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‘ A melodia e o ritmo<br />
da campanha eleitoral<br />
de hillary Clinton<br />
são claramente<br />
hispanizados.<br />
’<br />
Para além disso, no Sul, o nome Clinton,<br />
principalmente para os hispânicos mais velhos,<br />
é sinónimo de Partido Democrata, o que está<br />
directamente ligado às lutas pelos direitos civis.<br />
Isto é relevante no Texas, porque até aos anos 60<br />
do século passado a discriminação contra os hispânicos<br />
era muito forte. Como minoria estabelecida,<br />
em pleno gozo de todos os direitos civis, os<br />
hispânicos do Texas denunciaram, no âmbito da<br />
sua própria luta, as más experiências vividas noutras<br />
partes do país. No entanto, devido ao facto de<br />
os cargos políticos do Texas reservados para a minoria<br />
não branca estarem ocupados por afro-americanos,<br />
desenvolveu-se uma concorrência pelo status<br />
de minoria par excellence. Isto levou a que os hispânicos<br />
se vissem muitas vezes forçados a defender<br />
os seus interesses através de alianças com políticos<br />
e activistas brancos progressistas.<br />
As eleições primárias no Texas transformaram esta<br />
constelação (comunidade) num tema de discussão<br />
em toda a América. A discussão pública sobre hispânicos<br />
texanos, cuja experiência política foi negra<br />
apesar da representação política ser branca, tornou-<br />
-se tema permanente de um debate mais alargado<br />
sobre o status quo da cultura e da política. Este<br />
debate, iniciado no outono passado, incendiou-se<br />
e intensificou-se devido às eleições, levando a que<br />
muitos milhões de americanos nele participassem.<br />
Debate que diz respeito a todos, tanto a minorias<br />
como a maiorias. É cada vez mais difícil ignorar<br />
que esta época tão marcada pelos movimentos dos<br />
direitos civis, pelo debate sobre o racismo e as<br />
demonstrações de afirmação, esteja a chegar ao seu<br />
��������<br />
fim, sem negligenciar os problemas existentes. As<br />
eleições e as suas alianças de 2008 mostram que<br />
não só uma parte da classe média instruída se vê<br />
como uma fracção de uma sociedade em que a<br />
colour line já não é uma linha divisória inflexível.<br />
Isto é visível nos apoios de ambos os candidatos<br />
democratas, uma vez que estes não recolhem simpatia<br />
apenas pela cor da pele mas também pela<br />
formação do eleitorado. Eleitores que acabaram o<br />
ensino secundário, com posses e consciência pós-<br />
-étnica, sentem-se fortemente identificados com o<br />
discurso de Barack obama e a retórica da “mudança”<br />
e de um mundo melhor. Para os trabalhadores<br />
migrantes provenientes da América Latina e de<br />
outras regiões, com um nível de formação abaixo<br />
da média, hillary Clinton orientou o seu discurso<br />
para os temas do “pão e da manteiga”, de modo<br />
a garantir os cerca de dois terços dos votos da<br />
Califórnia. Também no Texas os hispânicos contribuíram<br />
para aquele que poderá vir a ser o mais<br />
importante sucesso da sua carreira. Foi lá que muitos<br />
deles viram em hillary Clinton uma personagem<br />
política mais familiar do que Barack obama, o filho<br />
de imigrantes radicado no havai e formado em<br />
harvard. No entanto, conseguiu ganhar a simpatia<br />
dos hispânicos mais jovens que relacionam o nome<br />
Clinton com a velha mentalidade americana – o<br />
clássico conflito geracional no seio de uma minoria<br />
que se diferencia rapidamente.<br />
As eleições lançam para a ribalta um dos momentos<br />
históricos ainda em aberto nos EUA; um momento<br />
sobre o qual os candidatos têm visões políticas diferentes,<br />
seja qual for a cor de pele. A melodia e o ritmo<br />
da campanha eleitoral de hillary Clinton<br />
são claramente hispanizados, enquanto Barack obama<br />
projecta a imagem do visionário intelectual. No<br />
entanto, ambos sabem que, pelo menos por agora, o<br />
futuro dos EUA depende do Sudoeste do país.<br />
* Transatlantic Fellow do German Marshall Fund e Visiting Scholar<br />
na Universidade de Georgetown, em Washington DC<br />
http://www.gmfus.org/experts/espert.cfm?id=48<br />
Traduzido do alemão por Luís Nunes<br />
<strong>Paralelo</strong> n. o 2 | PRIMAVERA | VERÃO 2008 29