. história .ainda bem presente o reinado do pai. É, pois, de estranhar que o nome daprópria homenageada só surja no final da terceira linha.Ao enfatizar a ascendência britânica de D. Filipa, em vez de começar pora relacionar com o seu marido, D. João I, bem mais glorioso e conhecido nomosteiro que ele próprio mandou construir, o autor do epitáfio denuncia a suanacionalidade: só pode ser inglesa. Efectivamente, o texto abre com o nom<strong>ed</strong>e Inglaterra (Anglie). Por outro lado, a referência ao título do monarca britânico,um Plantageneta em plena guerra dos cem anos, está de acordo com adocumentação da época: Regis Anglie et Francie 18 . Com Eduardo III, os reisde Inglaterra, que também eram duques da Aquitânia, tornaram-se pretendentesao trono de França.Não admira que este título tenha suscitado a ira dos soldados de Napoleão,gerando neles o desejo de descarregar sobre a lápide toda a fúria quenutriam contra os Ingleses.Se a primeira linha começa por Anglie, a segunda principia por Henrrici etermina por Francique regis. Esperar-se-ia Francieque regis. Não está claro quehaja razões de natureza métrica para se substituir o substantivo pelo adjectivo.Obscuro é para nós, ainda, o final da primeira linha que termina em algoque nos parece –culentis. Mais sentido faria, neste contexto, tanto excellentiscomo luculentissimi (ambos com um sentido muito parecido) ou luculentissimorume luculentissimae, se concordar, respectivamente com armorum oucom Anglie. Poder-se-ia admitir uma abreviatura por suspensão, mas falta asílaba inicial, da qual não se vislumbram quaisquer vestígios. A referência àsarmas é idêntica àquela com que Camões inicia Os Lusíadas, na linha da imitaçãode Virgílio: as armas da casa real inglesa ou da de Lencastre, uma vezque é D. Filipa que, nessa referência à ilustre linhagem inglesa, é nobilitada.Traduzindo a primeira parte, à excepção do final da primeira linha, teríamoso seguinte sentido:A irmã do mui ilustre D. Henrique, Rei da florescente Inglaterra, (dearmas ilustríssimas) e de França, a preclara D. Filipa, que outrora foi umagrande senhora em costumes e no modo de vida, jaz aqui na cripta...ReflexõesSeguir-se-á uma alusão à sua morte no Mosteiro de Odivelas e à trasladaçãodo seu corpo para a Batalha. Onde conjecturamos non minime, tambémpoderíamos admitir non minus, uma lítotes para enaltecer D. Filipa ou a acçãodos Infantes, cujos feitos gloriosos em Ceuta estavam ainda bem presentes.Relembremos que D. Filipa sempre incentivou os filhos a conquistar as espo-| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 189
. história .ras de cavaleiro através de feitos gloriosos, não em justas e torneios, mas emacções guerreiras, como era o caso da conquista de Ceuta.Só depois virá a referência à sua condição de Rainha de Portugal e dosAlgarves, e esposa de D. João I.O mês de Agosto e o número XIII, que nós reconstituímos para XIV (naforma habitual de xiiii), estará certamente relacionado com a sua morte: no14º dia das calendas de Agosto (19 de Julho), embora reconheçamos que aposposição do número ao nome do mês seja pouco comum.O texto que se segue descreve a morte da Rainha, recorrendo certamente aum eufemismo muito comum equivalente à forma mais prosaica mortua est:ultimum (ou extremum) diem clausit. O autor exprime a convicção de a Rainha,tendo vencido a morte e resistido aos males deste mundo, se encontrar jána plenitude da luz de Deus (lumen adprehendens).As duas linhas finais fazem alusão à data da morte ou da sua deposição.É, todavia, de estranhar a ausência das letras iniciais, que se esperariam noalinhamento das iniciais das linhas anteriores. Terão sido destruídas – pelosFranceses ou num primeiro processo de limpeza ou de qualquer outro polimento,a que a lápide terá sido submetida para se eliminar o negrume dafogueira a que foi exposta – ou terá sido lapso do sculptor?Entre o início da data, registada por extenso, e o final, há um espaço que nãoconseguimos descortinar. Estaria reservado à designação da Era de Cristo?O texto é rematado com uma aclamação doxológica de louvor e glória aCristo.O elevado estado de fragmentação desta lápide não nos permite aquilatardevidamente a qualidade literária do texto, no qual subsistem algumas dúvidase incertezas.4 — Contexto históricoPelo que subsiste desta p<strong>ed</strong>ra, podemos testemunhar a elevada qualidad<strong>ed</strong>a paginação primitiva (ainda que o lapicida possa ter desvirtuado nalgunselementos de pormenor o texto escrito que lhe foi fornecido pelo autor intelectualda epígrafe), toda ela servida pela inscrição de caracteres góticos,maiúsculos e minúsculos, de elevado esmero gráfico e efeito estético. O razoávelprofissionalismo do lapicida mostra-se à altura da dignidade régia queenvolve todo o monumento batalhino, o qual, depois da conquista de Ceuta,em 1415, se viu elevado à categoria de panteão da nova dinastia lusitanaconsagrada, como sabemos, pela vitória portuguesa, na Batalha Real de 14de Agosto de 1385, nos campos vizinhos ao Mosteiro, sobre os exércitos190 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |
- Page 6:
Índice. entrevistas .Centro de Aco
- Page 12:
. decretos .NomeaçãoServiço Dioc
- Page 18:
. decretos .- terminou, em 11 de Ju
- Page 24 and 25:
. documentos pastorais .2. Toda a I
- Page 26 and 27:
. documentos pastorais .Carta Pasto
- Page 28 and 29:
. documentos pastorais .vamos integ
- Page 30 and 31:
. documentos pastorais .Confrontamo
- Page 32 and 33:
. documentos pastorais .1.3. “Pas
- Page 34 and 35:
. documentos pastorais .perado do a
- Page 36 and 37:
. documentos pastorais .agarrar Cri
- Page 38 and 39:
. documentos pastorais .afirma: “
- Page 40 and 41:
. documentos pastorais .a bondade d
- Page 42 and 43:
. documentos pastorais .3.1. A form
- Page 44 and 45:
. documentos pastorais .do baptismo
- Page 46 and 47:
. documentos pastorais .3.2.4. O An
- Page 48:
. documentos pastorais .Também nes
- Page 51 and 52:
. documentos pastorais .Confiemos
- Page 53 and 54:
. escritos episcopais .Nota aos fi
- Page 55 and 56:
. escritos episcopais .Este canto s
- Page 57 and 58:
. escritos episcopais .Contudo, ist
- Page 59 and 60:
. escritos episcopais .O Senhor Deu
- Page 61 and 62:
. escritos episcopais .O carisma pr
- Page 63 and 64:
. escritos episcopais .No hino de j
- Page 65 and 66:
. escritos episcopais .trabalho pas
- Page 67 and 68:
. escritos episcopais .açoute dos
- Page 69 and 70:
. escritos episcopais .Nota Episcop
- Page 71 and 72:
. escritos episcopais .É Deus conn
- Page 73 and 74:
. escritos episcopais .superar o cl
- Page 75 and 76:
. escritos episcopais .2. Dentro do
- Page 77 and 78:
. escritos episcopais .Quantos gest
- Page 79 and 80:
. diversos .Comunicado do Conselho
- Page 81 and 82:
TemaAno Pastoral 2008-2009«Ir ao c
- Page 84 and 85:
. destaque .Assembleia diocesana“
- Page 86 and 87:
. destaque .“Ir ao coração da f
- Page 88 and 89:
. destaque .Tomadas de posse no San
- Page 90 and 91:
. destaque .nos, concretamente os s
- Page 92 and 93:
. especial . visita pastoral .dados
- Page 94 and 95:
. especial . visita pastoral .todos
- Page 96 and 97:
. especial . visita pastoral .vinda
- Page 98 and 99:
. especial . visita pastoral .redes
- Page 100 and 101:
. especial . visita pastoral .Padre
- Page 102 and 103:
. notícias .CFC - Formação para
- Page 104 and 105:
. notícias .Jovens diocesanos deci
- Page 106 and 107:
. notícias .tempo de férias, a di
- Page 108 and 109:
. notícias .possibilidade de as pa
- Page 110 and 111:
. notícias .acontecimentos da hist
- Page 112 and 113:
. notícias .em 2006 para a reabili
- Page 114 and 115:
. notícias .No final, o representa
- Page 116 and 117:
. notícias .éis”, e salientam e
- Page 118 and 119:
. Santuário de Fátima .Presidente
- Page 120 and 121:
. Santuário de Fátima .Todos os d
- Page 122 and 123:
. Santuário de Fátima .sabem ou n
- Page 124 and 125:
. Santuário de Fátima .As confer
- Page 126 and 127:
. serviços e movimentos .Estes e o
- Page 128 and 129:
. serviços e movimentos .de Deus n
- Page 130 and 131:
. serviços e movimentos .Serviço
- Page 132 and 133:
. serviços e movimentos .Programa
- Page 134 and 135: . serviços e movimentos .O I Módu
- Page 136 and 137: . serviços e movimentos .Comissão
- Page 138 and 139: . serviços e movimentos .Serviço
- Page 140 and 141: . serviços e movimentos .Cáritas
- Page 142 and 143: . serviços e movimentos .e também
- Page 144 and 145: . serviços e movimentos .de Portug
- Page 146 and 147: . entrevistas .Centro de Acolhiment
- Page 148 and 149: . entrevistas .tuações e com a fa
- Page 150 and 151: . entrevistas .Cónego José de Oli
- Page 152 and 153: . entrevistas .Continuou então no
- Page 154 and 155: . entrevistas .Figura ilustre da no
- Page 156 and 157: . entrevistas .Quando o Fórum esta
- Page 158 and 159: . entrevistas .Luís Sousa, chefe d
- Page 160 and 161: . entrevistas .Como foi a programa
- Page 162 and 163: Ana Sousa, missionária em Alagados
- Page 164 and 165: . entrevistas .Que tipo de pessoas
- Page 166: Reflexões. teologia / pastoral . h
- Page 169 and 170: . teologia / pastoral .tuguês, par
- Page 171 and 172: . teologia / pastoral .çou-se na o
- Page 173 and 174: . teologia / pastoral .dar aqueles
- Page 175 and 176: . teologia / pastoral .Presente de
- Page 177 and 178: . teologia / pastoral .a luz dos es
- Page 179 and 180: . história .“Ultimamente no outr
- Page 181 and 182: . história .nas chancelarias reais
- Page 183: . história .O texto da lápide pod
- Page 187 and 188: . história .saber, dom Duarte seu
- Page 189 and 190: . história .ado que lhe prazia mui
- Page 191 and 192: . história .mandada pelo General M
- Page 193: . história .por o sepultar na Sé