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Nascimento<br />

Sempre morei na cidade de São Paulo.<br />

Nasci e vivi na Barra Funda perto da (avenida) Angélica, do parque da Água<br />

Branca, perto da casa onde morou Mário de Andrade, perto da São João, a<br />

uns dois quilômetros do Rio Tietê.<br />

A avenida São João, além de toda a sua importância para a cidade, era um<br />

dos caminhos principais pelos quais se saía para o interior em direção a<br />

Campinas. Partindo do centro seguia-se em direção à Lapa e daí pegava-se a<br />

estrada velha para Campinas e Jundiaí. Depois foi construída a Anhanguera.<br />

Também se viajava de trem. O caminho era parecido, a estrada ainda está lá<br />

cruzando agora com a linha do metrô.<br />

Essa proximidade das saídas que iam para o interior talvez ajudasse a trazer<br />

o vento puro do campo que batia na minha janela, e com ele os primeiros<br />

acordes de viola, e as letras de uma canção melancólica de alguém com<br />

saudades do lugar onde nasceu, misturados ao trotar dos cavalos, e o cheiro<br />

do forno a lenha esquentando o feijão.<br />

Talvez trouxesse também o aroma de uma pinga bondosa, feita no fundo de<br />

quintal em um alambique de madeira, que espremeu as melhores espécies<br />

do grande canavial. Ah, marvada!<br />

Talvez ainda esse vento forte viesse carregado por gritos de alegria de festas<br />

de Folia de Reis, do pandeiro tocado pelas meninas no Pastoril de Natal, dos<br />

cordões Azul e Encarnado, do bater forte dos pés no tablado dos homens na<br />

Catira, ou do som dos tambores do Maracatu.<br />

Talvez tudo na verdade fosse uma grande brincadeira do Saci-Pererê que<br />

passou com seu redemoinho de vento para causar confusão.<br />

Não importa. O que interessa é que esse vento que entrava pelas janelas lá<br />

de casa, desde a infância, vai continuar soprando sempre por toda a minha<br />

vida, e empurrando-me com força para as coisas do interior e municiandome<br />

com a sabedoria simples e direta do homem do campo.<br />

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