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TELEVISÃO DIGITAL: ESTA HISTóRIA NÃO COMEÇA EM ... - Adusp

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Janeiro 2008gem desse sentimento parece estarno enorme constrangimento que noscausa vermo-nos diante da banalidadee falta de sentido da vida. É vidaalheia, é verdade, mas a súbita notoriedadeque pessoas desconhecidase vazias ganham na cena televisivaconstitui um sintoma regressivo deuma cultura fundada num excessode visibilidade, que de forma perturbadoraexpõe a miséria de umaexistência ancorada em valores mercadológicos,na fragilização dos laçosafetivos e no culto às aparências.Que significado tem a visibilidadeno mundo contemporâneo?Desde a década de 1960, na suaclássica obra, Guy Debord (1997)oferecia uma das chaves para explicareste fenômeno típico da contemporaneidade,ao demonstrar o quanto asociedade passara a regular-se pelalógica da espetacularização, quehipervaloriza os eventos, em detrimentodos processos, negligenciandoas relações históricas que estão portrás dos fatos que se apresentam aoolhar. Os eventos espetaculares têmautonomia em relação aos seus referentes,com os quais não guardam relaçãode fidelidade. A lógica centraldo espetáculo, em seu aspecto paradoxal,é a “manutenção do segredogeneralizado”, como afirma Debord.As operações do poder passam a assumiruma dimensão espetacular, equanto mais se tornam visíveis, maisocultam aquelas operações que ficamrestritas ao consumo de poucos, longedos olhos da maioria, impermeáveisà observação pública.Os excessos do ver, portanto, acabampor tornar inacessível para nósmuito do que nos interessaria saber,como nos ensina Baitello (2007):A cultura das imagens (e a transformaçãode toda a natureza tridimensionalem superfícies imagéticas)abre as portas para uma criseda visibilidade, dificultando aqui nãoapenas a percepção das facetas sombrias,mas até mesmo, por saturação,aquelas regiões iluminadas. Assimcomo toda visibilidade carrega consigoa invisibilidade correspondente,também a inflação e a exacerbaçãodas imagens agrega um desvalor àprópria imagem, enfraquecendo suaforça apelativa e tornando os olharescada vez mais indiferentes, progressivamentecegos, pela incapacidade davisão crepuscular e pela univocidadedevoradora das imagens iluminadase iluminadoras (p.1).Neste cenário, o que se verifica éum esvaziamento da “força visionária”,a capacidade de antever e pensarcriticamente o mundo, já que ossistemas de visão, sobretudo os midiáticos,sucumbem sem escrúpulosao mal da auto-referência.Para além da visão instrumental,os meios de comunicação hojesão vistos como operadores dosentido, ou como o lugar mesmodas interações sociais. A sociedadeda midiatização, como o querFausto Neto (2005), é dotada deuma natureza sócio-técnica complexa,que desmonta todas as linearidadese, em seu lugar, instauradescontinuidades de vários tipos.“A nova vida tecno-social é origeme meio de um novo ambiente,no qual se institui um novo tipode real que está diretamente associadoa novos mecanismos deprodução de sentido, nos quaisnada escaparia às suas operaçõesde inteligibilidade” (p.3).Revista <strong>Adusp</strong>Essas operações vão, de formaintensa e ininterrupta, afetando osindivíduos e as instituições, moldandoa subjetividade dos primeirose modificando os ritos e papéis dasúltimas. A lógica que passa a prevaleceré a das redes e dos fluxos, emlugar da lógica dos vínculos.Nos dias de “paredão” noBig Brother Brasil, o paísfica polarizado em torno deargumentos banais sobrequem deve ser eliminado. Avotação pública por telefonerende milhões de reais àRede GloboPara legitimar-se como uma instânciaonde a realidade é tecida, amídia precisa mostrar aos demaiscampos sociais como faz para levara cabo esta operação, chamandoatenção para si mesma. É o queFausto Neto (2006) chama de autoreferencialidade,em que a mídiapassa do estágio de “construção darealidade” para evidenciar a “realidadeda construção”. Os makingoffs,debates eleitorais e realityshows, entre outros, são expressõesdesta lógica.Nos reality shows o espetáculoda auto-referência chega ao paroxismo.O público é levado a jogar ojogo instituído pela mídia. Nos diasde paredão no Big Brother Brasil,por exemplo, o país fica polarizadoem torno de argumentos banaissobre quem deve ser o eliminado.46

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