versão pdf - Livraria Imprensa Oficial
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Na vida inteira eu ganhei um terço do que os outros artistas recebem<br />
porque sou cantora de música caipira.<br />
Quando vão fazer um show e alguém fala: convida a Inezita, eles falam:<br />
– Ah não, é música caipira...<br />
A vida toda eu tive que ouvir isso.<br />
Não admitem que a gente cante com a letra original, com a concordância<br />
errada e com a pronúncia caipira, com ôce, marvada, pra mor de.<br />
Ninguém estranha tanto a pronúncia nordestina ou mineira, mas o caipira...<br />
É uma elite burra, que reclama desse sotaque, não uma elite cultural.<br />
Eu falo porrta, guarrda, e não mudo.<br />
Até ensino meus bisnetos.<br />
Esses dias fui a Piracicaba ver meu bisneto de 2 anos e ele me disse com<br />
todos aqueles erres do interior:<br />
– Vó, guaarda esse urrrso pra mim.<br />
Eu fiquei tão feliz que pulei da cadeira e dei um beijo nele. Depois ele<br />
aprende o certo na escola.<br />
Quando eu era criança meus primos vinham do interior para estudar em São<br />
Paulo, e eu ouvia aquele sotaque, ôce, e eu achava tão lindo. Na minha<br />
família a gente ri muito ainda com isso. Porque era um modo afetuoso de<br />
nos unir mais ainda pela nossa história e pelas nossas raízes.<br />
Antigamente a gente ainda ouvia esse modo de falar na rádio como nos<br />
programas do Nhô Totico, radialista paulista, que, nas décadas de 1930 e<br />
1940, tinha um programa de humor com histórias e causos caipiras que<br />
faziam muito sucesso.<br />
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