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Negro<br />

Minha ligação com a música negra vem com o folclore, das músicas que<br />

ouvi nas viagens pelo Brasil, as pesquisas das raízes da nossa música e com<br />

a história da minha própria família<br />

A família dos meus avós de São Paulo foi dona de fazendas de café e teve<br />

escravos que trabalharam nelas. E eu cheguei ainda a conhecer uma propriedade<br />

em Campinas, que ainda tinha uma senzala. Era um lugar com clima<br />

pesado. Essas coisas marcam uma pessoa. E isso ficou na minha memória.<br />

Não foi por essa razão, mas acabei me tornando a cantora que mais gravou<br />

música de influência africana, antes da Clara Nunes, que também gravou<br />

bastante.<br />

Um dos meus primeiros discos e também sucesso foi Funeral de um Rei<br />

Nagô, de Hekel Tavares e Murilo Araújo. Gravei depois muitas outras músicas<br />

do Hekel Tavares e de temática afro-brasileira.<br />

Eu tenho muitas histórias relacionadas com os negros. Uma delas foi<br />

quando eu estava no interior e ainda amamentava a minha filha, a Marta,<br />

que tinha quatro meses. Ela teve desidratação, começou a vomitar e nós<br />

não conseguíamos fazer com que ela melhorasse.<br />

Tivemos que voltar às pressas do interior, e ela piorando no colo do pai e eu<br />

dirigindo apavorada..<br />

Quando chegamos a São Paulo, fomos a médico, demos soro, remédio e<br />

nada a fazia melhorar. Aí, a minha sogra levou a gente até um asilo que tinha<br />

na rua Turiaçu, no bairro da Pompeia, onde moravam umas senhoras negras<br />

gordas que eram chamadas de nutrizes. Elas amamentavam crianças de<br />

outras mães como eu.<br />

Pouco tempo depois de ser amamentada a Marta já começou a melhorar.<br />

No mesmo dia ficou boa e nunca mais teve desidratação. Passei a visitar<br />

aquele lugar sempre. E ela só aceitava pajens que eram negras. Se algum<br />

preconceito houvesse por causa do histórico da família que tinha tido escravos<br />

na fazenda, ele se transformou mais ainda em admiração.<br />

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