Nixon e assisti Unidos. Cheguei lá quando o presiden- Unidos. Sobre a crise que estamos à sua queda em conseqüência do caso atravessando, não hesita em afirmar Watergate. Foi um momento terrível que é a mais grave desde a Depressão dos anos 30, mas arrisca uma to com o colapso do Vietnã e aqueles <strong>para</strong> o moral dos Estados Unidos, jun- previsão otimista: ela será curta. helicópteros partindo do terraço da Em 2010, o mundo poderá voltar embaixada americana em Saigon com a crescer – se o presidente Barack as pessoas se agarrando nas rodas. Foi Obama e a estrelada equipe econômica que ele escolheu cumprirem em 1974 e, mais tarde, em 1979. Havia o momento dos choques do petróleo a promessa de reativar a economia filas <strong>para</strong> abastecer os automóveis e americana. Para o Brasil e os emergentes, Ricupero prevê dias difíceis to não foi tão grave como hoje. A Ge- inflação em alta. Mas aquele momen- em 2009 e uma recuperação a partir neral Motors, que está ameaçada de de 2010. No curto prazo, o governo falir, foi fundada em 1908! Resistiu à brasileiro luta com um déficit e não Grande Depressão. E, no entanto, se tem dinheiro <strong>para</strong> sustentar a atividade econômica, como pode fazer em fins de fevereiro. Os americanos não for socorrida, o caixa dela acaba a China – esta sim, <strong>para</strong> Ricupero, não vão deixar quebrar. Eles cen- a única potência realmente emergente. O embaixador falou à <strong>PIB</strong> no mesmo dia em que foi convidado a participar da comissão que a Assembléia Geral da ONU está criando <strong>para</strong> tratar da crise, presidida pelo economista norte-americano Joseph Stiglitz, conhecido crítico da globalização financeira. suram muito os outros quando são nacionalistas, mas não pensem que acham graça nesse tipo de coisa. São símbolos dos Estados Unidos. Esta é, de fato, a crise mais grave desde 1929? Não há a menor dúvida de que é. A crise de 29 leva esse nome porque foi o ano em que caiu a bolsa, mas começou mesmo com a falência de um banco de Viena, o Kredit-Anstalt, em 1931. É aí que ela se instala e vai durar muitos anos. Espero que a crise atual não se transforme em uma depressão, com deflação de preços, porque essa é a situação da qual é mais difícil sair. O Japão caiu nisso em 1990 e ficou sem crescer dez, onze anos, apesar de pacotes gigantescos de gastos em obras públicas. O senhor acredita que a crise, pelo me nos, seja menos longa? Tenho esperança. Vamos ter um governo americano muito vigoroso. Os eleitores escolheram o homem mais bem pre<strong>para</strong>do <strong>para</strong> enfrentar uma crise desse tipo. Barack Obama tem sido impecável na transição – não errou uma escolha até agora, sobretudo a do secretário do Tesouro, Tim Geithner, uma estrela em ascensão. Como diretor do Federal Reserve de Nova P I B 41