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Leiria-Fatima_ed_46.pdf - Diocese Leiria-Fátima

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. escritos episcopais .açoute dos soberbos castelhanos, como já o fero Huno o foi primeiro…”).Esta é uma interpretação belicista, própria de um espírito m<strong>ed</strong>ieval de cruzada,completamente inexacta e desactualizada.A segunda é a de Júlio Dantas (1907 e 1913). Trata-se de uma interpretaçãoque oscila entre o jacobinismo republicano, a m<strong>ed</strong>icina e a psicologiapositivista. Faz de Nun’Álvares uma espécie de D. Sebastião, avant la lettre,um homem movido pela neurose da violência, um doente psíquico, possuídopor estranhas ideias sobre a virgindade, portador de uma her<strong>ed</strong>itari<strong>ed</strong>ade patológica(com um bispo de Braga de permeio!) que o autor vai rebuscar, porduvidosos métodos historiográficos, até à 5ª geração! Esta interpretação éproposta precisamente no momento em que acontecia o processo de beatificaçãodo Condestável, para a ridicularizar. O texto de Júlio Dantas chama-sesignificativamente “Libelo do Cardeal Diabo”.Ambas as interpretações são completamente erróneas e inaceitáveis parao Bispo Ferreira Gomes. Ele propõe a sua própria interpretação, no contextoda reflexão sobre a tradição portuguesa antiga a respeito dos “direitos humanos”.Começa por revisitar a “Crónica de D. João I” de Fernão Lopes que mostraNun’Álvares como um homem mesurado, sensato na palavra e na presença,inteligente, militar eficaz, mas nunca gratuitamente violento. Como homemdo seu tempo, era muito interessado por romances de cavalaria (“TávolaR<strong>ed</strong>onda”), de origem britânica. Mas não leria somente isso; eventualmenteterá lido também as teorias de João de Salisbúria sobre o regime do príncipe ea consolidação das liberdades contidas na “Magna Charta” de 1215, sobre osdireitos dos cidadãos. Esta índole e esta formação são decisivas para explicara sua história posterior e engrandecem a sua figura humana e cristã.Porque pensou o Condestável deixar o Reino (como fizeram os PríncipesD. Fernando e D. P<strong>ed</strong>ro, filhos de D. João I), uma vez consolidada a paz e aindependência? Na interpretação de D. António, é por duas razões. Primeiro,porque estava em desacordo com a posição da velha nobreza (para reconstituira velha ordem feudal), que não compreendeu o sentido cívico-burguês darevolução de 1383/85. Em segundo lugar, porque a política D. João I se encaminhavano sentido de centralização do poder, anulando as liberdades municipaisdos Burgos. D. António dá o exemplo do Porto, cidade cujo senhoriofoi, por essa altura, comprado pelo rei ao bispo. A tese é que as liberdadesdas cidades m<strong>ed</strong>ievais (liberdades de cidadania) e o seu desenvolvimentoburguês económico se processam mais facilmente sob a inspiração cristã daIgreja do que sob a ordem do centralismo real.68 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |

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