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TELEVISÃO DIGITAL: ESTA HISTóRIA NÃO COMEÇA EM ... - Adusp

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Janeiro 2008Poucas imagens parecemaplicar-se tão bemao sentido da experiênciasocial, cultural epolítica do século XXquanto a de que foium século “breve e extremado”, assimtraduzido na feliz expressão dohistoriador inglês Eric Hobsbawm(1999). A sensação de brevidadepor ele descrita está diretamenterelacionada à intensidade, profundidadee celeridade das transformaçõesagudas ocorridas nesteperíodo. A humanidade chegou aníveis de bem-estar jamais experimentadosantes, por um lado, e, poroutro, radicalizou-se ao extremo achamada “barbárie moderna”.Não resta dúvida, porém, que umdos aspectos mais revolucionáriosdeste século de extremos foi o estabelecimentode novíssimas formasde convívio social, a partir da criaçãoe acelerado desenvolvimentode um sistema de comunicação demassa, que implodiu fronteiras culturais,padronizou comportamentos,colonizou e domesticou mentesno mundo inteiro, legitimando regimese governos que antes só seriamcapazes de prosperar pelo uso daforça. A própria guerra, emblemamáximo da barbárie, e cuja máquinade destruição alcançou uma escalaplanetária, acabou por assumiruma dimensão estética e ofereceuseà humanidade como espetáculo.Imagens as mais cruéis da dor e daguerra naturalizaram-se, aos poucos.Como disse Sontag (2003: 20), “agora,guerras são também imagens esons na sala de estar”.O incessante fluxo de imagensde violências de toda espécie nanossa teleintimidade, ao contráriodo que se poderia supor e a despeitode toda a força de seu testemunhodocumental, porém, nãoserviu somente para produzir umaatitude de repulsa ou indignação. Etalvez aí esteja, embora muito dissimulada,a raiz de um dos grandesmales da nossa época, um dos “extremos”— para usar a expressãode Hobsbawm — a que chegamos.Linguagem privilegiada da culturacontemporânea, as imagens produzidase circulantes em excesso parecemmais esconder do que mostrar,apesar do paradoxo aparente queesta afirmação contém.O atentado ao World TradeCenter em Nova Iorque, no 11 desetembro de 2001, uma das cenasque ficará para sempre registradana memória visual do século XXI,gerou, antes de tudo, incredulidade.Em muitos dos depoimentosdas pessoas que escaparam do atentado,a sensação era de que tudose passou como num filme. “Comoum filme parece haver substituído amaneira pela qual os sobreviventesde uma catástrofe exprimiam o carátera curto prazo inassimilável daquiloque haviam sofrido: ‘foi comoum sonho’ ” (Sontag, 2003: 23).Dez anos após a Guerra do Golfo,que o mundo assistiu como a umvideogame, o 11 de setembro pareciacorroborar um grande dilemado nosso tempo: os horrores oferecidosaos nossos olhos, transfiguradosem imagens, em grande medidanos imobilizam mais que indignam,banalizam-se mais do que nos tiramda apatia. E parecem que nostornam cada vez mais inapetentessocialmente.Revista <strong>Adusp</strong>Contemporaneamente, aatenção distraída diantedo incontrolável fluxo deimagens que se oferecem aoolhar parece cada vez maisconduzir as massas urbanasa uma atitude de merasespectadoras diante dos fatosAs imagens parecem despregarsecada vez mais da experiência. Perderamsua aura, como tão brilhantementeantecipou Walter Benjaminnos anos 30 do século passado,desde que o fenômeno da reprodutibilidadetécnica da obra de arteinstaurou-se de forma irreversível,promovendo uma refuncionalizaçãosocial da arte. A fotografia, e depoiso cinema, este último arte reprodutívelpor excelência, já que a reprodutibilidadeé princípio inerente àtécnica de sua produção, puserama aura abaixo. “A aparição única deuma coisa distante, por mais pertoque ela esteja” (Benjamin, 1986:170) é como o ensaísta alemão definea aura da obra artística.“A recepção através da distração,que se observa crescentementeem todos os domínios da artee constitui o sintoma de transformaçõesprofundas nas estruturasperceptivas, tem no cinema o seucenário privilegiado” (1986: 194).As palavras de Benjamin revelamum enorme poder de antevisão.A recepção distraída que o cinemaproporciona opõe-se ao reco-44

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