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LUSA / EPA MICHAL CZERWONKA<br />
no qual, por divergência de interesses – por exemplo,<br />
falta de empenho em capacidade militar dos<br />
europeus –, a centralidade da Europa será mais<br />
fraca na política externa norte-americana durante<br />
o(s) mandato(s) do 44.° Presidente americano do<br />
que foi na segunda metade do século XX. Não<br />
tenho a certeza. Se por “centralidade” se entender<br />
a prioridade imposta pela situação geográfica da<br />
Europa durante a Guerra Fria, com certeza que esta<br />
já desapareceu. Se, porém, “centralidade” tiver a<br />
ver com um conjunto de valores e interesses que<br />
aproxima os dois lados do Atlântico mais do que<br />
aproxima qualquer deles de qualquer outro centro<br />
de poder no mundo multipolar que se avizinha,<br />
o laço transatlântico continuará a ser central na<br />
política externa dos Estados Unidos – e a exigir<br />
mais da Europa na partilha dos encargos de defesa<br />
e segurança.<br />
Seja John McCain, Barack obama ou hillary<br />
Clinton o 44.° Presidente dos Estados Unidos, a<br />
sua política externa não poderá afastar-se muito da<br />
de George W. Bush. As sementes de muito do que<br />
Bush fez, incluindo a invasão do Iraque, tinham<br />
sido deitadas por Clinton; outras há mais tempo<br />
ainda e os interesses americanos permanecem. Mas<br />
mudará com certeza a maneira de fazer. Washington<br />
terá um discurso mais racional e compreensivo das<br />
posições de outros, o que trará uma lufada de ar<br />
fresco e ajudará a tentar resolver algumas questões<br />
pendentes. o próximo Presidente americano chegará<br />
com parti pris favorável só por não ser George<br />
W. Bush, que acumulou demasiados erros de política<br />
externa (e de política interna com implicações<br />
��������<br />
externas), sobretudo no decurso do primeiro mandato.<br />
No segundo, o bom senso de vez em quando<br />
veio ao de cima e, do lado de cá do Atlântico, entre<br />
os Estados-membros da União Europeia houve<br />
alternâncias políticas favoráveis a Washington.<br />
Assim, no fim de Janeiro do ano que vem, o<br />
homem ou a mulher<br />
do oval office<br />
estará em condições<br />
de repor as<br />
relações transatlânticas<br />
na calha<br />
de onde George<br />
W. Bush parecia<br />
quase a fazê-las saltar<br />
– que é o que<br />
os europeus também querem. Sem esquecermos,<br />
nem nós nem eles, que eles estão do lado de lá<br />
porque nós somos como somos, acudiremos todos<br />
(outra vez Palmerston...) aos interesses permanentes<br />
que nos unem.<br />
Entretanto, a campanha eleitoral americana tem<br />
mostrado tal intensidade de vida política, tal<br />
riqueza de participação, tal entusiasmo e cogitação<br />
quanto ao futuro do país, tal alegria, que a imagem<br />
dos Estados Unidos na Europa e no mundo começa<br />
a pouco e pouco a sair do buraco negro onde<br />
entrara. E, se se comparar tudo isso com a eleição<br />
que levou Medvedev ao Kremlin, percebe-se, mais<br />
uma vez, a sorte grande que foi a Guerra Fria ter<br />
sido ganha por este lado.<br />
* Embaixador<br />
Dia de votação em Circleville, ohio.<br />
‘ Com as presidenciais, a imagem<br />
dos estados unidos na europa<br />
e no mundo começa a sair<br />
do buraco negro onde entrara.<br />
’<br />
<strong>Paralelo</strong> n. o 2 | PRIMAVERA | VERÃO 2008 25