Biotecnologia O remédio da inovação Laboratórios brasileiros criam produtos capazes de gerar bons negócios e de ganhar dinheiro até no exterior Flávio de Carvalho Serpa 64 P I B
fotos: divulgação Nos últimos anos, o Brasil conquistou notável visibilidade nos mercados de alta tecnologia (aviões da Embraer), energia (etanol e petróleo) e design (moda). Agora, o mundo está de olho na biotecnologia brasileira. Essa notícia, até há pouco, teria como base apenas a reconhecida vantagem competitiva que só o Brasil tem: sua biodiversidade. De fato, a flora e a fauna brasileiras, com mais de 20% dos bichos e vegetais do planeta, são o celeiro cobiçado por pesquisadores de todo o mundo. Mas agora, graças a pesquisas inovadoras de cientistas e farmacologistas brasileiros e ao interesse de novas empresas de biotecnologia, o país “está a caminho de uma transição de imitador <strong>para</strong> inovador em produtos relacionados à saúde”. Essa é a conclusão de uma extensa análise publicada na revista canadense Nature Biotechnology pelo McLaughlin-Rotman Centre for Global Health (MRC), ligado à Universidade de Toronto. O estudo deu visibilidade mundial à potencialidade brasileira de produzir inovações a um custo substancialmente menor que os das gigantes multinacionais dos fármacos. Todos os casos de sucesso das farmacêuticas nacionais passam pela exploração da ainda quase desconhecida biodiversidade brasileira. Um exemplo disso é o medicamento contra o envelhecimento em pesquisa no laboratório Eurofarma, que licenciou patentes criadas pelo Maria de Pilar, da Eurofarma, e a nova sede da empresa: em busca do mercado externo De imitador a inovador em produtos relacionados à saúde químico André Arigony Souto, da Faculdade de Química da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). A droga terá como base o resveratrol – molécula presente no vinho e no suco de uva que faz enorme sucesso potencialmente com a perspectiva de retardar o envelhecimento. André Arigony foi um pioneiro no estudo da substância, antes de ela entrar na moda. “Pesquiso o resveratrol desde 1999”, diz. “Recentemente a literatura científica mostrou que ele é uma supermolécula com amplo espectro de ação – antioxidante, antiinflamatório, antiviral, cardioprotetor, neuroprotetor, quimiopreventivo de câncer, além de proteger contra infecções e isquemia, reduzir a obesidade e retardar o envelhecimento.” Segundo Arigony, a Eurofarma decidiu pesquisar novas formas de resveratrol e encontrou nas raízes da planta azeda mais de cem vezes a concentração que se encontra na uva. “Essa foi a primeira patente que depositamos”, diz. “Outra foi o estudo <strong>para</strong> evitar a rápida eliminação do resveratrol no organismo. Essa patente é importante, pois visa produzir um medicamento <strong>para</strong> diabetes tipo II.” A Eurofarma, que licenciou as patentes, pretende colocar o remédio no mercado em 2013. A empresa, 100% brasileira, tem planos ambiciosos. “A meta é cobrirmos 90% do território latino-americano com operação própria até 2015”, diz Maria de Pilar Muñoz, diretora de assuntos institucionais da Eurofarma. Em 2007, a Eurofarma conseguiu <strong>para</strong> uma linha de produtos o sinal verde na European Medicines Agency, o órgão regulador europeu. “A empresa está se pre<strong>para</strong>ndo <strong>para</strong> competir de forma mais agressiva, buscando certi- P I B 65