versão pdf - Livraria Imprensa Oficial
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Mesmo sem pertencer a nenhuma religião afro-brasileira continuei cantando<br />
músicas que tinham relação com religiões que vieram trazidas pelos escravos.<br />
Uma vez fui fazer um show em Roseira, interior de São Paulo, na via Dutra<br />
caminho do Rio de Janeiro. Era uma antiga fazenda, em que trabalharam<br />
escravos. E o lugar onde foi construído o palco tinha sido uma senzala.<br />
Quem cuidava da casa era um estudioso da história da escravidão e manteve<br />
alguns objetos da época que foram utilizados para tortura.<br />
E eu comecei a me sentir mal. Não gostava de ver aquelas peças de época.<br />
E eu ia cantar músicas afro, de lamentação, que falavam da escravidão.<br />
Eu estava atrás do palco e não sabia se ia conseguir apresentar o show. O<br />
Escurinho, percussionista, pai do outro Escurinho que ainda toca comigo,<br />
que sempre me acompanhava nas apresentações, também estava impressionado,<br />
mas veio me dar força para entrar no palco e cantar.<br />
– Vai lá Inezita, vai dar tudo certo!<br />
Aquelas palavras do músico do meu regional me deram confiança. Eu senti<br />
uma paz muito grande e entrei e cantei.<br />
O show foi ótimo e depois que acabou o Escurinho chegou para mim e disse:<br />
– Foi tudo bem Inezita, não foi?<br />
– Foi. É estranho que na hora eu senti uma energia poderosa para cantar.<br />
– É, quando você entrou no palco você não estava sozinha, não. Você não<br />
sabe, mas quando entrou no palco, eu vi muitos negros escravos entrando<br />
junto e dando força para você fazer o show.<br />
Eu não sei como explicar essas coisas, mas eu sinto que acontece.<br />
Saravá!<br />
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