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TELEVISÃO DIGITAL: ESTA HISTóRIA NÃO COMEÇA EM ... - Adusp

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Revista <strong>Adusp</strong>lhimento, atitude típica da fruiçãoda obra de arte aurática, em suaexistência única. E traduz de formaeloqüente como esta inapelável necessidadeque as massas do séculoXX têm de “ter as coisas próximasde si”, alimentada pela mediação daimagem, acabou por instaurar umfenômeno cultural de dimensõesaté hoje inapreensíveis. A atençãodistraída diante das imagens que seoferecem ao nosso olhar num fluxoincontrolável, contemporaneamente,parece cada vez mais conduziras massas urbanas a uma atitude demeras espectadoras diante dos fatostestemunhados pelas câmeras.A sociedade capitalista sofisticou,no século XX, suas formas dedominação, levando à formulaçãode novas teorias sobre o poder. Pensadorescomo Gramsci e, mais tarde,Foucault e Bourdieu, entre váriosoutros, assinalam como aspectoconstitutivo central das formas deorganização do poder no século passadoa sua dimensão simbólica cadavez mais exacerbada. Para Gramsci,a disputa pela hegemonia nos embatespelo poder remete de formacrescente à conquista do consentimentodos dominados.Foucault (1986) nos fala de umpoder panóptico (o olho que tudovê sem ser visto), que já não temmais um locus específico, como oEstado, por exemplo, mas se infiltrapelos espaços mais recônditos detoda a estrutura social de formacapilar. As formas de vigilância instituídastornam-se mais eficazes namesma medida em que não estãomais baseadas na repressão, numpoder que diz não e castiga, mas naadesão. O olhar invisível do panópticodeve impregnar quem é vigiado— sem sabê-lo — de tal maneiraque este adquira de si mesmo a visãode quem o olha.Já Pierre Bourdieu (1990) conduza reflexão por caminhos similares,ao defender a tese de que o poderconstitui uma espécie de círculo cujocentro está em toda parte e em partealguma. “O poder simbólico é, comefeito, esse poder invisível o qualsó pode ser exercido com a cumplicidadedaqueles que não queremsaber que lhe estão sujeitos, ou mesmoque o exercem” (1990: 7-8). Asmáscaras do poder em nossa época,travestindo-o em algo palatável paraas massas, que a elas muitas vezesse apresenta sob a forma de entretenimento,é um tema diretamenterelacionado ao acelerado crescimentode dispositivos comunicacionais eseus protocolos imagéticos.Inspirados na metáfora criadapor George Orwell 1 , no seu clássicolivro 1984, do Grande Irmãoonisciente e infalível, cujo rostonunca é mostrado, e que espiona avida dos cidadãos ininterruptamente,os reality shows são verdadeirosemblemas da fluidez contemporâneaentre realidade e ficção, entreos espaços público e privado, ede uma sociedade narcisista que,movida pela lógica consumista docapitalismo, se entrega ao vazio damercantilização da vida e à lógicadas aparências. Os programas BigBrother Brasil (BBB), com formatooriginal holandês, que nos últimosanos têm alavancado a audiência daRede Globo de Televisão, e agoraem 2007 tiveram sua sétima temporada,são referência para a análiseaqui feita.Janeiro 2008A súbita notoriedade quepessoas desconhecidas evazias ganham na cenatelevisiva constitui umsintoma regressivo de umacultura fundada num excessode visibilidade e ancoradaem valores mercadológicosA razão do êxito de fórmulascomo os reality shows em parte podeestar associada à reconfiguraçãodas formas de convívio social vigenteshoje. Os centros urbanos estãodeixando de ser espaços de intensoconvívio de pessoas para nelesinstaurar-se uma espécie de novosedentarismo, que cria uma “localizaçãosem localização”, promovidapelas telecomunicações, na qualsubmerge em grande medida nossosentido de coletividade. As cidades,no dizer de Bauman (2001), viraram“espaços públicos não civis”,em que estranhos se encontram,mas dispensam a interação.Enquanto isso a casa, antes reservadaà vivência da intimidadefamiliar e à gratuidade de pensamentos,hoje virou o nó de umarede através da qual o indivíduofreneticamente estabelece contatosde segundo grau com pessoasdistantes fisicamente e, na mesmamedida, está “protegido” do riscodos envolvimentos presenciais.Se o estrondoso sucesso dos realityshows nos incomoda e provocamal-estar, em primeiro lugar a ori-45

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